Por Jeffrey Frankel
Os preços do petróleo caíram 40% desde junho – e isso é boa notícia para os países importadores de petróleo, porém má notícia para a Rússia, Venezuela, Nigéria e outros países exportadores. Alguns atribuem a queda de preços ao boom da energia derivada do xisto nos Estados Unidos. Outros citam o fato de a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) não ter chegado a um acordo para reduções na oferta.
Mas essa não é a história toda. O preço do minério de ferro também está em baixa. O mesmo acontece com os preços do ouro, da prata e da platina. E também com os preços do açúcar, do algodão e da soja. Na realidade, em dólares, a maioria dos preços das commodities caiu desde o primeiro semestre do ano. Apesar de um leque de fatores setoriais específicos afetar o preço de cada commodity, o fato de as quedas nos preços serem tão amplas – como frequentemente ocorre em casos de grandes oscilações de preços – sugere que fatores macroeconômicos estão em jogo.
Então, quais fatores macroeconômicos podem estar pressionando os preços das commodities para baixo? Talvez seja a deflação. Mas, embora a inflação esteja muito baixa, e até mesmo negativa em alguns países, algo mais deve estar acontecendo, porque os preços das commodities estão caindo em relação ao nível geral de preços. Em outras palavras, os preços reais das commodities estão em queda.
Há algo de intuitivo na noção de que quando o banco central americano “imprime dinheiro”, o dinheiro flui para commodities, entre outros ativos, e de que essa demanda eleva seus preços. E que, portanto, os preços caem quando os juros sobem
A explicação mais comum é a desaceleração econômica mundial, que tem reduzido a demanda por energia, minerais e produtos agrícolas. Com efeito, o crescimento diminuiu e as previsões sobre PIBs nacionais foram revistas para menor, desde meados do ano, para a maioria dos países.
Os Estados Unidos são uma importante exceção. A expansão americana parece cada vez mais bem estabelecida, tendo seu crescimento anual sido estimado em mais de 4% durante os dois últimos trimestres. No entanto, é particularmente nos EUA que os preços das commodities têm caído. O Índice de Preços de Commodities da “The Economist”, denominados em euros, por exemplo, na realidade subiu, ao longo do ano passado; é apenas o índice baseado em dólares – o número que concentra todas as atenções – que está em queda.
Isso nos leva à política monetária, cuja importância como determinante dos preços das commodities é muitas vezes esquecida. Um aperto monetário é amplamente previsto para os EUA – a flexibilização quantitativa promovida pelo Fed (Federal Reserve, banco central dos EUA) terminou em outubro e o BC americano provavelmente elevará os juros de curto prazo em algum momento no próximo ano.
Isso lembra um padrão histórico familiar. Quedas nos juros reais (ajustados pela inflação) na década de 1970 e nos períodos 2002-2004 e 2007-2008 vieram acompanhadas por um aumento dos preços das commodities; fortes aumentos nas taxas de juros reais americanas na década de 1980 fizeram despencar os preços das commodities em dólares.
Há algo de intuitivo na noção de que quando o Fed “imprime dinheiro”, o dinheiro flui para commodities, entre outros ativos, e de que essa demanda eleva seus preços – e que, portanto, os preços caem quando os juros sobem. Mas, qual é, exatamente, o mecanismo causal?
Na realidade, existem quatro canais por meio dos quais a taxa de juros real afeta os preços das commodities (independentemente do efeito que os juros produzem por meio do nível de atividade econômica). Em primeiro lugar, juros elevados reduzem o preço das commodities armazenáveis, ao incrementar as vantagens de extrair hoje, em vez de amanhã, intensificando, assim, o ritmo como petróleo é extraído, ouro é tirado de minas ou árvores são abatidas em florestas. Em segundo lugar, juros altos também diminuem o desejo das empresas de manter estoques (leia-se: petróleo armazenado em tanques).
Em terceiro lugar, os gestores de carteiras de investimentos reagem a aumentos nas taxas de juro reduzindo sua exposição a contratos de commodities (que são agora uma “classe de ativos”) e investem em títulos do Tesouro. Finalmente, juros elevados fortalecem a moeda nacional, reduzindo, assim, o preço das commodities comercializadas internacionalmente em termos domésticos (mesmo que os preços não tenham caído quando expressos em moeda estrangeira).
As taxas de juro americanas na realidade não subiram em 2014, de modo que a maior parte desses mecanismos ainda não está se fazendo sentir diretamente. Mas os especuladores sempre tentam adivinhar o futuro e abandonam as commodities hoje devido a suas previsões de taxas de juro futuras mais elevadas em 2015; o resultado foi antecipar para hoje os aumentos de preços que ocorrerão no ano que vem.
O quarto canal, a taxa de câmbio, já está operando. A perspectiva de aperto monetário nos Estados Unidos coincide com a adoção de estímulos monetários por parte do Banco Central Europeu e do Banco do Japão. O resultado tem sido uma valorização do dólar em relação ao euro e ao iene. O euro está em queda de 8% em relação ao dólar desde o primeiro semestre do ano e o iene está em baixa de 14%. Isso explica como os preços de tantas commodities podem estar em baixa em dólares e em alta quando denominados em outras moedas. (Tradução de Sergio Blum)
* Jeffrey Frankel é professor de Formação de Capital e Crescimento na Universidade de Harvard. Copyright: Project Syndicate, 2014.
Fonte: Valor Econômico