Think Tank do Agronegócio foca no desenvolvimento sustentável da Amazônia

“No Brasil, existe um capítulo extremamente complexo, relevante e mal tratado, que é o tema da Amazônia, da área desmatada naquela região”, ressalta o ex-ministro da Agricultura Roberto Rodrigues. Foto: Divulgação LIDE
“No Brasil, existe um capítulo extremamente complexo, relevante e mal tratado, que é o tema da Amazônia, da área desmatada naquela região”, ressalta o ex-ministro da Agricultura Roberto Rodrigues. Foto: Divulgação LIDE

O desenvolvimento de agricultura sustentável para a Amazônia é o tema de um dos grupos que já atuam no Think Tank do Agronegócio, uma das mais novas iniciativas da Fundação Getúlio Vargas. Um dos idealizadores do projeto, e também coordenador da GVAgro, ex-ministro da Agricultura, membro e primeiro presidente da Academia Nacional da Agricultura da Sociedade Nacional de Agricultura (SNA), Roberto Rodrigues destaca que a sustentabilidade do agronegócio é um tema preocupante.

“No Brasil, existe um capítulo extremamente complexo, relevante e mal tratado, que é o tema da Amazônia, da área desmatada naquela região.”

Rodrigues destaca que alguns estudos indicam que existem 60 milhões de hectares já desmatados e, de alguma forma, degradados. “Vamos estudar rigorosamente, cientificamente todas essas questões para encontrar o que eventualmente poderia ser feito para aproveitar esse estado. Nós sabemos que o Brasil tem hoje praticamente 80 milhões de hectares cultivados com todas as plantas. Tem 60 milhões de hectares na Amazônia já desmatados, como aproveitar aquilo de forma positiva para o Brasil? Isso gerará políticas públicas específicas para a Amazônia e investimentos privados que possam gerar um bom retorno aos investidores e ao País.”

Ele faz questão de ressaltar que, “aqui, pratica-se uma agricultura sustentável e os números provam isso. Nos últimos 25 anos a área plantada com grãos cresceu 50% e a produção cresceu 234% com tecnologias preservacionistas. Se não fosse isso, para colher a safra desse ano nós teríamos a produtividade de cinco anos atrás e precisaríamos de mais 70 milhões de hectares. Preservamos 70 milhões de hectares com tecnologia. Mas isso não é o suficiente, é preciso fazer muito mais.

DESAFIOS

A coordenação do projeto e estudos na linha de pesquisas Amazônia: Proposta para Exploração Agrícola Sustentável está a cargo de Eduardo Assad, pesquisador da Embrapa, professor do GVAgro e membro do Comitê Científico do Painel Brasileiro de Mudança do Clima. Ele explica que foi convidado para buscar e juntar um grupo de especialistas do Brasil que possam ajudar a formular diagnósticos e políticas públicas para a agricultura sustentável, a intensificação agrícola na Amazônia.

Ele confessa que “é um desafio muito grande que nós temos pela frente, porque parte da Amazônia foi desmatada. E a grande pergunta é: O que nós vamos fazer com isso? Do ponto de vista técnico teremos grandes desafios porque não temos uma Amazônia só, são várias Amazônias. Precisamos descobrir e entender melhor quais são as ofertas em termos de recursos naturais de cada parte da região”.

Assad destaca que existe outro grande desafio, que é entender melhor como os produtores estão organizados. “Se pequenos produtores, com funcionam, os assentamentos, as cooperativas, como é que eles se posicionam ali. Se grandes produtores, como é que estão organizados e qual é o peso deles na economia agrícola brasileira e quais as tendências que estão seguindo hoje. Observamos várias. Esse é um desafio enorme, entender ou tentar entender a estrutura fundiária, que é o grande problema para aplicação de políticas públicas na Amazônia hoje”, diz o pesquisador.

BAIXA EMISSÃO DE CARBONO

Segundo Assad, a Amazônia é importantíssima, 75 milhões de hectares foram desmatados, corte raso, e ali existem vários perfis de produtores, da agricultura familiar à empresarial. É preciso, em sua opinião, por um pouco de ordem nisso do ponto de vista de política pública.

