Carne fake: insossa, enigmática e custosa! Por Xico Graziano

Articulista afirma que alimentos ultraprocessados, de qualquer tipo, jamais serão superiores aos alimentos naturais, nem do ponto de vista nutricional nem, menos ainda, ambiental; na imagem, pedaço de carne bovina. fonte:  Pexels

O marketing enganoso é um perigo à saúde humana e uma afronta ao bolso do consumidor

As projeções superotimistas da indústria de carne artificial não se confirmaram na preferência do consumidor. Acabou o fogo-de-palha do beef fake. A maior sinalização ao mercado chegou em comunicado da Beyond Meat, a mais conceituada empresa do setor de carnes vegetais nos EUA. Suas vendas em 2023 andaram decrescentes, comparadas aos anos anteriores, em plena pandemia.

Segundo a Mintel Group, os produtos alimentares chamados “plant based” caíram no varejo em 3,6% em 2023. Foram três fatores responsáveis por fazer as carnes elaboradas com vegetais ou cultivadas em laboratório reduzirem a atração de muitos consumidores: sabor, composição nutricional e preço. As falsas carnes se mostraram insossas, enigmáticas e custosas.

Análise da conceituada Deloitte confirma a tendência de diminuição das compras de carnes artificiais, atribuindo a queda do consumo à percepção de saúde. Uma pesquisa realizada com os consumidores em 2021 mostra que 68% deles adquiriram a carne “fake” acreditando ser mais saudável que a carne verdadeira. Tal percepção caiu, em 2022, para 60%.

Os fatos evidenciam um problema recorrente no mercado mundial de alimentos: o marketing enganoso, que é um perigo à saúde humana, e uma afronta ao bolso do consumidor.

Toda propaganda, por definição, visa a afetar as preferências dos consumidores na aquisição de mercadorias: eu gosto de camisa xadrez, você se atrai por camisetas polo. Trata-se de influenciar uma escolha individual motivada pela vaidade.

Na alimentação, porém, a indução mercadológica por produtos pode afetar a qualidade de vida, e não só a vaidade das pessoas. Por exemplo, dietas alimentares inadequadas causam obesidade, e as decorrências interferem no sistema de saúde pública. Portanto, interessa a toda a sociedade.

Por isso, as agências governamentais de controle estabelecem critérios e limites que envolvem a alimentação humana. Mesmo assim, o mercado vive inundado de alimentos mágicos ou mentirosos que iludem os consumidores.

Ser vegetariano, flexitariano, vegano ou carnívoro é uma opção pessoal. Cada um que coloque em sua mesa o que gosta. Coletivamente, a religião impõe restrições alimentares a milhares de pessoas. A cultura dos povos também interfere na alimentação, seleciona pratos e estabelece gostos. Até aqui, tudo normal.

Alimentos “plant based” representam uma interessante ideia. Agora, é inaceitável ver a indústria vendendo, por meio de seu marketing, a gororoba como atrativo, como uma falsificação alimentar. Esse é o caso da carne que não é carne.

Simplesmente deveria ser proibida a imposição: não sendo, por origem, uma proteína animal, não poderia receber o nome de “carne”. Bife, nem pensar. Bolota, pelota, denomine-se a comida como quiser, mas carne não é.

É quase hilário ver gente natureba atacar o consumo da carne, principalmente da carne bovina vermelha substituindo-a por uma carne vegetal. Come e fica feliz, achando que está salvando o planeta. Aí, já é insanidade ecológica.

A carne artificial é um alimento ultraprocessado, cuja complexa composição, normalmente, inclui aditivos, estabilizantes, emulsionantes, corantes e temperos químicos, em uma desconhecida fórmula que, com muito custo, tenta se aproximar do sabor natural da carne.

Alimentos ultraprocessados, de qualquer tipo, jamais serão superiores aos alimentos naturais, nem do ponto de vista nutricional nem, menos ainda, ambiental. Estudos mostram que a pegada de carbono e o custo energético da carne fake são mais elevados que aqueles da carne natural.

Por Xico Graziano Graziano, engenheiro agrônomo e doutor em administração. É professor de MBA da FGV.
Artigo publicado originalmente no Poder360,  gentilmente cedido pelo autor a SNA.
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