Setor bastante vulnerável à seca, a produção de leite no Brasil paga um preço alto pela escassez de chuvas, em um período que é conhecido pela precipitação pluviométrica de grande intensidade. E os prejuízos já são visíveis.
“Nunca passamos por crise parecida nos longos anos que exerço atividades nessa área”, declara o produtor e vice-presidente da Sociedade Nacional de Agricultura, Joel Naegele. “As cooperativas leiteiras e as indústrias particulares que beneficiam e industrializam o leite já se veem às voltas com uma produção bem menor, e ainda se assustam com a possibilidade real de dificuldades de terem água em volume suficiente para a higienização de seus equipamentos”.
Naegele afirma que os estados de Minas Gerais e Rio de Janeiro sofrem de maneira acentuada em uma época que sempre se caracterizou por pastagens abundantes e muita lama pelas estradas vicinais. “A queda da produção se faz notar em todas as bacias leiteiras, e o risco de faltar água já se torna pesadelo para os dirigentes de laticínios”, destaca o vice-presidente da SNA.
RACIONAMENTO
No Estado de Minas – o maior produtor de leite do país – as indústrias de laticínios estão investindo em programas de racionamento e reutilização da água. Em alguns casos, a água recebe tratamento quando captada a partir de córregos. Todos os esforços são feitos com a meta de afetar o mínimo da produção.
De acordo com o Sindicato da Indústria de Laticínios de Minas Gerais, o estado possui atualmente mais de 950 laticínios com faturamento total de R$ 20 bilhões. A cada ano, são produzidos nove bilhões de litros de leite – número que representa 25% da produção do país.
PERDAS
No Rio de Janeiro, fazendeiros de municípios abastecidos pelo rio Paraíba do Sul contabilizam suas perdas. Segundo informação de produtores locais, desde o final de 2014, o volume de leite obtido atinge 1.100 litros por dia; no entanto, a média normal é de 1.500 a 2 mil litros.
Dados da Federação da Agricultura, Pecuária e Pesca do Estado mostram que o Rio possui cerca de 56 mil produtores rurais, e que as áreas de leite e gado de corte são as mais prejudicadas pela seca. Em Campos dos Goytacazes, por exemplo – uma das cidades mais afetadas – as perdas no setor agropecuário chegam a R$ 100 milhões.
Para tentar minimizar o problema, a secretaria estadual de Agricultura lançou um programa que prevê a perfuração de poços para fornecer água às microbacias hidrográficas, fazendo com que o recurso chegue, de forma emergencial, aos produtores.
PREOCUPAÇÃO AMBIENTAL
De acordo com o vice-presidente da SNA, os prejuízos que se espalham pelo setor reforçam uma preocupação maior com os problemas ambientais de preservação das fontes de água. “Esses problemas sempre foram desprezados pela crença que agora morre, de que nunca passaríamos por contratempos dessa natureza”.
PRODUTOS MAIS CAROS
Naegele também chama a atenção para o agravamento do quadro atual, com “o encarecimento generalizado de todos os itens que fazem parte dos custos de produção”, e relaciona este fato à atual política econômica praticada pelo governo.
Equipe SNA/RJ