A indústria brasileira processadora de cacau recebeu 93.121 toneladas do produto no acumulado do 1º semestre de 2023, volume 13,11% abaixo das 107.179 toneladas dos primeiros seis meses de 2022. Os dados foram compilados pelo SindiDados – Campos Consultores e divulgados pela Associação Nacional das Indústrias Processadoras de Cacau (AIPC). À reportagem, a Presidente-Executiva da AIPC, Anna Paula Losi, disse que no início do ano, o setor esperava percentuais mais robustos para o período, mas nos próximos meses, ela acredita que será possível tirar o atraso para ficar, ao menos, em linha com o registrado em 2022. “No compêndio do ano, devemos ficar muito próximos do ano passado”, disse.
Losi reiterou, no entanto, que tudo dependerá do clima, fator que afeta diretamente a produção do cacau. Segundo a AIPC, a ocorrência do fenômeno climático El Niño nos próximos meses deve permanecer no radar, já que ele tende a tornar o clima mais seco no sul da Bahia e influenciar na produção. A edição mais recente do Levantamento Sistemático da Produção Agrícola (LSPA), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), de junho, estimou que 290.000 toneladas de cacau em amêndoa serão produzidas em 2023, cerca de 0,10% abaixo do produzido em 2022. A ocorrência do El Niño, a depender da intensidade e dos efeitos, poderia interferir nas estimativas de produção cacaueira no Brasil.
Até o momento, o recebimento de cacau pela indústria tem sido menor em virtude da alta incidência de pragas na região cacaueira, especialmente na Bahia. Os produtores baianos foram responsáveis por 55% do volume total de amêndoas nacionais recebidas pela indústria moageira no 1º semestre. O Pará ficou em segundo lugar com 41% do volume total recebido. Diferentemente do que aconteceu em 2022, quando o recebimento foi expressivo no fim da safra principal e início da safra temporã (colheita realizada após a safra mais substancial, entre maio e setembro), este ano os resultados estão menores por causa das pragas nas regiões.
No entanto, mesmo com o menor volume recebido, a moagem de amêndoas pela indústria foi de 126.442 toneladas, 19,19% maior em relação às 106.083 toneladas do mesmo período do ano passado. Segundo Losi, em 2022 cinco empresas informavam dados de recebimento e moagem para o SindiDados e agora são seis, o que ajuda a explicar o aumento. Outro motivo cada vez mais forte, segundo ela, é o fomento ao mercado de cacau promovido por entidades como a CocoaAction Brasil. A iniciativa público-privada entrou em ação em 2018 e pretende fomentar a sustentabilidade na cadeia do produto. Oito empresas são participantes do Cocoa Action Brasil (Barry Callebaut, Cargill, Dengo, Harald, Mars Wrigley, Mondelez International, Nestlé e Ofi).
O projeto tem por objetivo, entre outros aspectos, fornecer subsídios aos produtores de cacau para que o Brasil volte a ser autossustentável. Hoje, o País produz cerca de 300 kg de cacau por hectare, mas segundo a CocoaAction poderia facilmente dobrar esse volume. O País produzia 700 kg por hectare antes de a vassoura-de-bruxa, doença causada por um fungo, dizimar a produção nos anos 80.
Para suprir a demanda por processamento, a indústria recorre à importação de amêndoas. No acumulado dos primeiros seis meses do ano, 43.181 toneladas foram importadas, contra 10.010 toneladas no mesmo período de 2022. Losi disse que já era esperada a diferença, já que o volume importado em 2022 foi o menor dos últimos cinco anos. “No entanto, na medida em que a safra brasileira for crescendo, os volumes de importação ficarão cada vez menores e acreditamos que, em até cinco anos, serão volumes ainda mais insignificantes”, disse.
As exportações de derivados do cacau passaram de 24.987 toneladas em 2022, para 16.552 toneladas no 1º semestre deste ano. A queda de mais de 30%, segundo Losi, pode ser explicada pelo atraso nas importações da Argentina, principal destino dos produtos hoje.