O mercado de soja tenta usar a perspectiva de clima seco no Brasil para melhorar a base de negociações e diminuir algo descrito com “a maior ansiedade da última década” em função dos preços das commodities. A constatação é de reportagem do Portal Agriculture.com assinada pelo correspondente Luís Vieira.
Depois de crescer 28 cents no início da semana passada, o mercado de soja despencou novamente na quarta, fazendo os investidores pensarem por quanto tempo as prospecções sobre clima no Brasil devem perdurar. Uma vez que safras recorde são esperadas para todos os países que são grande produtores da oleaginosa, comportamentos recentes do clima em algumas partes do Brasil podem trazer a tão necessitada pressão altista ao mercado.
Além disso, uma situação de calamidade pública parece iminente em estados como São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro com um racionamento de água já em andamento. E o clima seco também afetou estados significativamente produtores como Goiás e Bahia.
A Agroconsult revisou sua projeção de soja para 2015 para 93,9 milhões de toneladas, ante 94.6 milhões de toneladas em relatório anterior. Alguns analistas também dizem que o próximo relatório da Conab deve trazer uma revisão também.
Na semana passada, o anexo do USDA no Brasil colocou uma produção de 93 milhões de toneladas de soja para o país, acima da projeção de Novembro (92 milhões de toneladas).
A seca no estado de Goiás deve gerar perdas de pelo menos 6% da produção ou 1,4 milhão de toneladas, segundo uma projeção da Federação de Agricultura e Pecuária do estado (Faeg). Alguns locais chegaram a ficar mais de 40 dias sem chuva.
“A seca em Goiás foi generalizada. Podemos excluir só o Norte… Mas todas as regiões produtoras do estado ficaram entre 20 e 25 dias sem chuva em Janeiro”, diz Cristiano Palavro, agrônomo da Faeg.
É o segundo ano consecutivo que Goiás enfrenta seca em áreas de soja. Mas a produtividade neste ano deve ser ainda menor e não deve superar 50 sacas por hectare.
O consultor americano Kory Melby, residente de Goiás, diz que a precipitação de Janeiro foi apenas 10% do volume normal de chuvas, mas pontuou que chuvas estão previstas para Fevereiro. “A colheita deve entrar em marcha rápida agora. O grande volume deve ser colhido dentro de 30 dias. A produtividade tem sido errática até agora e agora precisamos de água”, informou Melby.
Uma vítima da seca em anos anterior, Flávio Augusto Negrão plantou cinco mil hectares de soja este ano. Deve perder cerca de 30% da produção. Algumas partes da propriedade dele não tiveram precipitação por mais de 30 dias.
“Tenho apenas 30% da lavoura segurada. Vendi a maior parte dos grãos antecipadamente. A parte restante deve ser vendida logo após a colheita”, reclama Negrão.
Os produtores do oeste da Bahia também não estão livres de pesadelos. O estado tem uma produção média de quatro milhões de toneladas, mas sua principal região produtora, o oeste, deve ter perdas significativas. Em Luís Eduardo Magalhães e arredores, não houve chuva do dia de Natal até 19 de Janeiro.
“Desde o dia 19, as chuvas se intensificaram, mas vamos perder de 15% a 20% da safra de soja. No caso do milho, devem chegar a 30%. E ainda os preços estão muito ruins”, revelou Raimundo Gregório, consultor em Luís Eduardo Magalhães.
No Mato Grosso do Sul, a colheita já alcançou mais de 5% dos 6,8 milhões de toneladas previstos, segundo a Federação de Agricultura e Pecuária do MS. O número será recorde e um aumento de 12,4% em relação a safra anterior. A produtividade subiu, mas nem todos os produtores estão contentes.
Fábio Franco, que planta 1,5 mil hectares de soja em Itaporã, ainda não começou a colheita. Só deve começar os trabalhos por volta de 20 de Fevereiro e reclama do padrão climático até agora. “Meus solos arenosos sofreram demais durante um período de 18 dias sem chuva. Acredito que ao começar a colheita os preços estarão ainda piores, mas serei obrigado a vender”, disse Franco.
Fonte: Agrolink