A ocorrência de um El Niño fraco e o aumento da área da área plantada deverão levar o Brasil a uma colheita recorde de soja em 2014/15 de 95,1 milhões de toneladas, enquanto o cenário de ampla oferta deverá reduzir drasticamente a rentabilidade dos produtores, previu nesta segunda-feira a Agroconsult em teleconferência com a imprensa.
A área destinada à oleaginosa deverá atingir 31,6 milhões de hectares no plantio que começa em poucas semanas, em uma estimativa considerada “bastante consolidada”, representando um crescimento de 5 por cento ante 2013/14, projetou a consultoria.
Na temporada anterior, a produção atingiu a marca histórica de 87,8 milhões de toneladas, apesar do impacto da seca em Estados como o Paraná, disse a Agroconsult.
“Anos de El Niño são anos em que a produtividade está muito próxima dos recordes de produtividade alcançados”, disse o analista Marcos Rubin, ao mostrar cruzamento de dados históricos de produção e ocorrência do fenômeno climático provocado pelo aquecimento da superfície do oceano Pacífico, que provoca aumento das chuvas de verão no Brasil, especialmente no Sul.
Os modelos climáticos sugerem 55 a 60 por cento de probabilidade de condições de El Niño entre setembro e novembro, chegando a até 70 por cento entre novembro e fevereiro, mas um evento fraco parece mais provável, disse nesta segunda-feira a Organização Meteorológica Mundial.
A ampla colheita no Brasil deverá se combinar a uma safra cheia na Argentina e uma produção recorde nos Estados Unidos, elevando os estoques globais.
Os estoques de passagem –estimados pela Agroconsult para o mês de fevereiro– deverão atingir 56 milhões de toneladas em 2014/15, contra 38 milhões em 2013/14 e 28 milhões em 2012/13 (menor volume pelo menos desde 2009/10).
A relação entre estoques e uso no mundo deverá saltar para 30 por cento em 2014/15, ante 24 por cento em 2013/14.
Nesse cenário, os preços de referência da soja na bolsa de Chicago deverão ficar na média de 11 dólares por bushel em 2014/15. Atualmente, o contrato de referência da nova safra norte-americana, que começa a ser colhida em poucas semanas, está sendo negociado pouco acima de 10 dólares.
“Na Argentina, o produtor já não está vendendo. E aqui no Brasil também vai haver uma resistência muito grande dos produtores a vender a patamares muito abaixo de 11 dólares por bushel. Os preços podem buscar esses patamares (10 dólares), mas não irão se manter por muito tempo”, disse Rubin. “A resistência do produtor será um importante fundamento do mercado no próximo ano.”
Na estimativa da Agroconsult, o patamar de 11 dólares ainda oferece rentabilidade à maioria dos produtores, mesmo que reduzida.
Tomando-se como base o polo agrícola de Sorriso, no médio-norte de Mato Grosso, a rentabilidade de um hectare de soja deverá cair para 432 reais em 2014/15, contra 713 reais em 2013/14, sem incluir custos de arrendamento.
“Se a safra for comercializada a 9,5 dólares por bushel, ainda haverá uma rentabilidade”, disse o analista.
MILHO
A situação deverá provocar um avanço cada vez maior da soja sobre áreas que usualmente recebiam milho no verão.
A área destinada ao cereal deverá cair de 6,6 milhões de hectares em 13/14 para 6,2 milhões em 14/15. A colheita será reduzida de 29,8 milhões de toneladas para 29,2 milhões.
Fonte: Reuters