TerrAmaz: Pecuária sustentável e regeneração da Floresta Amazônica

Foto: Arquivo CIRAD

A urgência da conservação ambiental é um tema que tem sido, amplamente, discutido em todo o mundo, em especial, por organismos internacionais como a Organização das Nações Unidas (ONU) e suas agências. No Brasil, sob a ótica da necessidade de preservação do meio ambiente, com foco do Bioma Amazônico, foi criado em 2020 o projeto Territórios Amazônicos (TerrAmaz), que utiliza soluções sustentáveis e inovadoras de conservação e restauração da Floresta Amazônica. Esta ação é financiada pela Agência Francesa de Desenvolvimento (AFD) como parte do compromisso da França com a Aliança Internacional para a Conservação das Florestas Tropicais.

O projeto é coordenado pelo Centro de Cooperação Internacional em Pesquisa Agronômica para o Desenvolvimento (CIRAD) e desenvolvido em colaboração com a Prefeitura Municipal de Paragominas, a Embrapa Amazônia Oriental e a Universidade Federal Rural da Amazônia.

Área de atuação

O TerrAmaz atua desde a concepção do plano de produção até as etapas de sua implementação em Paragominas (PA), Cotriguaçu (MT), Guaviare (Colômbia), Madre de Dios (Peru) e na Faixa de Diversidade e Vida – FDV do Parque Yasuni (Equador).

No Pará, além de Paragominas, existe uma progressiva inclusão dos 7 municípios vizinhos, que juntam mais de um milhão de cabeças bovinas.

– TERRAMAZ EM PARAGOMINAS

Objetivos

Dentre os objetivos estão a geração de renda para os produtores locais de todos os portes e o desenvolvimento de uma certificação territorial, tornando Paragominas atrativa para investidores responsáveis e, desta forma, consolidar uma trajetória de desenvolvimento sustentável.

Outro propósito do projeto é reduzir a emissão de gases de efeito estufa utilizando a técnica do pastejo rotacionado com várias formas e níveis de intensidade; uma tecnologia muito eficiente, porém ainda pouco praticada, de acordo com o coordenador do projeto em Paragominas e pesquisador do CIRAD, René Poccard-Chapuis.

O trabalho também é voltado para a restauração de áreas degradadas, tanto de pastagem, como de florestas secundárias, sendo um meio de renovação das florestas tropicais.

Pastejo rotacionado

Este modelo de produção consiste na divisão de pastagens em pequenos piquetes para concentrar o gado em apenas um deles, deixando os outros em descanso para restaurar a pastagem a ser utilizada nos dias seguintes, revezando o uso das áreas. Esta técnica permite recuperar, rapidamente, os pastos degradados, além de aumentar a produtividade do rebanho e a renda do produtor.

Mais uma vantagem do pastejo rotacionado é a redução da emissão de metano e o sequestro do carbono no solo, tendo como consequência a conservação ou restauração das florestas do entorno.

Ações científicas

A equipe do Territórios Amazônicos realiza um microzoneamento municipal, baseado em informações cartográficas sobre aptidões e uso do solo, e produção de serviços ecossistêmicos para que a prefeitura apresente ao produtor quais áreas ele deve restaurar para pastagem produtiva e quais abandonar para recuperação das florestas.

Vale destacar, como ação científica, a medição da eficiência da pecuária com a produção de dados de referência sobre os impactos do manejo rotacionado sobre a produção de serviços ecossistêmicos e toda a relação com o meio ambiente.

René Poccard-Chapuis afirmou que é feita a medição do ganho de digestibilidade de proteína na forragem com o pastejo rotacionado, considerando três tipos deste manejo, de acordo com a intensidade e nível de adubação, comparando com o pastejo não rotacionado. Outro aspecto é a eficiência energética da propriedade na Amazônia. “Fazemos uma análise do ciclo de vida em uma amostra de 40 propriedades em Paragominas, onde calculamos o que se gasta por hectare e por tonelada produzida, em termos de energia equivalente à energia fóssil e emissão de gases e de uso de nitrogênio”.

Uma pretensão da elaboração destes trabalhos científicos é gerar impacto na esfera científica, principalmente por existirem poucas referências da Amazônia; ao contrário do que ocorre nos biomas do Cerrado e da Mata Atlântica. “Visamos repercutir no Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), que usa normas com parâmetros diferentes dos da Amazônia. Há uma intenção de impactar ainda nos acordos da União Europeia e Mercosul, em nível político, tendo em mente que as políticas comerciais dependem muito de desempenhos ambientais”, afirmou o representante do TerrAmaz.

Propriedades-escolas

Para divulgar a técnica do pastejo rotacionado em Paragominas, o projeto investe recursos na implementação de módulos rotacionados em 19 “propriedades – escolas” que executam e difundem para outros produtores o trabalho de adaptação e promoção de tecnologias agropecuárias, além da restauração de paisagens eficientes.

Também são ofertados treinamentos para técnicos da prefeitura local e do Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (SENAR) sobre os conceitos e práticas deste modelo de produção e de organização da pecuária verde.

Finança verde

No âmbito da finança verde, o TerrAmaz possui uma parceria com o Banco da Amazônia e o Banpará que desenham financiamentos adequados para ampliação da pecuária verde.

Impactos

O primeiro impacto é o menor uso do espaço com a concentração das áreas produtivas de maior aptidão, gerando a restauração de floresta secundária nas áreas abandonadas e causando o sequestro de carbono tanto na parte aérea, quanto subterrânea. O não uso de fogo também contribui para a proteção das florestas e redução de incêndios.

“Estas áreas regeneradas sequestram muito carbono, porque são florestas que têm um sistema radicular, banco de sementes e estrutura vertical. A forma mais eficiente de sequestrar carbono na vegetação é proteger as florestas equatoriais degradadas”, disse o coordenador do projeto no Pará.

O pesquisador do CIRAD explicou que as pastagens têm esta característica de armazenar muito carbono, se houver um bom manejo com atividade vegetativa maximizada. “Feito isso, o desenvolvimento das raízes também fica maximizado e logo morrem, dando início a novas; diferente da raiz de árvore e seu maior tempo de vida. Considerando a parte subterrânea, o pastejo rotacionado armazena muito mais carbono no solo que a floresta”.

O clico do carbono também reduz a emissão de metano, porque, por meio do pastejo rotacionado, o gado tem uma dieta à base de capim novo, no auge do seu teor de proteína, facilitando a digestão. O metano é produzido pelas bactérias no rume do animal. Estas bactérias têm o papel de quebrar a celulose, as fibras. “Quando a pastagem é fibrosa, existe uma maior necessidade destas bactérias, ocasionando uma maior produção de metano; enquanto que uma dieta com menos fibra, promove menos produção deste gás”, finalizou René Poccard-Chapuis.

Por Equipe SNA
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