O Instituto Agronômico de Campinas (IAC) completou, na quinta-feira, 26 de junho, 127 anos. Para comemora a data, foi realizado, em sua sede, o seminário “Transferência de Tecnologia e Inovação para a Sustentabilidade da Agricultura Brasileira”, sob o tema “inovação”, considerada fundamental para o desenvolvimento da competitividade de um país, por envolver o desenvolvimento de um produto, processo ou serviço que precisa, necessariamente, ser usado pelo setor de produção.
Sérgio Augusto Carbonell, diretor geral da instituição, da Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios (APTA) acentua que, hoje, “o Agronômico não gera somente pesquisa, ele busca incessantemente a inovação. Hoje, não estamos só trabalhando para adquirir quilos por hectare, mas sim por qualidade por hectare e, através de nossos produtos levar o bem estar à população. Nosso objetivo é buscar inovação com qualidade”.
Carbonell destaca a importância e o trabalho dos profissionais que integram a equipe do IAC, que, atualmente, conta com mais de 160 pesquisadores, todos com nível de doutorado e reconhecimento internacional por seu trabalho.
“É uma equipe forte. Também o pessoal de apoio, tanto administrativo quanto de campo, é muito qualificado para pesquisa científica e tecnológica”, acentua.
Por outro lado, o diretor geral destaca a necessidade de apoio para fortalecer essas ações e atividades para inovação.
“Precisamos colocar gente nova, com novas idéias, novas propostas para o crescimento. Essa é a nossa necessidade mais urgente, renovação de quadros. Mas temos, sim, um quadro excelente, tanto que lançamos, a todo momento, cultivares e inovações em termos de produção”, diz ele.
UMA CULTIVAR A CADA 20 DIAS
Em 127 anos de trabalho ininterrupto, o Instituto Agronômico chega em 2014 a 1008 cultivares de plantas desenvolvidas, de 96 espécies. Outras 13 cultivares estão em processo de registro. Neste último ano, então, foram desenvolvidas 21 novas. Há também 11 patentes como titular e mais quatro em co-titularidade com outras instituições, além de um registro de software.
Segundo Mônika Bergamaschi, secretária de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, o Instituto Agronômico, reafirma sua posição de vanguarda e pioneirismo.
“Fundado em 1887 por D. Pedro II, como Imperial Estação Agronômica de Campinas, o IAC nasceu antes mesmo do que a própria Secretaria. É um dos pilares da Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios, a APTA, uma das maiores instituições públicas de pesquisa do País, com relevante contribuição na geração de ciência e transferência de tecnologia para o setor agropecuário. Nos últimos oitenta anos, entre 1932 e 2012, o IAC disponibilizou, em média, 12 cultivares por ano. Na última década, a produção foi ainda mais intensa, com média de 18,5 novas cultivares registradas por ano, sendo que, somente em 2012, foram 31. Nenhuma outra empresa de pesquisa pública estadual ou federal chegou perto dessa façanha: uma nova cultivar a cada vinte dias”, comemora a secretária.
Ao gerar e transferir novas cultivares de plantas e pacotes tecnológicos para o agronegócio paulista e brasileiro, o IAC vem cumprindo sua lição de casa há mais de um século, quando o termo inovação nem existia. Sérgio Carbonell lembra que o Agronômico não é somente uma história passada, mas uma história recente, “porque o que acontece aqui, no nosso dia a dia tem uma visão futura de inovação”. E cita alguns exemplos, destacando o café: “temos mais de 90% dos cafeeiros do Brasil com o sangue IAC, a mão do IAC está nessas lavouras”.
INOVAÇÃO
Destaca, também, os trabalhos com a cana.
“Lançamos, nos últimos 10 anos, mais de 20 cultivares e isso tem repercutido fortemente no mercado, buscando a produção de etanol de segunda geração.”
Outro exemplo de tecnologia adotada pelo setor sucroenergético é o Sistema de mudas pré-brotadas (MPB) de cana, uma tecnologia de multiplicação que contribui para a produção rápida de mudas e traz grande salto na qualidade fitossanitária, vigor e uniformidade de plantio. Através deste sistema o IAC mudou o conceito de plantar cana adotado há 500 anos. Com o MPB são economizadas 18 toneladas por hectare de cana no plantio. Isso significa que os materiais que seriam enterrados como mudas vão para a indústria produzir etanol e açúcar, gerando ganhos. Em uma conta simples, é possível constatar que 93,6 milhões de toneladas de cana seriam economizadas se todos os canaviais de São Paulo adotassem o sistema. Isso sem contar os ganhos de produtividade, que podem chegar a 40%.
