A redução do volume de recursos hídricos no planeta já se tornou realidade. Diante da necessidade de uma produção maior de alimentos nas próximas décadas, em razão do aumento da demanda e do crescimento populacional, a escassez de água poderá representar um grande problema para o setor agrícola.
“Precisamos, com urgência, de uma política de uso racional da água, sob pena de vermos reduzida nossa produtividade agrícola por conta dessa escassez”, observa o diretor da SNA Alberto Figueiredo.
Segundo ele, as campanhas que os governos realizam para incentivar a economia de água sempre vêm acompanhadas de discursos baseados na falta de chuva. Na opinião do diretor da SNA, “o que interessa, na verdade, é a proteção das nascentes para que elas possam continuar a produzir água. E a melhor dessas proteções é a mata constituída de árvores nativas”, destaca.
Figueiredo lembra que o crescente desmatamento das encostas faz com que a água da chuva, ao invés de se infiltrar na terra e reabastecer as nascentes, escorre pela superfície, provocando erosão, o assoreamento de rios e, de quebra, a inundação com lama nas casas.
“Sem infiltração e sem proteção, as nascentes secam, os riachos deixam de ter contribuição, também secam e, por consequência, os rios diminuem suas respectivas vazões. Diante desse quadro, a chuva, longe de ser uma solução, passa a ser problema”, adverte.
Na contramão do “discurso equivocado da falta de chuva”, o diretor da SNA acredita que “o correto seria uma análise séria e técnica das diversas bacias hidrográficas, de modo a definir que medidas seriam indicadas para a recomposição florestal de proteção das encostas e nas proximidades das nascentes”.
ATRASO
Quanto aos sistemas de irrigação com a utilização racional da água, Figueiredo admite que o Brasil está bastante atrasado nessa questão.
“A legislação ambiental já impõe sérias restrições à aprovação de projetos de irrigação. Nesse aspecto, comparando com Israel, por exemplo, estamos anos luz atrás.”
O diretor da SNA assinala que uma das estratégias eficientes seria armazenar água da chuva em épocas de abundância. Além disso, segundo ele, “os sistemas de gotejamento e injeção sob o solo podem levar a água a pontos certos e na quantidade certa para a cultura que está sendo irrigada”, afirma, acrescentando que o país ainda utiliza métodos de irrigação, “como é o caso do sistema de pivô central”, que consomem muita água e provocam desperdício.
LEGISLAÇÃO
Além das possíveis saídas sustentáveis, Figueiredo defende uma legislação mais rígida para disciplinar o uso racional da água e pede que seja colocado em prática o capítulo do novo Código Florestal relativo ao pagamento por serviços ambientais. Neste caso, a lei permite uma recompensa financeira aos proprietários de terras que adotarem práticas de conservação do solo e da água, inclusive em áreas de preservação permanente.
Para o diretor da SNA, tudo se resume à vontade política e à capacitação para cargos adequados. “O que não pode é continuarmos a assistir, pela televisão, dirigentes de empresas de água e de barragens hidrelétricas olhando para o céu para ver se há nuvens de chuva”, finaliza.
Por equipe SNA/RJ