A China deverá novamente reduzir sua participação no mercado global de milho nesta safra 2015/16. Mesmo em meio às perspectivas de que sua economia cresça menos que a meta de 7% estabelecida pelo governo para este ano, o país aproveitou a queda dos preços internacionais do cereal e turbinou suas importações nos últimos meses, engordando estoques e reduzindo as necessidades de compra.
Em seu último relatório mensal, o USDA estimou que o país asiático deverá importar 3 milhões de toneladas na temporada, cuja colheita começará a ganhar força no Hemisfério Norte nas próximas semanas. Se a estimativa se confirmar, a China permanecerá como o quinto maior importador mundial de milho, mas passará a representar apenas 2,4% do volume comercializado no mercado internacional, praticamente o mesmo patamar observado no ciclo 2013/14 (2,6%). Mas, em 2014/15, o percentual foi de 4,5%.
Não há consenso sobre o impacto da desaceleração econômica da China sobre sua demanda por commodities agrícolas, por mais que muitos analistas acreditem que o consumo de alimentos no país não deverá ser afetado. De qualquer forma, não deixa de ser uma frente de incertezas e especulações. “A renda crescente na China deverá continuar a suportar a demanda por produtos agrícolas, embora as taxas de crescimento da demanda provavelmente tendam a ser menores”, afirmou Hamish Smith, economista de commodities da empresa de pesquisas Capital Economics, sediada em Londres.
O aumento da produção é outro fator que deve limitar as importações do país. Como o milho é um cereal-chave para a segurança alimentar, já que serve como base para a produção de ração animal e para a alimentação humana, o governo da China tem adotado uma forte política de apoio à produção interna. Os subsídios de Pequim aos agricultores do país têm mantido os preços domésticos em níveis elevados. Assim, os produtores chineses mantiveram o ritmo de expansão mesmo com a queda das cotações internacionais da commodity.
O USDA calcula que a colheita chinesa no ciclo 2015/16 repetirá a dose de 2014/15 e alcançará 157 milhões de toneladas.
Os preços internos mais elevados também motivaram os consumidores industriais a importar mais nos últimos meses, o que colaborou para o aumento dos estoques. Em julho passado, as compras do país no exterior alcançaram 1,1 milhão de toneladas, quase um terço de todo o volume importado no período de 12 meses até julho. O USDA projeta que os estoques de passagem da temporada 2015/16 na China terão 90.41 milhões de toneladas, ou 47% de todo o milho que o órgão estima que esteja em estoques no mundo.
Essa concentração supera a registrada na safra 2013/14 (43%) e remonta ao que ocorreu no mercado do algodão, no qual o país passou a concentrar em seus estoques mais de 60% da pluma mundial após anos de fortes importações.
Segundo o analista da Capital Economics, para culturas como milho e algodão, das quais a China mantém estoques elevados, o risco para os exportadores é que Pequim decida vender uma fatia dessas reservas no mercado doméstico. “Se eles fizerem isso a um preço competitivo, a demanda por importações pode cair – tanto no milho como no caso de commodities substitutas, como o sorgo”, afirmou Smith.
Outra possibilidade é o governo interferir diretamente no volume de importação de uma dessas commodities para estimular a demanda pela produção nacional, o que pode resultar em aumento de matérias-primas substitutas. Por enquanto, o quadro chinês de oferta e demanda de algodão está ainda mais confortável que o do milho. Segundo o USDA, os estoques do país representam 196% da demanda doméstica, enquanto no milho a relação é de 37%.
Fonte: Valor Econômico