Mais uma vez a China liderou as importações de produtos agropecuários brasileiros, com US$ 22,07 bilhões em 2014, deixando bem para trás o segundo lugar, Estados Unidos, com US$ 7 bilhões. Os países asiático e norte-americano foram seguidos pelos Países Baixos (US$ 6,13 bilhões), Rússia (US$ 3,65 bilhões) e Alemanha (US$ 3,48 bilhões). Juntas, as cinco nações contabilizaram US$ 42,32 bilhões, o que significou 43,7% do valor total importado. Os dados são do Sistema de Estatísticas de Comércio Exterior do Agronegócio Brasileiro (AgroStat).
O complexo soja se destacou nas negociações brasileiras com os chineses, ao somar de US$ 17,01 bilhões, sendo que US$ 16,62 bilhões foram de soja em grãos. O segundo item da balança comercial mais importado foram os produtos florestais, com US$ 1,89 bilhão; seguido pelo setor de celulose, com US$ 1,71 bilhão.
De acordo com o diretor da Sociedade Nacional de Agricultura Hélio Sirimarco, com uma colheita recorde, o Brasil liderou o fornecimento de soja para a China em 2014, apesar de um forte aumento dos embarques do produto norte-americano para o país asiático.
“Em 2013, quando os Estados Unidos ainda sofriam o impacto de uma safra menor pelo tempo adverso na temporada 2012/13, o Brasil já havia liderado o mercado global de soja. A China, maior importador global de soja, comprou 71.4 milhões de toneladas em 2014, sendo 32 milhões de toneladas do Brasil, um aumento de 0,60% em relação a 2013, e 30 milhões dos EUA, um aumento de 35% na comparação com o ano anterior”, cita o diretor.
Conforme Sirimarco, na comparação anual, a China elevou suas importações de todas as origens em 12,6% em 2014 em relação ao ano anterior. “Na safra 2014/15, após uma safra recorde superior a 100 milhões de toneladas, os EUA deverão voltar a ser os maiores exportadores globais de soja.”
AVALIAÇÃO
“A China é a maior importadora de produtos agrícolas do Brasil, especialmente soja, em função da sua demanda interna de aves e suínos, grandes consumidores de ração. A sua indústria processadora de soja é a maior do mundo”, salienta.
“Os chineses normalmente aumentam o ritmo de esmagamento da soja, no final do ano, o que motiva um aumento das importações. No entanto, em 2014, esse incremento das compras foi estimulado também pelos preços mais baratos da soja nos Estados Unidos, que registraram as menores cotações em quatro anos e meio em outubro do ano passado”, explica o diretor da SNA.
Sirimarco ainda ressalta que a capacidade de processamento de soja da China foi ampliada, algo entre 53% e 57% para 70 a 90%. “Certamente, irá demandar mais soja importada. Como se não bastasse, a China é ainda o único país com capacidade de portos para receber esse produto exportado pelos principais produtores. A demanda chinesa se mostra muito forte por conta dos preços globais mais pressionados, que resultam em melhores e positivas margens de esmagamento”, avalia.
Coordenadora da Assessoria Técnica da Federação de Agricultura do Estado de Minas Gerais (Sistema Faemg), Aline Veloso ressalta que, em 2014, vários parceiros comerciais do Brasil diminuíram suas demandas por produtos brasileiros, fazendo com que a balança do País finalizasse o ano em déficit.
Segundo Aline, a China, mesmo com “menor apetite”, segue se fortalecendo como o principal parceiro comercial de Minas Gerais “e para lá exportamos produtos do complexo soja, açúcar, carne de frango, café, celulose, couro, dentre outros”.
“Os EUA têm ampliado pouco a pouco sua participação na importação dos nossos produtos, mas ainda precisamos estreitar mais as relações para ampliação de exportações do agro, aproveitando as expectativas de aquecimento daquela economia”, ressalta Aline.
Gerente de Assuntos Técnicos e Econômicos da Federação de Agricultura e Pecuária do Estado de Goiás, Edson Novaes também destaca que a China foi a maior importadora e maior exportadora do Brasil em 2014.
“Comprou do Brasil US$ 40,6 bilhões, sendo US$ 22 bilhões no agronegócio. Somente o complexo soja representou mais de US$ 17 bilhões nas exportações. Vendeu para o Brasil US$ 37,3 bilhões. Então, nossa balança é positiva em mais de US$ 3 bilhões. Em 2013, com a quebra da safra norte-americana, o Brasil foi o grande mercado de soja para a China, conseguindo angariar parte do mercado que os EUA não atendiam”, lembra Novaes.
De acordo com o gerente da Faeg, a China é a maior compradora de commodities do mundo na atualidade, sendo a soja o carro chefe deste segmento. “E o Brasil é o maior player do mercado mundial depois dos EUA. Com avanço da tecnologia, temos condições de suprir não só a China como inúmeros outros países de soja, milho, carnes, leite e uma vasta gama de outros produtos.”
PERSPECTIVAS PARA 2015
Na contramão dos demais setores produtivos, a expectativa para 2015 é de, pelo menos, manter este desempenho, consolidando alguns segmentos e recuperando outros, espera a coordenadora da Faemg.
“A abertura de novos mercados e o incremento de relações com clientes tradicionais pode favorecer os produtos mineiros, principalmente na pecuária. Uma incógnita é o câmbio, que está bastante favorável às exportações, mas pode comprometer a balança em função da necessidade de importação de insumos (agroquímicos, medicamentos, fertilizantes, maquinário). E é importante lembrar que não adianta apenas ter um câmbio favorável, é preciso mercado para poder vender e o cenário ainda é de desaquecimento da economia global”, salienta Aline.
Para o diretor da SNA, as projeções indicam que a produção agropecuária brasileira deve continuar crescendo em 2015, assim como a demanda da China e Índia, embora a taxas menores.
“Há crescimento mais robusto vindo dos EUA e Reino Unido, importantes parceiros comerciais do Brasil. Há também expectativas de que o real continue se desvalorizando. Deve haver um novo aumento dos embarques do complexo da soja, mesmo que os preços se mantenham em patamares inferiores aos de 2014”, pontua Sirimarco.
Em sua opinião, o setor sucroalcooleiro deve ter alguma recuperação em relação ao ano anterior; e os setores de carne, café e suco de laranja também podem se favorecer de preços mais elevados.
“Sendo assim, há fundamentos para que o cenário seja positivo para as exportações agropecuárias brasileiras neste ano, com espaço para recuperação das perdas ocorridas em 2014. Por outro lado, ponderam que a queda dos preços do petróleo, que já tem dificultado as importações dos produtos brasileiros por parceiros relevantes como Rússia e Venezuela, e problemas econômicos generalizados da Argentina e Egito podem limitar a comercialização com esses países. Paralelamente, deve ser levado em conta que eventos climáticos podem comprometer parte da produção agropecuária.”
Por equipe SNA/RJ