Revista Safra: “IBGE e Conab foram extremamente pessimistas com números da safra”, diz dirigente da SNA

Divulgação/SNA

 

Recentemente, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em seu Levantamento Sistemático da Produção Agrícola (LSPA), soltou a informação de que a safra de grãos 2017/2018 deve recuar 5,6% na comparação com a anterior. A notícia pegou o setor agrícola de surpresa, tendo em vista o otimismo dos agricultores com a atual safra.

Para o vice-presidente da Sociedade Nacional de Agricultura (SNA), Helio Sirimarco (foto), os dados são pessimistas. E o dirigente vai além, aos mostrar números do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA, na sigla em inglês), que em seu relatório publicado no dia 11 deste mês estima a safra de soja brasileira em 114 milhões de toneladas. Sirimarco conversou por e-mail com a reportagem da Safra e tocou em outros pontos, como infraestrutura e exportações globais.

“Acho que o IBGE e a Conab (Companhia Nacional de Abastecimento), que também divulgou estimativa ontem (8/3), foram extremamente pessimistas. Só para fins de comparação, o USDA, que também divulgou um relatório ontem (11/03), estimou a safra de soja brasileira em 114 milhões de toneladas”, diz, ao lembrar as 113,2 milhões de toneladas previstas pelo IBGE e as 113 milhões de toneladas pela Conab. Com relação ao milho, a diferença é maior, afirma, sendo que a estimativa do USDA é de 94,5 milhões de toneladas contra as 86,2 milhões de toneladas estimadas pelo IBGE e as 87,3 milhões de toneladas, pela Conab.

Na avaliação de Sirimarco, quando os números são comparados com os das consultorias, a diferença da estimativa da safra de soja é ainda maior. A AgRural, no último dia 5, divulgou uma estimativa de 117,9 milhões de toneladas, um novo recorde. “Se compararmos esse número com o da Conab, a diferença é de 4,9 milhões de toneladas. É importante ressaltar que, em se confirmando a estimativa da AgRural, a safra brasileira ficará apenas 1,6 milhão de toneladas abaixo da safra americana”, pondera.

Com relação ao milho, os números estão mais próximos. Mesmo assim, a estimativa da AgRural é de uma safra maior, de 89,9 milhões de toneladas, lembra o dirigente. Convicto do pessimismo dos órgãos brasileiros que acompanham a safra de grãos, ele diz que, em relação à colheita, segundo a AgRural, a da safra de soja 2017/2018 do Brasil alcançou 48% da área total até quinta-feira, 8, contra 56% há um ano e 46% da média de cinco anos, informou a consultoria AgRural na última sexta-feira, 16.

Conforme ressalta Sirimarco, a AgRural também destacou que a colheita da soja seguiu sem maiores percalços em todo o País, avançando 13% em uma semana, e já está praticamente concluída no oeste do Paraná e no norte e oeste de Mato Grosso. Com relação ao milho, a colheita da primeira safra de 2017/2018 no centro-sul do país alcançou 28% da área, contra 24% na semana anterior. A AgRural informou ainda que o plantio da segunda safra do milho 2017/2018 atingiu 81% da área, em comparação aos 88% no ano passado e dos 81% da média de cinco anos.

Questionado sobre os efeitos climáticos na atual safra, sobretudo quando observadas perdas pontuais em algumas regiões produtivas, Sirimarco concorda que, na “fase inicial da safra, o tempo realmente não ajudou, já que, sobretudo, a falta de chuva atrasou o plantio em várias regiões produtoras. Contudo, as condições climáticas em fevereiro mudaram o quadro”.

A AgRural justifica o aumento das suas estimativas dizendo que “o crescimento se deve a ajustes de produtividade em diversos estados, com destaque para os do Matopiba (Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia). Com chuvas muito favoráveis, a produtividade nos quatro estados foi elevada para níveis recordes”.

Sirimarco também lembra que a Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Rio Grande do Sul (Emater-RS) divulgou um relatório no dia 8 informando que “apesar dos problemas causados pela estiagem, a atual safra do RS não será tão prejudicada”. Segundo o relatório, “mesmo que o cenário perdure e ainda que perdas aumentem em determinadas áreas, parece certo que o total a ser colhido das culturas de verão se situará entre as três melhores safras da história, com uma produção de 30,2 milhões de toneladas”.

Logo, a safra de soja não foi afetada, acredita ele. A safra de verão do milho, por outro lado, teve a área de plantio reduzida em função da queda de preço do grão. Já o arroz foi afetado pelas condições climáticas que acabaram reduzindo não só a área plantada, como também a produtividade.

Se a produção e a produtividade caminham bem, o cenário é de melhoria no quadro das exportações. “O Brasil deverá exportar um recorde de 71,3 milhões de toneladas de soja em 2018, estimou a Agroconsult em uma revisão que se segue à de outras consultorias após a quebra da safra na Argentina. No ano passado, os embarques da oleaginosa pelo Brasil, maior exportador mundial da commodity, somaram pouco mais de 68 milhões de toneladas.”

Com relação ao milho, as estimativas são de que o Brasil exporte 35 milhões de toneladas, o que corresponderiam a 22,7% dos embarques globais. “Só para se ter uma ideia, há 20 anos, o Brasil exportou apenas 6 milhões de toneladas, menos de 1% do total mundial.”

Otimista, o executivo acredita que a expectativa é de que o Brasil venha a superar os Estados Unidos como o maior exportador de milho dentro de cinco anos, dando fim a décadas de domínio norte-americano do mercado de um dos alimentos básicos do mundo. “Produtores dos EUA, que por gerações se orgulham de estar no celeiro do mundo, agora sofrem com os preços dos grãos e infraestrutura envelhecida. Os esforços de Washington para renegociar acordos comerciais também podem afetar as exportações.”

Se nos Estados Unidos o cenário parece pouco favorável, o Brasil já colhe os benefícios dos investimentos maciços em infraestrutura para a exportação. Claro que levando em conta os gargalos da logística nacional, responsáveis por perdas significativas do campo até a mesma do consumidor. “Em 2012/2013, o País ultrapassou os EUA como maior exportador de soja. Três anos depois, a Rússia desbancou os EUA do primeiro lugar na exportação de trigo.”

Sirimarco traz à memória afirmação do presidente da consultoria Soybean and Corn Advisor (consultoria de soja e milho, em tradução livre), Michael Cordonnier, para quem daqui a cinco ou dez anos o Brasil vai competir com os EUA para ser o primeiro exportador de milho do mundo. “Isso porque eles (os agricultores brasileiros) têm terra, com centenas de milhões de hectares para produção, têm o clima e o know-how. Bilhões de dólares investidos nos portos do Brasil, principalmente no Norte, encerraram anos de atrasos crônicos na exportação, tornando o envio mais barato, impulsionando compras de consumidores como a China.”

 

Fonte: Portal Revista Safra, com informações da Sociedade Nacional de Agricultura

Facebook
Twitter
LinkedIn
WhatsApp