A despeito do temor inicial, transgenia se mostrou eficaz e segura para o agro e para a medicina do país.
Moratória de 5 anos para os transgênicos. Essa era a pauta principal quando, em 1999, assumi uma cadeira de deputado federal, eleito pelo PSDB de São Paulo. Entrei no meio do furacão….
A proposta, encabeçada por Marina Silva, refletia o temor dos ambientalistas pelas consequências da recém-chegada biotecnologia. Falavam em termos como comida frankenstein, escape gênico, superinsetos, dominação multinacional e alergias mortíferas. Era apavorante.
Os cientistas, porém, defendiam a engenharia que chegava ao Brasil para revolucionar –hoje se diria uma tecnologia disruptiva– o melhoramento genético clássico. Havia como, argumentavam, garantir a biossegurança dos OGMs (organismos geneticamente modificados)….
Os temerosos, porém, invocaram o princípio da precaução: na dúvida, seja conservador. E assim, defendida pela esquerda retrógrada, a moratória dos transgênicos foi aprovada no Congresso, para dar um prazo ao conhecimento científico. Um atraso, dizíamos.
Passados 25 anos, na safra passada (2022/2023) o Brasil cultivou 56,9 milhões de hectares com lavouras transgênicas, principalmente destinados à produção de soja, milho e algodão, e secundariamente ao feijão e à cana-de-açúcar. No mundo todo, existem 190,4 milhões de hectares plantados com variedades geneticamente modificadas, incluindo cereais, oleaginosas, frutas e legumes.
Nenhuma outra tecnologia mostrou tão rápida taxa de adoção na agricultura mundial, atestando sua eficácia, sua segurança de uso e seus variados benefícios. No Brasil, as variedades transgênicas são utilizadas em 99% das plantações de soja; no milho, em 97% para a safra de inverno e 98% na de verão; no algodão, em 99%. O sucesso é absoluto.
Além das vantagens trazidas diretamente aos produtores rurais, em termos de elevação de produtividade, redução de custos e facilidade na gestão de campo, as lavouras transgênicas têm, ao contrário dos temores ecológicos, assegurados benefícios ambientais.
Basta verificar os índices de redução na quantidade de pesticidas utilizados no controle de pragas:
*queda de 35% na soja; *queda de 16,2% no milho de verão; *queda de 16,4% no milho de inverno; *queda de 27,5% no algodão.
Todos esses dados constam em um relatório (PDF – 12 MB) elaborado pela renomada Agroconsult, a pedido da CropLife Brasil. Intitulado “25 anos de transgênicos no campo”, o relatório apresenta ainda 3 informações relevantes:
Economia de área plantada
O aumento de produtividade-física das lavouras transgênicas permite calcular um efeito-substituição que pode ser considerado uma “economia de terra”. No Brasil, essa economia representa 21,4 milhões de hectares, quase o tamanho do Estado de São Paulo. Significa dizer que, se não tivesse havido o acréscimo de produção decorrente da engenharia genética, teríamos que plantar 21,4 milhões de hectares a mais do que os atuais, no período dos 25 anos, para atingir o mesmo volume de produção verificado atualmente.
Economia de combustível
As lavouras transgênicas trouxeram redução no uso do maquinário, utilizado para a pulverização dos defensivos químicos, o que ocasionou queda no consumo de combustível. No período de 25 anos, registrou-se uma economia de 565 milhões de litros de combustível em função da adoção da biotecnologia, equivalente à retirada de circulação de 377 mil carros das ruas pelo prazo de 1 ano.
Menos poluição
A redução de emissões, pela economia de óleo diesel, chega a 70,4 milhões de toneladas de CO₂, o que equivale ao plantio de 504 milhões de árvores nativas. Ou seja, as lavouras transgênicas colaboraram com a redução do aquecimento global.
Francisco José Aragão, pesquisador da Embrapa, um dos maiores cientistas nacionais da biotecnologia, fazendo um balanço da evolução dos transgênicos no agro escreveu que:
“Nenhum efeito negativo para a saúde humana ou meio ambiente diferente dos observados pelas plantas convencionais foi reconhecido pela comunidade científica internacional. A agricultura enfrenta agora situações extremas em que precisa produzir mais e com melhor qualidade em um ambiente desafiador de escassez de água e terra arável, aumento de pragas e condições climáticas gradativamente mais adversas. As plantas biotecnológicas podem ajudar no desenvolvimento de uma agricultura mais sustentável. Essa tecnologia não é uma panaceia, mas faz parte da solução e não do problema”.
Na medicina e na saúde humana, a biotecnologia tem criado incríveis soluções, a começar da insulina para diabéticos, produzida há décadas por microrganismos transgênicos, e não mais extraída de vísceras de porcos e bois. Na pandemia de covid-19, a engenharia genética conseguiu produzir, rapidamente, várias vacinas recombinantes que salvaram milhões de pessoas.
Agora, nessa epidemia de dengue, mosquitos transgênicos começam a ser utilizados para reduzir os focos da doença. Como funciona? O chamado “Aedes do Bem”, mosquito geneticamente modificado e produzido pela empresa Oxitec, copula com a fêmea, mas sua descendência não vinga, encerrando o ciclo dos insetos. É sensacional.
A moratória faz parte da pré-história dos OGMs. Aos 25 anos, a transgenia mostra que chegou para ficar, no agro e na medicina. Ciência é assim: assusta um pouco no começo, mas, corretamente utilizada, empurra a civilização para frente.