A agroindústria está cada vez mais tendo peso na economia do Brasil, apresentando diversos indicadores positivos: mais de 20% do PIB e 32% das exportações. O bom desempenho do setor agro também gera fortes reflexos no mercado de trabalho, sendo que hoje já representa 35% do emprego no país. Por um lado, o crescimento da agricultura amplia a demanda por mão de obra não qualificada, que infelizmente o país tem de sobra, como trabalhadores rurais. São homens e mulheres que trabalham em atividades de plantio, colheita e tratos culturais no campo, que podem requerer mais ou menos especialização. Por outro lado, o desenvolvimento da agricultura e suas cadeias agroindustriais, cada vez mais complexas e baseadas em tecnologias, requerem um grande número de pessoas qualificadas.
Já foi se o tempo em que os agricultores eram pessoas de pouca educação formal e com baixo acesso a informações. Filhos de agricultores vão para faculdades e somam o conhecimento adquirido na experiência familiar com aquele obtido na academia. Além disso, as atividades exercidas por trabalhadores rurais – que antes eram exercidas por pessoal tipicamente não especializado – hoje em muitos casos exigem treinamento e formação específica. Isso porque tais atividades incluem o uso e manutenção de maquinário sofisticado – uma colheitadeira das mais modernas pode custar até 500 mil reais – e, assim, é preciso pessoas qualificadas para operá-lo. A migração da colheita de cana-de-açúcar manual para a mecanizada, com suporte para recolocação profissional dos cortadores, é um bom exemplo.
Apesar da crescente qualificação da mão de obra agrícola, ainda há muito por fazer, dado que persiste uma diferença significativa de nível educacional entre trabalhadores rurais e nãorurais, e entre a população rural e a urbana em geral. A boa noticia é que o crescimento dos anos de estudo tem sido mais acentuado nos trabalhadores rurais (e também entre os outros tipos de trabalhadores nas empresas agro) do que nos demais setores. Além do crescimento da educação básica, o ensino superior também tem avançado consideravelmente na agricultura.
São diversas as formações superiores disponíveis para capacitar jovens a entrar no mercado de trabalho agro. Além do tradicional curso de agronomia, existem muitos outros cursos superiores desenhados para atender esse mercado, como administração rural e de agroindústria, diversos cursos de processamento de alimentos (como ciência de laticínios e tecnologia em açúcar e álcool), zootecnia, e engenharia de pesca. Em 2001, eram 363 cursos diretamente ligados ao agro e em 2009, esse numero chegou a 962. Foram quase 600 novos cursos, o que representa aumento de 265%, acompanhando a tendência de forte crescimento do ensino superior no país na última década.
Em termos de número de estudantes matriculados, mais de 150 mil pessoas estão buscando formação na área agrícola, o que representa 3% do total de matrículas do Brasil. Em 2009, pouco mais de 22 mil alunos concluíram o ensino superior em áreas agro e foram prontamente absorvidos pelo mercado. A maior parte dos estudantes está em instituições públicas, mas o crescimento das faculdades privadas tem sido maior que os da pública. O aumento nas matrículas e cursos agro também é mais acentuado nas regiões Centro Oeste e Nordeste, dado a relativa falta de universidades e faculdades somado ao fato de serem áreas de fronteira agrícola.
Outra tendência no ensino superior brasileiro é a crescente participação dos cursos de graduação a distância. Baseados em plataforma online, esses cursos possibilitam que pessoas possam obter educação formal mesmo quando não há faculdades na sua região, em horários e dias flexíveis, entre outros benefícios bastante significativos para a população rural. Já são quase dois mil alunos matriculados em cursos de graduação a distância na área agro, com destaques para os cursos de tecnologia em agronegócio e tecnologia em açúcar e álcool.
As atividades das propriedades agrícolas são hoje muito complexas e requerem capacidades variadas. Os funcionários das fazendas ou prestadores de serviço precisam gerenciar compra de insumos e venda do produto, manejar os recursos naturais (água, solo, vegetação nativa), assegurar infraestrutura e condições de trabalho seguindo as rígidas exigências do Ministério do Trabalho, mapear a propriedade de forma georreferenciada, executar processos de seleção e qualidade pós-colheita. A lista é realmente enorme e depende muito do tipo de produto cultivado e da escala da produção, e isso apenas no universo de “dentro da porteira”.
As cadeias agroindustriais também estão mais sofisticadas e por isso exigentes de profissionais altamente capacitados. Isso inclui as diversas indústrias produtoras de insumos, os processadores e transportadores, e toda uma gama de serviços – bancos, seguradoras, corretoras, tecnologia da informação, comunicação e marketing. Trabalham no setor agro, então, engenheiros dos mais diversos tipos, administradores, economistas, biólogos, geógrafos, gestores ambientais e jornalistas.
O perfil do moderno agricultor brasileiro é muito diferente do que a população urbana imagina. E tudo indica que cada vez mais teremos agricultores capacitados e com características empreendedoras. A idade média do agricultor no Brasil é 42 anos, enquanto nos Estados Unidos são 60 e na Europa 70 anos. Diferentemente de várias partes do mundo, a agricultura brasileira atrai os jovens, dado o dinamismo do setor e as incríveis oportunidades e perspectivas que se apresentam para esse setor.
Fonte: Rede Agro