Transporte marítimo: serviço de cabotagem cresce em média 10% ao ano

“Estudos mostram que o Brasil, por meio da cabotagem, pode aumentar em cerca de 20% o volume de transportes sem aumentar a emissão de CO2. Reforçamos que este serviço é um dos modais mais sustentáveis que existe. Consome oito vezes menos combustível que o modal rodoviário e emite três vezes menos CO2 na atmosfera”, garante o presidente da Abac, Cleber Lucas. Foto: Divulgação LogIn
“Estudos mostram que o Brasil, por meio da cabotagem, pode aumentar em cerca de 20% o volume de transportes sem aumentar a emissão de CO2. Reforçamos que este serviço é um dos modais mais sustentáveis que existe. Consome oito vezes menos combustível que o modal rodoviário e emite três vezes menos CO2 na atmosfera”, garante o presidente da Abac e diretor de Planejamentno da Log-In, Cleber Lucas. Foto: Divulgação

Os déficits da malha rodoviária no Brasil têm sido, nos últimos anos, entraves para um melhor escoamento da produção agrícola. Além disso, os investimentos na infraestrutura e logística não têm acompanhado o crescimento vertiginoso do agronegócio nacional. Para driblar muitos “empecilhos”, os produtores rurais buscam alternativas para que o sistema flua e as mercadorias cheguem até os seus destinos.

Para tanto, uma das soluções tem sido o transporte marítimo por meio do serviço de cabotagem, que tem registrado crescimento de 10% em média ao ano, principalmente no carregamento de contêineres com itens que, até então, eram levados somente por caminhões. A informação é da Associação Brasileira dos Armadores de Cabotagem (Abac).

Presidente da entidade, Cleber Lucas explica que o serviço é feito através da navegação entre portos do mesmo país e se contrapõe à navegação de longo curso, que é realizada entre portos de diferentes países.

“É considerado um modal promissor, tendo em vista que o Brasil possui uma extensa costa navegável (cerca de 8 mil km) e as principais cidades, polos industriais e grandes centros consumidores se concentram no litoral ou em cidades próximas a ele. Qualquer empresa pode aderir ao serviço de cabotagem”, destaca Lucas, que também é diretor  de Planejamento da Log-In, empresa brasileira atuante neste segmento.

Os portas-contêineres estão em operação nos serviços Atlântico Sul, Amazonas e no recém-lançado Costa Norte Express, que faz a rota Manaus–Santos em apenas dez dias.

“Sobre este serviço, a rota expressa conecta os portos de Manaus a Santos e tem por objetivo atender à indústria eletroeletrônica que envia seus produtos para o Sul e Sudeste no início do mês, para venda no mesmo período. Outro ponto importante é atender à demanda que os Estados do Sul e Sudeste, dentre os quais se destacam Rio Grande do Sul, Santa Catarina e São Paulo, têm para transportar para a região Nordeste do País, com sensível redução sobre os custos logísticos dos embarcadores.”

Conforme Lucas, Estados do Sul, principalmente Rio Grande do Sul e Santa Catarina; São Paulo no Sudeste; Bahia, Pernambuco e Ceará no Nordeste; além do polo de Manaus, no Amazonas na região Norte; estão entre as principais regiões usuárias da cabotagem. “Portos de Vitória, no Espírito Santo; Itaguaí no RJ e Vila do Conde no Pará, também vêm crescendo bastante nos últimos tempos”, ressalta.

PESQUISA EXCLUSIVA

Uma pesquisa exclusiva do Instituto Ilos (Instituto de Logística e Supply Chain), que abordou 123 profissionais de logística de algumas das cem maiores companhias do setor industrial e varejista, a cabotagem recebeu nota 7,3 de aprovação. Mostrou ainda que a maioria delas (61%) quer aumentar o volume por cabotagem em 45%, em média. Somente 6% dos entrevistados disseram que pretendem diminuir seus carregamentos.

