Regeneração de áreas desflorestadas é 2,5 vezes maior que o desmatamento, entre 2008 e 2012

Entre 2008 e 2012, as áreas inalteradas de vegetação secundária da Amazônia, portanto em regeneração, que perfazem 113 mil Km2 , foram 2,5 vezes maiores do que o total desmatado no mesmo período – 44 mil km2. Os dados são resultantes do terceiro relatório do TerraClass, projeto executado por meio de parceria entre a Embrapa e o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), que visa mapear o uso das áreas desflorestadas da região. A agricultura ocupou apenas 2% dos desflorestamentos recentes na região, uma vez que a atividade está avançando, prioritariamente, sobre áreas de pastagens.

Esses resultados foram apresentados na quarta-feira, 26 de novembro, pelo presidente da Embrapa, Maurício Lopes, durante entrevista coletiva conduzida pela ministra Izabella Teixeira, do Meio Ambiente (MMA), e pelo ministro Clelio Campolina Diniz, da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI). O TerraClass é uma iniciativa interministerial que envolve também o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, representado, na coletiva, por Erikson Chandoha, Diretor do Departamento de Cooperativismo e Associativismo. O projeto é coordenado pelo MMA e tem o apoio financeiro do Banco Mundial.

A área mapeada em 2012, que resulta nesse terceiro relatório, é 43,5 mil km2 maior à que deu origem ao relatório de 2008, o primeiro produzido pelo TerraClass.

Perspectiva
“Costumamos olhar a ocupação de áreas na Amazônia sob a perspectiva do desmatamento. Mas os dados mostram a possibilidade de outro olhar: o da recuperação de floresta, em especial nas áreas de pastagens”. Sobre a pequena parcela de responsabilidade da agricultura, Lopes ressaltou que o esforço de integrar lavoura-pecuária e de expandir a agricultura em áreas de pastagens e, prioritariamente, nas de pastagens degradadas, está “surtindo efeito”. Os dados indicam que 15% de pastagens de 2010 tornaram-se lavouras em 2012, reduzindo a pressão da agricultura sobre novas áreas e diminuindo seu impacto sobre o desflorestamento.

Adriano Venturieri, pesquisador e chefe da Embrapa Amazônia Oriental (Belém, PA), e Alexandre Coutinho, pesquisador da Embrapa Informática Agropecuária (Campinas, SP), que estão à frente do projeto pela Embrapa, reforçam a observação de Maurício Lopes sobre a questão da perspectiva. “A ideia geral é que tudo que foi desflorestado está sendo utilizado de alguma forma. Mas o que se observa é que parte das áreas que um dia foram desflorestadas encontram-se em processo de regeneração. E ninguém falava sobre essa regeneração mostrada pelo TerraClass. Isso é importante na perspectiva de sequestro de carbono, das questões relacionadas a clima e para quem planeja políticas agrícolas para a região”, diz Venturieri

Coutinho ressalta que o terceiro relatório confirma tendências já mostradas na segunda versão: o crescimento da agricultura anual intensiva sobre as áreas de pastagens, num processo de recuperação via intensificação de uso e integração lavoura-pecuária, e a manutenção da taxa de crescimento da classe vegetação secundária. “Vinte e dois por cento do total de áreas detectadas como desflorestadas encontram- se, atualmente, em regeneração e aparecem na classe vegetação secundária”, conclui o pesquisador.

Histórico
O TerraClass qualifica as áreas mapeadas pelo Programa de Monitoramento do Desflorestamento na Amazônia Legal (Prodes), sistema do INPE que contabiliza anualmente o desmate por corte raso na Amazônia Legal com base em imagens de satélites. O Prodes foi criado em 1988 em atendimento a demandas do Ministério do Meio Ambiente e do Ministério da Ciência e Tecnologia.

Em 2008, o ministro da Agricultura, Pecuária e Abastecimento na época, Reinhold Stephanes, reuniu pesquisadores e técnicos da Embrapa e do Inpe  e solicitou a qualificação das informações relacionadas às taxas de desflorestamentos observadas na região da Amazônia Legal, calculadas pelo Prodes.  Inpe e Embrapa, então, reuniram esforços para formulação e execução de um projeto que permitisse apresentar, de forma numérica e espacialmente explícita, a qualificação das áreas desflorestadas da Amazônia. O projeto, o TerraClass, recebeu, em 2010, o apoio do Programa Piloto para Proteção das Florestas Tropicais do Brasil (PPG-7) também coordenado pelo Ministério do Meio Ambiente.

O TerraClass considera, na descrição do uso e da cobertura da terra, as classes temáticas Agricultura Anual, Pasto Limpo, Pasto Sujo, Pasto com Solo Exposto, Regeneração com Pasto, Vegetação Secundária, Mosaico de Ocupações, Mineração, Área Urbana e Reflorestamento.

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