Impacto da distribuição espacial de sementes de soja

Foto: Embrapa Soja. Suas contribuições históricas para o agronegócio no Brasil colocam a Unidade na vanguarda do desenvolvimento tecnológico para a cultura nas regiões tropicais. Suas contribuições incluem o desenvolvimento de cultivares adaptadas a baixas latitudes, o controle biológico de pragas e técnicas de manejo e conservação do solo, entre outras.

É senso comum que o mais apropriado para maximizar a produtividade das culturas é a semeadura com espaçamento uniforme entre as plantas nas linhas. Todas as práticas que permitam a máxima equidistância de distribuição de sementes na linha de semeadura devem ser consideradas pelo produtor, principalmente regulagens da semeadora, uso de sementes de alta qualidade e velocidade de deslocamento da semeadora de acordo com as indicações técnicas.

Em muitos casos, a utilização de semeadoras obsoletas e inadequadamente reguladas, o uso de sementes de má qualidade e a excessiva velocidade de deslocamento das semeadoras provocam alta variação espacial na deposição de sementes na linha de semeadura, aumentando a proporção de plantas duplas, falhas e com distâncias variadas, o que reduz a proporção de plantas com espaçamento uniforme

Foto: Alvadi Antonio Balbinot Junior

. Considerando a mesma densidade de semeadura e o mesmo espaçamento entre as fileiras, a deposição espacial desuniforme das sementes provoca excesso ou reduzida competição por luz, água e nutrientes em diferentes pontos da lavoura, ou seja, excesso de plantas em alguns pontos e falta de plantas em outros. Essa situação gera plantas dominantes, aquelas submetidas à menor competição com outras plantas de soja e plantas dominadas, aquelas submetidas à alta competição, as quais apresentam baixa produtividade.

É senso comum que o mais apropriado para maximizar a produtividade das culturas é a semeadura com espaçamento uniforme entre as plantas nas linhas. No entanto, no caso da soja, há poucos trabalhos científicos que avaliaram esse impacto sobre o desempenho da cultura, isolando o fator uniformidade de distribuição. É provável que a carência de trabalhos nesse tema seja decorrente da dificuldade de implantar no campo diferentes padrões de distribuição das sementes, mantendo as mesmas densidades de semeadura e profundidades de deposição das sementes.

Recentemente publicamos um artigo científico no periódico Agronomy Journal , no qual avaliamos três coeficientes de variação (CV%) de distribuição de sementes de soja nas linhas, em quatro densidades de semeadura (Figura 2). Verificamos que, na média das populações de plantas e safras, a distribuição equidistante de sementes (CV 0%) produziu cerca de 370 kg/ha a mais do que na distribuição muito ruim (CV 100%) (Figura 3). Esse resultado é muito relevante, uma vez que confirmamos a hipótese de aumento da produtividade da soja somente por meio do melhor arranjo de plantas na área, sem alterações significativas nos custos de produção, conferindo aumento da rentabilidade. Outro ponto importante é que à medida que houve redução na densidade de semeadura, maior foi o benefício da distribuição uniforme, demonstrando que a utilização de baixas quantidades de sementes implica em aumento dos cuidados para distribuí-las de forma uniforme nas linhas.

A uniformidade de distribuição impactou favoravelmente a produtividade, principalmente porque conferiu aumento no número de grãos por área e massa de mil grãos oriundos dos ramos. Ou seja, observamos que a produção de grãos nos ramos é mais influenciada pela uniformidade espacial do que a produção nas hastes, considerando a comunidade de plantas. Esse resultado demonstra que a produção nas hastes é mais preservada pelas plantas de soja em razão de variações na competição entre as plantas e, por outro lado, a produção oriunda dos ramos é muito sensível aos padrões de uniformidade espacial.

Apesar da ampla capacidade de compensação de espaços pela soja, na maioria das cultivares comerciais, a distribuição uniforme de plantas amplia o aproveitamento dos recursos do meio (água, luz e nutrientes). Nesse sentido, todas as práticas que permitam a máxima equidistância de distribuição de sementes na linha de semeadura devem ser consideradas pelo produtor, principalmente regulagens da semeadora, uso de sementes de alta qualidade e velocidade de deslocamento da semeadora de acordo com as indicações técnicas.

Figura 1. Distribuição desuniforme de sementes nas linhas de semeadura (acima), com plantas duplas e falhas e distribuição uniforme (abaixo). Fotos: Alvadi Antonio Balbinot Junior.

Figura 2. Padrões de distribuição espacial de sementes de soja nas linhas de semeadura em função de três coeficientes de variação (CV%): 0, 50 e 100 e quatro densidades de semeadura, em mil sementes por hectare (MSH): 87,5, 175, 262,5 e 350. Adaptado de Coelho et al. (2023).

 

Figura 3. Produtividade de grãos de soja em função de três coeficientes de variação de sementes nas linhas de semeadura (CV%): 0, 50 e 100. Média de quatro densidades de semeadura e duas safras. Médias seguidas de mesmas letras não diferem entre si pelo teste Tukey (p ≤ 0,05). Adaptado de Coelho et al. (2023).

Artigo escrito e publicado originalmente no blog da Embrapa Soja por  Alvadi Antonio Balbinot Junior, pesquisador da Embrapa Soja e Antonio Eduardo Coelho, do Programa de Pós-Graduação em Produção Vegetal, da Universidade do Estado de Santa Catarina.
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