De acordo com Monica Barros, gerente de Inteligência de Mercado do Instituto, a diferença no frete entre a cabotagem de porta-a-porta (de um centro de distribuição a outro) em um trajeto longo, como do porto de Santos ao de Manaus, pode chegar a 50% em relação ao transporte rodoviário. “Mas a empresa precisa readequar seus processos logísticos e agir com mais planejamento”, afirma.

A pesquisa do Ilos ainda identificou que as principais insatisfações estão relacionadas à infraestrutura do que ao modal em si. As reclamações mais recorrentes dizem respeito à infraestrutura inadequada dos portos (66%), excesso de burocracia governamental (63%), demora na entrega da carga (62%) e falta de infraestrutura na integração dos modais (61%).

“Com relação à cabotagem, a principal reclamação é a baixa frequência de navios, sempre tendo como base comparativa o transporte rodoviário”, destaca Monica.

Somente três empresas oferecem o serviço de cabotagem no Brasil: Aliança, Log-In e Mercosul Line. Conforme Cleber Lucas, presidente da Abac e diretor da Log-In, o segmento atende a cerca de 1,5 mil empresas, 800 delas fazem este tipo de embarque com frequência. “Setores como eletroeletrônicos, higiene e limpeza e produtos químicos cresceram nos últimos anos”, afirma.

Lucas destaca que, para ser economicamente viável, recomenda-se que a empresa usuária da cabotagem possua unidade de produção (ou centro de distribuição) a uma distância de até 300 quilômetros do porto.

Com aproximadamente 7,4 mil km de costa e 80% da população morando em um raio de 200 km do litoral, a cabotagem alcança maior espaço na medida em que as empresas ampliam seus canais de distribuição em outros Estados.

VANTAGENS

Dados da Associação Nacional do Transporte de Cargas e Logística (NTC) referentes ao ano de 2013 apontam mais de 15 mil ocorrências de roubo de cargas nas rodovias em todo país, o que equivale a um prejuízo superior a R$ 1 bilhão.

De acordo com o presidente da Abac, a cabotagem proporciona uma série de vantagens para os usuários, destacando-se  a segurança quanto a furtos e roubos, praticamente inexistentes neste modal, além de garantir maior integridade das cargas, com índices de avarias bem inferiores aos do transporte rodoviário.

“Atualmente, a cada 100 mil viagens rodoviárias no Brasil, estimam-se 41,4 roubos de carga. Por outro lado, nos últimos dois anos (2012 e 2013), em aproximadamente 150 mil viagens a Log-in, por exemplo, contabilizou apenas sete casos de furtos ou roubos na cabotagem.”

 A essas vantagens inerentes ao transporte marítimo, deve-se acrescentar, conforme Lucas, a competitividade em preços ao cliente final, mostrando na maioria dos casos uma boa oportunidade para os clientes usuários reduzirem seus custos logísticos, representando um bom custo- benefício. “Além do aspecto da alternativa econômica mais competitiva, a eficiência ambiental é um ponto muito importante”, acrescenta.

Excluindo-se o desmatamento da Amazônia e outros biomas, o presidente da Abac informa que o setor de transportes é o principal responsável por emissões de gás carbônico no País.

“Estudos mostram que o Brasil, por meio da cabotagem, pode aumentar em cerca de 20% o volume de transportes sem aumentar a emissão de CO2. Reforçamos que este serviço é um dos modais mais sustentáveis que existe. Consome oito vezes menos combustível que o modal rodoviário e emite três vezes menos CO2 na atmosfera”, garante. 

Segundo estudo do Ilos, cita Lucas, existem quase 6,5 mil contêineres transportados pelo modal rodoviário nacional, com perfeita aderência à navegação.

“Este movimento permitirá a redução de custos logísticos da cadeia de transportes, eficiência ambiental e segurança para as cargas e nas estradas. É importante destacar que este movimento da expansão da cabotagem, não necessariamente, reduz a indústria rodoviária, pois será necessário o transporte dos portos para a distribuição final, somente adequando o transporte de longa distância ao seu correto modal.”

Por fim, Lucas salienta que um dos diferenciais da cabotagem  se refere ao avanço de estoque para o porto de destino, o que permite melhor controle da operação e entregas com hora marcada.

Por equipe SNA/RJ

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