As relações de troca entre produtos agrícolas e fertilizantes mais favoráveis aos agricultores no primeiro quadrimestre deste ano estão estimulando a antecipação das compras do insumo que será utilizado no plantio da próxima safra de grãos (sobretudo soja) mesmo no Sul do país, região onde essa prática ainda é menos comum do que no Estado de Mato Grosso.
No Paraná, as tradicionais campanhas realizadas pelas cooperativas para impulsionar seus associados às compras costumam ganhar força em maio e junho, mas as aquisições em abril já foram fortes, por conta dos bons preços dos grãos e da queda do dólar em relação ao real. O “fator câmbio” pesa na decisão porque 70% da demanda nacional por fertilizantes é atendida por importações.
E, de acordo com Juliana Yagushi, engenheira agrônoma do Departamento de Economia Rural (Deral), ligado à Secretaria da Agricultura do Estado, a moeda americana mais fraca tende a motivar a antecipação das compras não só de adubos, mas de todo o pacote tecnológico voltado ao ciclo de verão da safra 2014/15.
No norte e no noroeste paranaense, os produtores adquiriram cerca de 50% dos fertilizantes e sementes para a próxima safra de verão até o fim de abril, ante entre 10% e 20% no mesmo período de 2013, de acordo com Geraldo Ganaza, coordenador comercial de fertilizantes da Cocamar, que é uma das maiores cooperativas do Estado e atua nas regiões.
Segundo Ganaza, de fato a relação de troca entre soja e adubos está bem mais favorável do que a média histórica. Ele estima que, atualmente, é possível comprar uma tonelada de fertilizante com 18 sacas de 60 quilos da oleaginosa, ante 22 a 23 sacas, em média, nos últimos anos.
Cálculos do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea/Esalq) baseados em 15 importante regiões produtoras do país mostram que, em abril, o preço do nutriente em real estava 12% mais baixo que no mesmo mês de 2013 e a soja valia 7% mais, conforme informou o pesquisador Victor Ikeda.
Em suas contas, os produtores da região Sul devem ter comprado, até o fim do mês passado, de 30% a 50% do volume de adubos necessário para semear a próxima safra de verão. Ikeda diz que, em 2013, o percentual foi similar, mas nota que, neste ano, houve forte aceleração em abril.
Em Mato Grosso, a exemplo do que ocorreu no ano passado, os produtores já compraram, até o fim do mês passado, entre 80% e 90% do volume estimado de fertilizantes para a próxima produção de verão, conforme Nelson Piccoli, diretor-administrativo financeiro da Famato, a federação da agricultura e pecuária do Estado.
A efetiva entrega dos volumes comprados antecipadamente deverá ter início neste mês e ser concluída até meados de setembro, apesar da pressão das empresas que comercializam fertilizantes para que os agricultores os recebam o mais rapidamente possível.
A falta de estrutura para armazenar o insumo, porém, esvazia essa pressão e a entrega tende a enfrentar os gargalos logísticos de sempre no início do segundo semestre, como observa José Carlos de Godoi, presidente do Sindicato da Indústria de Adubos e Corretivos Agrícolas no Estado do Paraná (Sindiadubos).
No caso das compras de fertilizantes voltadas aos canaviais paulistas, que ganham peso em maio e junho, o mercado está menos aquecido, dada a cautela dos produtores depois da seca que prejudicou as plantações este ano – e isso mesmo com uma relação de troca também favorável.
Fonte: Valor Econômico