O escândalo da venda de carne de frango estragada pela Shanghai Husi Food, subsidiária da companhia americana OSI Group na China, pode abrir uma janela de oportunidade para os frigoríficos brasileiros acessarem o mercado de carne de frango processada do Japão.
Até o problema surgir, na semana passada, a China representava 50% das importações japonesas, mas o escândalo alterou a política de compras de clientes como o McDonald’s do Japão. Na terça, a presidente do McDonald’s do Japão, Sarah Casanova, disse, segundo o site NHK World, que a empresa estuda comprar carne de frango processada do Brasil.
Ela afirmou que a suspensão de importações da China já provocou problemas de abastecimento na rede de fast-food, levando à retirada de dois produtos do cardápio do restaurante por conta da dificuldade de obter volumes suficientes. Assim, o Brasil poderia ajudar o McDonald’s a abastecer seus estoques de carne de frango processada, segundo ela.
A sinalização do rede de fast food foi bem recebida pela indústria brasileira, que assegura ter capacidade para atender à demanda. “O Brasil está preparado. Aliás, vai ao encontro da nossa intenção de aumentar a exportação de produtos de maior valor agregado”, afirmou ao Valor o vice-presidente de aves da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), Ricardo Santin.
Hoje, 90% das importações de carne de frango in natura do Japão são provenientes do Brasil, mas o país é pouco representativo no fornecimento de carne processada ao parceiro asiático, disse Santin. Devido à proximidade, China e Tailândia são os fornecedores preferenciais dos japoneses. Em 2013, os dois países venderam, cada um, cerca de 210 mil toneladas de carne de frango processada ao Japão, segundo dados da ABPA. O Brasil forneceu só 2,5 mil toneladas.
Com a suspensão de compras de carne de frango da China anunciada pelo McDonald’s – e, eventualmente, de outros importadores -, o Brasil pode ganhar espaço no Japão, uma vez que a Tailândia não é capaz de fornecer todo o volume antes fornecido pela China. Num cálculo preliminar, considerando um preço médio de exportação de US$ 3,5 mil por tonelada, conforme Santin, o Brasil poderia obter mais de US$ 700 milhões se abocanhasse toda a fatia que a China vende para o Japão.
Atingir esse montante, porém, é uma tarefa difícil para o Brasil porque outros fornecedores, como a Tailândia, podem ganhar mercado ou porque o Japão não proibiu todas as importações da China.
O escândalo levou o OSI Group a fazer uma reestruturação na subsidiária chinesa. A partir de agora as operações no país serão parte do guarda-chuva da OSI International, diretamente incorporadas na organização, em vez de operar de forma separada. A nova organização vai se chamar OSI International China.
Também haverá mudança de pessoal. “A equipe de liderança da OSI International China vai incluir pessoas com experiência ao redor do mundo para assegurar a plena conformidade com os padrões de classe mundial do Grupo OSI para qualidade. Eles irão complementar nossa equipe existente na China para focar nas operações, na garantia de qualidade, em conformidade e auditoria”, afirmou o presidente e CEO do OSI Group, David McDonald, em nota.
Fonte: Valor Econômico