Os clones de seringueira desenvolvidos ou selecionados pelo IAC, lembra Carbonell, estão em 95% dos 95 mil hectares plantados com a cultura em São Paulo – Estado responsável por 55% da borracha produzida no País. As pesquisas do Instituto têm influência direta na vida dos três mil heveicultores brasileiros e na das 19 mil pessoas empregadas diretamente na atividade. Nas últimas três décadas, o IAC desenvolveu 31 clones de seringueira. Os da série IAC 500, a mais recente, reduzem de sete para cinco anos o início da sangria e ainda são mais produtivos. O principal objetivo é desenvolver clones de seringueira adaptados às diferentes condições edafoclimáticas paulistas, com características de alto potencial de produção e vigor
Na área de alimentação, ele ressalta as cultivares de mandioca do IAC , como a de mesa, IAC 576-70, conhecida como “Amarelinha”, responde por 100% das 160 mil toneladas de mandioca de mesa comercializadas em São Paulo. A qualidade a faz chegar aos Estados de Mato Grosso do Sul, Paraná, Santa Catarina, Goiás e Distrito Federal. A IAC 12, para uso industrial, sustenta a produção no Cerrado brasileiro, graças à resistência à bacteriose, tolerância ao complexo de pragas, alta produtividade e teor de matéria seca.
Lembra, ainda, a forte contribuição do Agronômico, quando, na década de 70, lançou o Carioquinha, consumido hoje em todo o Brasil. “Hoje, á estamos na nona geração do tipo Carioca, um produto como maior qualidade, maior resistência a doenças e maior padrão de mercado. Isso facilita todo o processo de industrialização, de mercado, de qualidade, de consumo”. Destaca, também, alguns trabalhos do Agronômico que abriram mercados para vários segmentos, como o arroz IAC 600, o arroz preto que, hoje, é comercializado na região de Pindamonhangaba para alguns produtores e alguns importantes chefes de cozinha, o utilizam em receitas especiais.
ANÁLISE DE SOLO
Outro exemplo de inovação do Instituto Agronômico (IAC), de Campinas, está na atividade que contribui para mudar o perfil dos laboratórios privados que fazem análises de solos. A capacitação do setor por meio de transferência de tecnologia do IAC e da avaliação das atividades dos participantes do Ensaio de Proficiência IAC para Laboratórios de Análise de Solo para Fins Agrícolas são constatadas em números. A adoção é ampla: são 122 laboratórios participantes, sendo 82% privados. Há unidades de 13 Estados brasileiros, sendo 61% paulistas. Há também um laboratório do Paraguai. O Ensaio diferencia-se, sobretudo, por dois aspectos: a qualidade do método desenvolvido pelo IAC, pioneiro na área, e a constância do trabalho, somadas ao rigor na orientação e no acompanhamento dos laboratórios participantes. Em 2014, o trabalho completa três décadas, sem interrupção. Em 2013, foram feitas 1,3 milhão de análises básicas, por 70% dos participantes. Desse total, 57% foram feitos por laboratórios de São Paulo. O grupo fez ainda 517 mil análises de micronutrientes e 448 mil de granulometria.
Em 2013, clebrou-se a chegada à Cultivar Mil. Este ano, durante as comemorações dos 127 anos do IAC, foi lançada também a 7.ª edição revisada e atualizada do Boletim 200 – Instruções agrícolas para as principais culturas econômicas, usado por produtores rurais de todo o País. Na publicação são apresentadas recomendações técnicas para 114 culturas. Os cinco apêndices da obra apresentam noções gerais sobre solo, clima, critérios para calagem e adubação, defensivos agrícolas e técnicas de aplicação, práticas de conservação no solo e irrigação e drenagem.
PRÊMIO IAC 2014
Durante a cerimônia em comemoração aos 127 anos do Agronômico, foi entregue o Prêmio IAC. Na categoria Pesquisador Científico, o agraciado foi o pesquisador do Centro de Frutas do IAC, Maurilo Monteiro Terra. Na categoria Servidor de Apoio, Valéria Xavier Paula Garcia, do Centro de Citricultura “Sylvio Moreira” do IAC. O diretor administrativo da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP), Joaquim José de Camargo Engler, foi premiado na categoria Personalidade do Agronegócio e, Dorival Finotti, na categoria Produtor Rural.
A medalha Franz Wilhelm Dafert foi oferecida ao Centro de Engenharia e Automação do IAC, pelos seus 45 anos, ao Ensaio de Proficiência IAC para Laboratórios de Análise de Solo para Fins Agrícolas, pelas três décadas de atuação, ao Centro Integrado de Informações Agrometeorológicas (Ciiagro), que completa 25 anos, ao Programa Cana IAC, que completa 20 anos, e à Pós-Graduação IAC, que celebra 15 anos de fundação.
Por Equipe SNA/SP