A tecnologia denominada “polímero hidroretentor”, que está em processo de pesquisa na Universidade Federal de Lavras (UFLA), no Estado de Minas Gerais, é de fácil aplicabilidade e vem sendo confirmada sua eficácia em plantios de café tanto em lavouras de sequeiro como irrigadas. Trata-se de um gel, que adicionado às covas de plantio, na medida certa, serve como uma reserva de água em períodos de estiagem e também como condicionador de solo.
Já validados para a cultura do eucalipto, os resultados das pesquisas com o uso de polímeros na cafeicultura são muito promissores. Essa é a avaliação do professor Rubens José Guimarães, responsável pela pesquisa na Ufla, instituição integrante do Consórcio Pesquisa Café, coordenado pela Embrapa Café.
“Em consequência da má distribuição de chuvas que tem ocorrido na maioria das regiões cafeeiras, a tecnologia tem se mostrado opção eficiente, pois mantém a umidade do solo, evitando altos índices de replantio que elevam, consideravelmente, o custo de implantação de novas lavouras”, considera.
A linha de pesquisa é alicerçada na economia de água e na sustentabilidade, desafios que têm norteado os estudos na Universidade, especialmente em épocas de seca, como ocorreu este ano, sendo objetivo da pesquisa justamente amparar o cafeicultor com tecnologias que contribuam para o uso racional da água na agricultura. Desde que foram iniciados os estudos, em 2009, já foram publicadas quatro dissertações de mestrado e uma tese de doutorado confirmando a eficácia da tecnologia.
POTENCIAL PARA LAVOURAS DE SEQUEIRO
Pesquisas anteriores já haviam concluído que a utilização do polímero hidratado na implantação de lavouras cafeeiras interfere positivamente no crescimento das plantas em campo, sendo a melhor dose de aplicação o volume de 1,5 litros por cova da solução composta por 1,5 quilos do polímero diluídos em 400 litros de água.
Com essa dose, o cafeicultor gastaria em torno de 28 quilos de polímero para o plantio de um hectare com cerca de cinco mil plantas. Tecnologia também se mostrou economicamente viável, já que o produto no mercado gira em torno de R$15,00 o quilo. Além de o polímero reduzir a necessidade de replantio, garante maior crescimento das plantas. Esse investimento deve ser avaliado levando-se em consideração que a implantação de novas lavouras está vinculada às condições climáticas, sendo fator determinante para o sucesso do plantio.
VANTAGENS PARA LAVOURAS IRRIGADAS
A tecnologia que já era atraente para as lavouras de sequeiro agora começa a chamar a atenção dos cafeicultores de lavouras irrigadas. A tese defendida pelo pesquisador Antônio Jackson de Jesus Souza, atualmente em pós-doutoramento com bolsa do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia do Café (INCT – Café), confirmou a eficácia do polímero em solos de diferentes texturas, promovendo maior crescimento de cafeeiros e potencializando o uso da irrigação em cafeeiros irrigados.
Os resultados dessa pesquisa confirmaram que o uso de polímeros otimiza a disponibilidade de água à planta, reduzindo as perdas de água em percolação e lixiviação de nutrientes e ainda na melhoria da aeração e drenagem do solo.
No caso de lavouras irrigadas, o polímero pode reduzir o consumo de água, sugerindo uma nova metodologia de aplicação, ainda em estudo. Novas pesquisas deverão ser iniciadas em lavouras da Bahia, para avaliação da tecnologia em solos arenosos.
“O polímero permite a reposição de água no solo ou turnos de rega, de forma mais espaçada, sem que as plantas apresentem sintomas de estresse hídrico”, considerou.
Quanto à facilidade que as plantas têm de extrair do polímero a água necessária para sua sobrevivência, Antônio Jackson conta que em suas avaliações foram visualizadas raízes aderidas aos grânulos do polímero hidratado, promovendo maior superfície de contato entre as raízes, água e nutrientes. Ele comenta ainda que foram observados resíduos do produto mesmo depois de um ano do plantio.
PESQUISA EM DESENVOLVIMENTO
Embora promissora, nem todos os estudos com o uso do polímero na implantação da lavoura de café tiveram resultados significativos.
A pesquisa segue em rede, envolvendo abordagens em diferentes áreas do conhecimento, para oferecer ao cafeicultor a melhor metodologia de aplicação e as doses ideais para diferentes tipos de solo e condições das lavouras.
Um dos desafios futuros é identificar um protocolo de uso que seja capaz de ampliar o período de plantio, facilitando a tomada de decisão do cafeicultor. Também estão sendo quantificados os efeitos do seu uso na redução de perdas no campo, condicionamento do solo e estrutura da planta.
Fonte: Embrapa