SNA avalia anúncio do 10º Censo Agropecuário, que terá orçamento mais baixo

Corpo técnico do IBGE será composto por 26 mil pessoas, que serão contratadas temporariamente por meio de concurso público ministrado pela FGV. Antes, seriam 80 mil vagas. Foto: Divulgação

O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) finalmente anunciou na segunda-feira, três de março, a realização do 10º Censo Agropecuário, mais de dez anos após o anterior, que foi feito em 2006. Por causa da crise econômica no país e, consequentemente, de caixa do governo federal, esse levantamento, que se propõe a traçar a realidade no meio rural e deveria ter sido realizado em 2015, foi adiado algumas vezes por falta de dinheiro.

Há mais ou menos dois anos, estava previsto um orçamento de R$ 1,6 bilhão para ser utilizado entre 2017 e 2018, depois caiu para R$ 550 milhões, e agora foi fechado em R$ 770,324 milhões, ou seja, menos da metade do valor previsto no início. Durante coletiva no Rio de Janeiro, o IBGE também anunciou outras reduções, que envolvem até mesmo o número de perguntas em seu questionário.

“O orçamento do Censo Agropecuário de 2017 sofreu um corte de mais de 50%. Diante desta contingência, o corpo técnico do IBGE foi compelido a fazer adaptações como, por exemplo, a redução do número de contratados temporários para essa operação: inicialmente previsto para 82 mil pessoas, esse contingente foi reduzido para 26 mil. Já a coleta do Censo Agropecuário, prevista para cerca de 90 dias, foi ampliada para cinco meses”, informa o Instituto, por meio do site oficial do órgão.

O número de postos de coleta de informações também caiu – de 5.100 para 1.376 –, assim como o tempo de entrevista do questionário, que foi reduzido de 90 para 40 minutos. Os trabalhos em campo estão previstos para começar no dia primeiro de outubro.

Durante a coletiva, quando foi questionado sobre possíveis perdas por causa do corte de gastos do 10º Censo Agropecuário, o diretor de Pesquisas do IBGE, Roberto Olinto, preferiu destacar o esforço do órgão estatal para realizar esse trabalho.

“(A pesquisa) não perde nada. Acho que ganhamos, porque estávamos trabalhando entre o zero e o que a gente conseguiu”, respondeu ele, conforme publicação da Folha de S. Paulo.

 

AVALIAÇÃO

Vice-presidente da Sociedade Nacional de Agricultura (SNA), Hélio Sirimarco acredita que o principal problema do Censo Agropecuário seja, de fato, a verba menor que a prevista originalmente: “Por essa razão, o IBGE reduziu pessoal e perguntas, mas o Instituto defende que não haverá prejuízo aos resultados. Vamos confiar”.

“O Censo, certamente, contribuirá com a melhora da qualidade das informações já disponibilizadas, por exemplo, pelo Cadastro Ambiental Rural (CAR), que é o registro eletrônico obrigatório para todos os imóveis rurais, que faz parte de uma base de dados para o controle, monitoramento e combate ao desmatamento das florestas e demais formas de vegetação nativa do Brasil”, comenta Sirimarco.

 

Vice-presidente da SNA, Hélio Sirimarco diz que “o Censo, certamente, contribuirá com a melhora da qualidade das informações já disponibilizadas, por exemplo, pelo Cadastro Ambiental Rural (CAR)”. Foto: Arquivo/SNA

 

Diretor da SNA, o analista de mercado Fernando Pimentel, sócio proprietário da Agrometrika e Agrosecurity, relembra que o último Censo Agropecuário foi realizado em 2006.

“Naquela ocasião, a qualidade do trabalho foi muito criticada, a ponto de várias empresas de consultoria agropecuária, que usam os dados do IBGE para seus trabalhos e projetos, se reunirem em São Paulo, para indicar os pontos de inconsistência do estudo, que é bem caro”, conta Pimentel.

