O aumento nos impostos que passa a incidir sobre o diesel a partir de fevereiro vai significar uma alta entre 6,5% e 9% nos custos de produção de grãos no Brasil. O principal combustível da agricultura terá um reajuste de R$ 0,15 e deve levar os produtores a cortarem gastos dentro da porteira para a safra 2015/ 2016.
Segundo representantes do setor ouvidos pelo DCI, as perspectivas de margens mais baixas para as commodities não permitem que os agricultores repassem este custo adicional para o preço final do produto.
Um levantamento do Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea) mostra que, só no maior estado produtor de grãos, o prejuízo pode chegar a R$ 273,7 milhões para a soja e milho, sendo que 65% deste montante representa desembolso com escoamento, em função de um possível avanço de 2,7% no frete rodoviário.
Reflexos
“O produtor está em um beco sem saída e estamos muito preocupados com isso. Uma outra avaliação do Imea mostra que 26,9% do preço final da soja vai para transporte. No milho, esse percentual chega a 91,6%. Qualquer fato que aumente o frete afeta diretamente o agricultor”, afirma o gerente de relações institucionais da Associação dos Produtores de Soja e Milho do Estado de Mato Grosso (Aprosoja-MT), Frederico Azevedo. O executivo lembra que o aumento no diesel também reflete nos custos para transporte de fertilizantes e no abastecimento de máquinas e tratores para uso dentro da lavoura.
Para o diretor do Sindicato Rural de Rio Verde, em Goiás, Enio Jaime Fernandez, nesta e na próxima safra de grãos, o produtor está fadado a absorver o acréscimo de gastos. “Para transportar a produção desta temporada ele já vai pagar mais caro com o combustível. Muitos insumos da safrinha já estão comprados, inclusive parte da colheita está até comercializada por meio de contratos futuros”, diz.
Até mesmo o plantio da segunda safra será mais custoso, enfatiza Azevedo, por conta das máquinas no campo.
Nos estados que compõem o complexo Matopiba (Maranhão, Tocantins, Piauí e oeste da Bahia), Fernandez acredita que o prejuízo seja pior, pois parte das terras da região está em desenvolvimento produtivo, diferente do Centro-Oeste ou Sudeste que atua na manutenção. Sendo assim, o gasto com insumos, naturalmente maior, é acrescido pelo reajuste no combustível.
Cortes e ajustes
O gerente da Aprosoja-MT conta que, na impossibilidade de repassar estes custos, o produtor vai ter que cortar gastos dentro da porteira, no andamento da lavoura.
“O agricultor tem uma ‘gordura’ [renda] para arcar com as despesas atuais, mas vai ter que diminuir os investimentos ou despesas adicionais”, afirma Azevedo. O diretor do sindicato goiano acrescenta que, olhando para a safra 2015/2016, o planejamento deve ser mais ajustado.
Azevedo ressalta que o pacote de aumento de impostos anunciado pelo governo federal, que inclui alta no Imposto sobre Operações de Crédito, Câmbio e Seguros (IOF), desestimula o investimento em renovação no parque de máquinas agrícolas.
Em linhas gerais, a gestora da unidade econômica da Federação da Agricultura e Pecuária de Mato Grosso do Sul (Famasul), Adriane Mascarenhas, comenta que, a partir de agora, será necessário gerenciar melhor os custos da lavoura, uma vez que o agricultor não pode modificar a elevação no desembolso com produção.
“Considerando a baixa dos preços, este será um ano para ficarmos atentos ao mercado. Vender quando os valores estiverem um pouco mais altos, em picos de dólar. Comercializar toda a produção de uma só vez pode causar prejuízo”, diz o executivo da Aprosoja-MT.
Biodiesel
O óleo diesel conta com um percentual de 7% de biodiesel na mistura, porém, o assessor econômico da Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove), Leonardo Botelho Zilio, afirma que o reajuste não gera impacto, nem aumento de demanda, ao biocombustível, diferente do etanol hidratado que compete diretamente com a gasolina.
Fonte: Canal do Produtor