O uso de algodão pela indústria no Brasil deve alcançar em 2015 o menor nível em pelo menos 12 anos. Já em declínio em decorrência da tendência global de maior uso de fibras sintéticas, o consumo da pluma no país deve cair pelo segundo ano consecutivo, pressionado também pelas cotações mais baixas do petróleo, do qual deriva, por exemplo, o poliéster, o maior concorrente do algodão no mundo atualmente.
Nas contas da associação que representa a indústria têxtil brasileira (ABIT), o consumo da pluma natural deve ficar entre 700.000 e 800.000 toneladas este ano, perto do patamar de 2003, quando alcançou 800.000 toneladas.
Os preços do algodão estão em declínio, mas nada comparado ao mergulho das cotações do petróleo. Desde setembro de 2014, os futuros da pluma na bolsa de Nova York caíram 7,4% para o patamar de US$ 0,60 por libra-peso (contrato de segunda posição), segundo o Valor Data. Na mesma comparação, os preços do petróleo recuaram 48,8%, para os níveis de US$ 50,00 o barril (Brent).
Segundo estimativas do mercado, em média, o valor do poliéster equivale à metade do preço do algodão atualmente. Apesar do diferencial elevado, o diretor superintendente da ABIT, Fernando Pimentel, diz que a situação atual está longe de ser comparada ao que aconteceu em 2011, quando a libra-peso do algodão na bolsa de Nova York saiu do patamar de US$ 0,60 para US$ 2,00.
Naquela época, os preços internacionais do poliéster estavam superiores aos do algodão e, passaram a ficar 20% a 30% mais baixos por conta da escalada pluma em Nova York. Naquele momento, lembra Pimentel, houve uma forte substituição da pluma natural pela sintética. De 27 milhões de toneladas, o uso de algodão no mundo caiu para algo entre 24 milhões e 25 milhões de toneladas, observa.
De qualquer forma, diz, é difícil medir o impacto do barril do petróleo a US$ 50,00 na substituição de algodão por sintéticos. Na sua visão, os empresários do setor estão ainda observando até onde vão as cotações do petróleo. Se vão ficar nesses novos patamares ou se retração será efêmera.
Globalmente, o Brasil e outros países em desenvolvimento são espécies de “ilhas” no mercado mundial, onde o algodão já perdeu nos últimos anos muita participação para os sintéticos. A pluma natural representa 30% (25 milhões de toneladas) do total de 85 milhões de toneladas de fibras consumidas no mundo por ano. O poliéster abocanha uma fatia de 58%.
No Brasil, a relação é oposta. Os últimos dados da ABIT, referentes a 2013, mostram que do total de 1.458 milhão de toneladas de fibras consumidas pela indústria têxtil (algodão, poliamida, poliéster e acrílico) naquele ano, o algodão representou 887.000 toneladas (ou 60%), enquanto o poliéster representou 32%, ou 465.000 toneladas. No auge do consumo de algodão no Brasil, em 2010, a fibra natural representou 64%, e o poliéster, 29,6%.
“Mais do que um movimento de substituição de matéria-prima motivado por preços, o uso de poliéster no país nos últimos anos vem atender uma demanda da moda, do mercado feminino”, disse Pimentel.
O setor produtivo, que tem feito campanhas de marketing para divulgar a qualidade do algodão brasileiro no exterior, agora visa o mercado nacional. Os produtores de algodão devem neste ano começar uma nova campanha para atacar o que consideram o maior concorrente da fibra natural: a sintética. A Abrapa (que representa os cotonicultores) pretende lançar uma campanha publicitária para tentar reverter a queda persistente de uso do algodão no mercado interno, diz o presidente da entidade, José Carlos Jacobsen. “Queremos chegar ao consumidor final e também à indústria”.
O algodão brasileiro, afirma Jacobsen, conquistou seu espaço no exterior, mas o mercado interno representa a maior parte do consumo. Nesta safra 2014/15, o País deve colher 1.450 milhão de toneladas, das quais 700.000 devem ser exportadas, segundo a Associação Nacional dos Exportadores de Algodão (ANEA).
Fonte: Valor Econômico