Sharemilking é boa saída para falta de mão de obra

“O sharemilking também resolveria o problema atual da sucessão familiar no Brasil, já que os donos envelheceram e os filhos dos proprietários rurais, por causa da baixa lucratividade do setor, não têm demonstrado muito interesse em dar continuidade ao negócio da família”, diz o zootecnista Eric Gandhi Silveira
“O sharemilking resolveria o problema atual da sucessão familiar no Brasil”, diz o zootecnista Eric Gandhi Silveira

 

A cadeia leiteira, assim como os mais variados setores do agronegócio brasileiro, vem passando por uma série de transformações nos últimos anos. Com o aumento da produção agropecuária, a cada ano que passa, aparecem algumas dificuldades e uma delas, concordam os especialistas, está na captação de mão de obra para trabalhar no campo.

O Brasil, que é o quarto maior produtor de leite do mundo, precisa investir e capacitar seus profissionais se quiser manter – ou até mesmo elevar – sua produção de 33 bilhões de litros de leite ao ano. Para sanar o déficit de mão de obra, proprietários rurais têm investido na mecanização agrícola, como o uso de robôs para a ordenha de vacas leiteiras.

Para quem não dispõe de recursos suficientes para investir em tecnologia, existem alternativas como o sharemilking, sugere o zootecnista Eric Gandhi Silveira, consultor da empresa Alcance Consultoria e Planejamento Rural, produtor e criador das raças Gir Leiteiro e Girolando, em Pirapora (MG). O objetivo do sistema é promover parcerias na produção e gestão da propriedade rural da cadeia do leite. Ele explica: “Os donos das vacas leiteiras e da fazenda passam a administração do negócio para um profissional (o sharemilker), que tem participação na receita, conforme o contrato assinado”.

Silveira ressalta que o sistema pode oferecer novas oportunidades para os produtores inseridos na cadeia leiteira ou para aqueles interessados em participar do processo, mas que não têm dinheiro suficiente para investir.

“O sharemilking também resolveria o problema atual da sucessão familiar no Brasil, já que os donos envelheceram e os filhos dos proprietários rurais, por causa da baixa lucratividade do setor, não têm demonstrado muito interesse em dar continuidade ao negócio da família.”

 

EXEMPLO DE FORA

Para conhecer melhor como funciona o sharemilking, sistema criado e amparado por lei na Nova Zelândia, Silveira fez um treinamento de um ano em uma fazenda particular daquele país, a Beth Farm, no estado do Canterbury. Depois disso, ele permaneceu por mais 12 meses, quando percorreu mais seis fazendas, onde pôde observar o sistema neozelandês.

“Aos poucos, o sistema está sendo divulgado no Brasil, mas ainda não há registro de proprietários rurais que tenham aderido a ele. Isto porque, para assinar um contrato, é preciso ter honestidade na gestão e um pensamento de que, ao final do processo, ambas as partes vão lucrar.”

Na Nova Zelândia, explica o zootecnista, muitos universitários recém-formados têm assinado contratos como sharemilkers, oferecendo somente o serviço, a capacidade para trabalhar e os conhecimentos adquiridos nos cursos de graduação. Por isso, ele ressalta que o sistema é um bom começo para quem está em início de carreira e não dispõe de recursos para investir.

Na opinião dele, atualmente existe uma dificuldade no processo de financiamento para compra de terras.

“Você consegue crédito para comprar gado, máquinas, mas não para a compra de áreas rurais. O problema está relacionado aos maus gestores, que conseguem financiar, porém não investiram adequadamente. Além disso, falta motivação para os jovens, além da informação técnica e da capacitação profissional.”

 

SIS/SEBRAE

O novo método de gestão também vem sendo defendido pelo Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) como forma de resolver, principalmente, o problema da falta de mão de obra para a cadeira leiteira.

 

Quadro1_Sebrae

 

De acordo com relatório do Sistema de Inteligência Setorial (SIS) da entidade, aproximadamente 30% das vacas neozelandesas são ordenhadas pelo sharemilking, o que pode gerar aos sharemilkers um lucro de até 40% sobre o capital investido.

Assim como Silveira, o SIS/Sebrae alerta que, para o sucesso do negócio, é preciso “estabelecer uma relação de confiança, redigir um contrato bem feito e detalhado e considerar crucial a experiência do operador”.

 

TIPOS DE CONTRATOS

Existem diferentes cenários no sistema “sharemilker”. Segundo o zootecnista Eric Gandhi Silveira, as seguintes formas são as mais comuns:

CONTRACTMILKING

O sistema sharemilking pode variar conforme o capital do sharemilker. Pode variar conforme a capacidade de investimento a ser oferecida:

– Animais, máquinas e trabalho (mão de obra pessoal e/ou contratada);

– Máquinas e trabalho;

– Trabalho: um tipo de contrato pelo qual o gerente (sharemilker) tem participação na receita e assume maior responsabilidade na propriedade.

De acordo com ele, em cada um destes cenários, o sharemilker receberia uma parte diferente da receita do leite, normalmente entre 17% e 30%.

“Todas as formas podem criar trampolins para o ‘50:50 sharemilking’, o que pode realmente acontecer dentro de dois a quatro anos.”

50:50 SHAREMILKING

Neste cenário, a terra e a infraestrutura (como salas de ordenha, galpões casas e irrigação) são fornecidos pelo proprietário da fazenda e o “sharemilker” fornece todo o maquinário, veículos e animais.

Esta opção exige maior capital do “sharemilker” a ser investido, no entanto, ele recebe uma participação de 50 % da receita bruta do leite. Os custos são normalmente compartilhados e diferenciados conforme o contrato.

Silveira explica que o sharemilker também recebe toda a descendência do gado, que é um fator-chave para a capacidade de gerar riqueza deste modelo. O gerente, então, cresce e constrói patrimônio por meio da criação de vacas leiteiras que, por sua vez, podem ser vendidas ou internalizadas ao sistema.

 

Quadro2_Sebrae

 

AÇÕES RECOMENDADAS PELO SEBRAE

– Existem alguns cursos que podem ajudar os empreendedores que querem ter êxito no negócio do leite: “Aprender a Empreender’, “Iniciando um Pequeno e Grande Negócio”, “Microempreendedor Individual”.

Pelo Sistema Nacional de Aprendizagem Rural (Senar), o Sebrae indica os seguintes cursos: “Trabalhador Empreendedor”, “Negócio Certo Rural” e “Com licença, vou à luta”. Todos são gratuitos e à distância.

– Instituições como o Sebrae, Senar, Epagri (Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural), Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária), entre outras, podem servir de fonte de conhecimento para melhorar os resultados e garantir investimento acertado no setor leiteiro;

– Antes de implantar qualquer novidade em sua propriedade, procure informações, busque conhecimento, avalie se a fonte é desprovida de interesses e se é de uma instituição séria e de ampla experiência no setor;

O SIS/Sebrae possui relatórios que podem auxiliar os empreendedores à respeito do tema. Para mais informações, acesse http://sis.sebrae-sc.com.br.

 

Por equipe SNA/RJ

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