“No momento, o GVAgro tem em suas mãos o Observatório ABC da Agricultura de Baixo Carbono. Acreditamos que muitas das saídas para a produção agrícola na Amazônia estão vinculadas à agricultura de baixa emissão de carbono, com ferramentas como as técnicas de integração lavoura, pecuária e floresta, sistemas agroflorestais. Só que precisamos saber agora aonde e porque vamos propor isso em cada um dos municípios que tenham altos índices de desmatamento. A nossa proposta é trabalhar com aqueles que tenham mais de 10% de área desmatada”, acentua.

Ele esclarece que o projeto começou no último dia 13 de abril e uma série de levantamentos já começaram a ser realizados.  “Inclusive um primeiro resultado bastante interessante é o que mostra que há uma redução do desmatamento de 2005 prá cá e a produção pecuária aumentou. Isso significa que está havendo uma intensificação produtiva sem desmatamento. Estamos convencidos que podemos fazer alguma proposta maior, através de sistemas florestais com relação a produtos como madeira e fibras sem que provoquemos aumento de desmatamento”, destaca.

Em sua opinião, “é preciso que vejamos a Amazônia e essa oferta toda de terras que foram desmatadas sob um ponto de vista mais objetivo, mais otimista. Podemos intervir e promover condições de desenvolvimento, não é modernização e, sim, desenvolvimento, de uma boa agricultura, uma boa pecuária e principalmente trabalhando com sistemas sustentáveis.

Para o pesquisador Eduardo Assad, o grande desafio é entender ou tentar entender a estrutura fundiária, que é o grande problema para aplicação de políticas públicas na região Amazônica. Foto: Divulgação GVAgro
Para o pesquisador Eduardo Assad, o grande desafio é entender ou tentar entender a estrutura fundiária, que é o grande problema para aplicação de políticas públicas na região Amazônica. Foto: Divulgação GVAgro

PROPOSTA CENTRAL

Think Tank do Agronegócio da FGV tem como proposta central a constituição de um núcleo permanente de pesquisa aplicada direcionada para a agenda das cadeias que integram o setor. Roberto Rodrigues explica o que é este projeto e seus objetivos. Espera-se, diz ele, espera-se também promover debates em torno de questões-chave para o desenvolvimento do agronegócio.

Sua atuação abrange as dimensões nacionais e internacionais, a partir das seguintes áreas de especialização: comércio internacional e agronegócio do Brasil; Amazônia – propostas para exploração agrícola sustentável; matriz energética e recursos hídricos e modelo de entendimento para cadeias produtivas. Dois grupos de estudos já estão atuando – comércio internacional, com ênfase na China e desenvolvimento de agricultura sustentável para a Amazônia.

De acordo com Roberto Rodrigues, a FGV é, em si só, um grande Think Tank. “O Think Tank do Agronegócio é uma consequência dessa grande visão:seria um centro de inteligência , onde promoveríamos estudos e  debates que permitam ao diferentes atores do mar opinião, orientar decisões sobre o que fazer nos diversos segmentos,  sempre alicerçados na sustentabilidade das cadeias produtivas. Um grande chapéu pensador do agronegócio.”

“Nossa ideia é levantar temas de interesse do agronegócio e do País, que seriam entregues a técnicos competentes, reconhecidos em suas áreas. Esses técnicos construiriam equipes que iriam desenvolver os estudos a respeito de temas específicos e promover os debates. Pessoas com formação acadêmica e que tenham interesse na discussão podem participar aproximando-se do coordenador de cada um dos estudos a serem desenvolvidos”, orienta Rodrigues.

“A proposta é cada projeto gere o seu próprio orçamento. Não existe um orçamento fixo, para cada projeto que surja haverá um orçamento, uma proposta que será oferecida aos diversos agentes econômicos do país que tenham interesse em atuar na área em estudo.”

Por equipe SNA/SP

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