Graças a uma combinação favorável de fatores, o momento é muito positivo para a pecuária brasileira, principalmente para os bovinos. Além de forte demanda e cotações em alta, os custos de produção estão mais baixos, devido à queda no preço das commodities agrícolas, em razão da expectativa de safra recorde nos Estados Unidos e da boa safra brasileira de milho e soja. A análise é do economista Alexandre Mendonça de Barros Filho, diretor da MB Agro, que aponta um desequilíbrio muito grande na oferta de gado de corte. “Os principais formadores de rebanhos do mundo inteiro (Estados Unidos, Brasil e Austrália), tirando a Índia, estão vivendo um ciclo de retenção de fêmeas. Isto acontece porque depois de vários anos de abate de fêmeas em grande quantidade, o preço do boi tem batido recordes, o que reflete claramente um problema de oferta”, aponta.
Segundo o economista, atualmente, os Estados Unidos têm o menor rebanho de gado de corte em 8 anos. “Em meados de agosto, a arroba do boi chegou a 103 dólares, preço nominal mais alto da história”, cita. E acrescenta: “De exportador, os norte-americanos poderão passar a importador de carne vermelha in natura. Existe a possibilidade de importarem cerca de 60 mil toneladas de carne do Brasil.”
Na Austrália, a seca dos últimos anos também pressionou a redução do rebanho. A expectativa para a entrada de 2015 é que a oferta também seja mais limitada. “Estima-se queda de 40% no número de cabeças em algumas regiões australianas fortes em pecuária de corte, em consequência da seca.”
Segundo Mendonça de Barros, no ano passado, o Brasil registrou recorde de abate de bovinos, com destaque para um número alto de abate de fêmeas. “E continua crescendo este ano. Há uma demanda muito forte no mercado exterior”, justifica. Por outro lado, ele lembra que o preço de bezerros aumentou muito, o que tem estimulado o criador a recompor seus rebanhos. “Em Mato Grosso do Sul, o preço subiu absurdamente. Tem gente pagando ágio de 20% a 35% na compra de bezerro”, comenta.
Gustavo Aguiar, da Scot Consultoria, afirma que o mercado é firme para a reposição. “A exemplo do que ocorre com o boi gordo, a oferta restrita puxa a alta dos preços para os animais de reposição”, destaca. Ele também acentua que a demanda atual, principalmente para as categorias jovens, ainda é afetada negativamente pela seca que prejudica a capacidade de suporte das pastagens. Para ilustrar, ele cita que, no começo deste mês, o bezerro anelorado de 12 meses (7,5 arrobas) estava cotado em R$1.150,00 por cabeça, em Mato Grosso do Sul. “Esse valor é 36,9% superior ao registrado no mesmo período do ano passado”, observa. A relação de troca no Estado, que era de 1,94 bezerro por boi gordo (16,5 arroba) em agosto do ano passado, baixou para 1,75 bezerro por boi gordo, uma redução de 9,8%.
O valor da tonelada de carne bovina subiu 13% no acumulado de 2014, de acordo com a Secretaria de Comércio Exterior (Secex), órgão do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, que também aponta crescimento na receita das vendas externas de gado vivo em pé que, no acumulado dos oito meses deste ano, somaram US$ 505 milhões, 24% acima de 2013.
AVES E SUÍNOS
“Possivelmente, vamos ver subir os preços do frango e do suíno”, prevê Barros Mendonça. Ele acredita que as exportações para a Rússia vão ajudar a enxugar os estoques de aves do Brasil.
De acordo com analistas do mercado, a cotação do suíno encerrou agosto com ganho de 8,70%, em relação aos preços praticados no início deste ano. No acumulado de janeiro a agosto, a receita dos embarques de suínos alcançou US$ 892,4 milhões, crescimento de 11,3%, na mesma comparação. Em volume, houve redução de 7,3%, com total de 270,7 mil toneladas. No entanto, segundo a Secex, o valor da tonelada da carne suína ficou 37% acima do registrado há um ano.
Equipe SNA/SP