Segundo ele, em áreas produtivas importantes, como a produção brasileira de soja, houve uma diferença de 16 milhões de toneladas em relação aos indicadores da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), que é outra importante fonte governamental.

“Depois do último Censo e das críticas, o IBGE se aproximou mais da Conab e os números dos levantamentos das safras, de modo geral, se aproximaram nos dois órgãos estatais”, comenta.

Para Pimentel, “o Censo Agropecuário é um trabalho muito complexo e a coleta de informações nem sempre é aplicada por profissionais com um conhecimento do setor, com discernimento para corrigir problemas de entendimento dos entrevistados que, na maioria dos casos, são produtores familiares”.

 

“O Censo Agropecuário é um trabalho muito complexo e a coleta de informações nem sempre é aplicada por profissionais com um conhecimento do setor , com discernimento para corrigir problemas de entendimento dos entrevistados que, na maioria dos casos, são produtores familiares”, alerta o diretor da SNA Fernando Pimentel. Foto: Arquivo SNA

Especialista, entre outros segmentos da economia, em seguro rural, crédito e financiamento agropecuário, o diretor da SNA salienta que o Censo do IBGE é uma importante ferramenta de informação para ambos os setores do agronegócio, sobretudo no que diz respeito à produtividade, nível de tecnologia, entre outras áreas.

“A maior parte daquilo que interessa, de fato, aos financiadores e seguradores, é o que vem nos levantamentos de safras operados anualmente. O Censo é mais útil para o direcionamento das políticas públicas para a agropecuária, tais como o plano agrícola e o plano plurianual (o que já é desejável). Também é importante para as políticas sociais ligadas ao campo”, explica Pimentel.

 

IMPORTÂNCIA DO LEVANTAMENTO

Também diretor da SNA e secretário municipal de Agricultura e Abastecimento de Resende (RJ), Alberto Figueiredo reforça que o Censo Agropecuário é fundamental para todos os produtos do agro.

“Além das estatísticas de produção, volume e valores, ele indica o número e o tamanho das propriedades, uso de mão de obra, níveis de remuneração, etc.”, ressalta ele, que também representa a SNA na Câmara Setorial da Cadeia do Leite, no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa).

Segundo Figueiredo, “todos os planejamentos de políticas governamentais, municipais, estaduais e federal dependem desses dados”. “O adiantamento dessa pesquisa inibiu muitas ações públicas e privadas pelo desenvolvimento rural.”

O diretor da SNA, no entanto, critica o brusco corte de gastos: “Isso pode se tornar um problema sério, pois corremos o risco de caminharmos com vendas nos olhos, se os dados finais não condizerem com a realidade no campo”.

 

Para o diretor da SNA Alberto Figueiredo, “todos os planejamentos de políticas governamentais, municipais, estaduais e federal dependem desses dados (do Censo Agropecuário)”. “O adiantamento dessa pesquisa inibiu muitas ações públicas e privadas pelo desenvolvimento rural.” Foto: Arquivo SNA

PROCESSO SELETIVO

Conforme também anunciou o IBGE, ainda no mês de abril serão abertas as inscrições dos dois processos seletivos simplificados para os temporários que atuarão no Censo Agropecuário 2017. Serão abertas 26.010 vagas, sendo que 171 serão destinadas a profissionais com nível superior de escolaridade, em 18 diferentes áreas de conhecimento. O restante das vagas restantes será voltada para o nível médio escolar.

Ao todo, serão abertos postos de trabalhos temporários em pouco mais de quatro mil municípios brasileiros. Veja os detalhes das vagas em uma tabela publicada pelo IBGE, por unidade da Federação. Acesse o link  encurtado ow.ly/OJxM30axPd5.

Os números definitivos serão divulgados nos editais dos dois processos seletivos, cuja publicação está prevista para os próximos dias 10 e 24 de abril. A Fundação Getúlio Vargas (FGV) é a empresa contratada para ministrar o processo seletivo em todo o país.

 

Por equipe SNA/RJ com informações do IBGE

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