Dinheiro Rural: artigo de Antonio Alvarenga sobre os desafios da educação e capacitação no campo

 

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‘É inevitável que as empresas do agronegócio modernizem e profissionalizem sua gestão’, garante Alvarenga

 

O agronegócio brasileiro tem prosperado graças às boas condições naturais do País, ao desenvolvimento de tecnologias apropriadas e à capacidade empreendedora e extrema dedicação de nossos produtores. A crescente demanda por alimentos no mundo, decorrente do aumento da população e do inevitável processo de urbanização, manterá o setor em franco crescimento nas próximas décadas. O Brasil será, cada vez mais, um player importante no cenário do agronegócio globalizado. E, para tirar o melhor proveito dessa privilegiada posição, o país precisa investir na educação, no conhecimento científico e na qualificação profissional do homem do campo. Essas são alavancas indispensáveis para o desenvolvimento de qualquer setor econômico.

Também é inevitável que as empresas do agronegócio modernizem e profissionalizem sua gestão, principalmente nas áreas de produção, tecnologia, logística, financeira e comercial. A obtenção de pequenos ganhos nos processos de produção, na logística e na comercialização dos produtos pode representar uma considerável elevação na lucratividade dos empreendimentos do setor. As flutuações dos preços nos mercados de commodities precisam ser cuidadosamente monitoradas, com o acompanhamento das projeções de produção, consumo e estoques.

Também a logística de toda a cadeia de produção, armazenagem, transporte e comercialização é fator decisivo na lucratividade das empresas. A racionalização, o controle dos custos e da rentabilidade são essenciais. As operações financeiras e questões jurídicas são as mais diversificadas e complexas. Há necessidade de cumprir diversos dispositivos legais, que se alteram e se multiplicam freneticamente, nas esferas fundiária, ambiental e econômica. Modernas ferramentas de marketing precisam ser adotadas, sobretudo Exterior, para abrir novos mercados e exportar com maior valor agregado. A agroindústria brasileira deve estar em sintonia com nossa moderna agropecuária empresarial.

Nas profissões de conteúdo técnico serão valorizadas as atividades ligadas à criação de animais, considerando o processo de intensificação de nossa pecuária, ainda muito extensiva. Também haverá demanda por profissionais relacionados à plantação e exploração de florestas, segmento que deverá ter crescimento acentuado nos próximos anos. A “economia verde” e os temas relacionados à preservação ambiental e à exploração da riquíssima biodiversidade do País estarão cada vez mais presentes. São áreas nas quais há carência de conhecimento específico e profissionais qualificados.

No entanto, apesar de toda sua importância econômica e promissoras perspectivas, a imagem do agronegócio é distorcida perante o cidadão urbano. Esse é o principal desafio para elevar o nível de profissionalização do setor. O Brasil tem uma cultura urbana muito arraigada e preconceito em relação ao setor rural. As atividades industriais, comerciais e financeiras são mais valorizadas, em detrimento das atividades do setor agropecuário. Os jovens preferem morar nas cidades, trabalhar nas indústrias, no comércio, no setor bancário e em serviços públicos. Essa preferência urbana reflete-se negativamente no campo, acarretando deficiências de profissionais qualificados para atender à crescente demanda do setor.

Dessa forma, embora existam grandes oportunidades profissionais no agronegócio, as instituições de ensino brasileiras, de maneira geral, continuam formando alunos “urbanos”. É uma visão preguiçosa, de curto prazo, que prejudica o desenvolvimento do campo. O Ministério da Educação e Cultura e as instituições de ensino precisam sair da inércia que lhes é peculiar e acordar para essa nova realidade do Brasil, concedendo maior atenção ao setor que garante o equilíbrio à sua balança comercial. A chave do sucesso dos profissionais que serão responsáveis pelo futuro de nosso agronegócio é possuir uma sólida formação e capacitação específica em suas respectivas áreas de atuação. E cabe ao País garantir um caminho para isso.

Por Antonio Alvarenga, presidente da Sociedade Nacional de Agricultura, para a nova edição da Dinheiro Rural

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