O momento é favorável e as perspectivas são positivas, mas os riscos são crescentes. Talvez esse seja um bom retrato do mercado brasileiro de milho neste fim de primeiro trimestre, quando o plantio da safrinha deverá ser concluído em Mato Grosso, que lidera a produção nacional do cereal.
Enquanto aumentam as incertezas em relação ao comportamento dos preços domésticos, que tendem a descer do elevado patamar que ainda se encontram, as projeções apontam para mais um segundo semestre de oferta farta.
Se tudo correr bem com as lavouras, a questão será se o câmbio continuará beneficiando as exportações, pela vantagem competitiva que proporciona. Caso contrário, o problema será escoar parte do volume que será colhido na safrinha, já que o arsenal do governo para apoiar a comercialização do produto está prejudicado pelo ajuste fiscal.
Por outro lado, se problemas climático frustrarem a expectativa de uma colheita ampla, o gargalo será a disponibilidade de recursos para a contratação de seguro rural com subsídios do governo, que sofreu um corte profundo em consequência da redução do orçamento do Ministério da Agricultura.
Em levantamento com poucas emoções divulgado ontem pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) sobre a atual safra de grãos (2015/16), chamou a atenção um novo ajuste para cima efetuado pela autarquia em sua estimativa para a colheita de milho safrinha no ciclo.
Serão 55,3 milhões de toneladas, 1,3% mais que na temporada 2014/15 e um novo recorde histórico. No total, a Conab passou a estimar a produção brasileira de milho em 83.5 milhões de toneladas, apenas abaixo do recorde de 2014/15 (84.7 milhões).
Se o câmbio mantiver a demanda externa pelo milho brasileiro aquecida, o volume que será colhido na safrinha levará as exportações a 29 milhões de toneladas em 2015/16, conforme a Conab, volume também inferior apenas ao recorde de 2014/15 (30.2 milhões).
Para Renato Rasmussen, analista do Rabobank, de fato a tendência é mesmo de queda das cotações internacionais, já que os estoques globais estão em um patamar confortável e as perspectivas indicam que a próxima safra dos EUA, maior produtor mundial, será novamente robusta.
De qualquer forma, o “AgriFocus – Março de 2016” do Rabobank, de autoria de Rasmussen, ressalta que esse “problema” – para o produtor, já que para os frigoríficos de aves e suínos será um alívio – será diluído pelo aumento das vendas antecipadas, que começaram no ano passado.
Conforme dados do Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (IMEA), no Estado as vendas antecipadas da próxima safrinha já superaram 60% da colheita esperada – 20.2 milhões de toneladas, segundo a Conab.
Para os volumes que ainda precisam ser comercializados, Rasmussen sugere que é um bom momento para operações de “hedge”. “Entendemos como improvável a viabilidade da manutenção das cotações de milho no Brasil em patamares elevados no médio prazo”, afirma o relatório do analista.
A safrinha nacional recorde esperada pela Conab será vital para garantir que a produção nacional de grãos também bata um novo recorde em 2016/17. Ainda puxada pela soja, a colheita total passou a ser estimada pela autarquia em 210.3 milhões de toneladas, 1,3% mais que em 2014/15.
Fonte: Valor Econômico