Se a queda nas cotações internacionais põe fim à lua-de-mel entre os agricultores e o mercado de soja e milho, a pecuária vive um ciclo inverso. Após enfrentar anos de retração – que resultaram no fechamento de empresas e na redução de planteis – o setor supera a instabilidade com custos controlados e equilíbrio de oferta e demanda. Com alta de dois dígitos em um ano nos preços, atividades como a suinocultura e a bovinocultura voltam a atrair investimentos e buscam uma retomada em 2015.
O boi encara a situação mais privilegiada, após um longo período de perda de área para a soja. Desde a década passada, a pecuária reduz as pastagens e, no caso do Paraná, também os planteis, com abate de fêmeas. O ajuste gerou escassez e o valor da arroba atingiu cotação recorde, próxima de R$ 140 no estado.
“Além do aperto na oferta, a exportação subiu muito no ano passado ampliando a pressão da demanda interna sobre os preços”, indica o zootecnista Paulo Rossi, coordenador do Laboratório de Pesquisas em Bovinocultura (LapBov), na Universidade Federal do Paraná (UFPR). Considerando apenas os embarques da proteína não processada (in natura), 2014 gerou receita recorde de US$ 5,73 bilhões (7% a mais que no ano anterior).
Como o apetite externo deve continuar intenso, as cotações vão se manter em um patamar elevado neste ano, aponta Aedson Pereira, analista de mercado da Informa Economics FNP. “O ciclo da pecuária é mais longo. Então, até reestruturar a oferta os preços deve continuar em alta”, explica. Os custos de reposição também aumentaram, então o ajuste vai levar tempo, salienta.
Os preços da carne bovina chegaram a patamares históricos em 2014 e continuam em alta. O boi gordo subiu 13,5% ante a média do ano passado, conforme monitoramento do Departamento de Economia Rural do Paraná (Deral). A reação do setor produtivo, em busca de animais para engorda, aparece na elevação da cotação da arroba boi magro, que foi de 14,1% no mesmo período.
Cotações indicam que mercado quer volume e qualidade
O quadro favorável à pecuária deixa os produtores otimistas. Em Candói (Centro-Sul do Paraná), o agropecuarista Gibran Araújo ainda tem na agricultura a principal fonte de renda, mas sente-se mais estimulado pelo resultado da pecuária. E interpreta a elevação das cotações como um indício de que o mercado quer não só volume, mas também qualidade.
“A expectativa é de que o ano seja bom, pois a demanda está aquecida”, avalia. Ele aposta no início das operações do frigorífico da Cooperaliança, que pretende iniciar neste ano a produção de cortes nobres em Guarapuava, na mesma região, para alcançar o mercado de Curitiba. “Estamos ampliando o rebanho anualmente”, revela.
A atuação em grupo busca estabilidade. “A cooperativa não nos deixa refém dos frigoríficos e garante uma boa remuneração”, acrescenta.
O setor deve buscar ganho de produtividade, aponta o analista da Informa Economics Aedson Pereira. A integração lavoura-pecuária vem crescendo, o que favorece uma retomada nas pastagens, considera.
No Paraná, regiões como o Arenito Caiuá (Noroeste) vêm apostando nesse modelo para ampliar a rentabilidade no campo. A aposta é de longo prazo, mas tem potencial, destaca Paulo Rossi, especialista do LapBov. “A demanda global por carne é crescente, e o Brasil é o país que pode ampliar a produção”, frisa.
Fonte: Gazeta do Povo