Produtores integrados dos frigoríficos suspensos amargam prejuízos por falta de abate

A cadeia de aves do Brasil deve ser a mais afetada pela operação Carne Fraca deflagrada pela Policia Federal, na última sexta-feira (17 de março). Pelo ciclo relativamente curto de produção, se comparado às demais proteínas, o setor convive com preocupação diária sobre os desdobramentos das denúncias.

No Brasil, mais de 90% da produção é baseada no sistema de integração, portanto, depois das denúncias na última semana, os avicultores que destinam sua produção aos frigoríficos interditados não sabem quando, ou se vão, podem entregar as aves para o abate.

Das 21 unidades frigoríficas investigadas, três tiveram suas atividades suspensas: BRF, em Mineiros (GO), que produz frango, chester e peru e duas fábricas do grupo Peccin Agro Industrial (PR e SC) que produz embutidos.

Em Goiás, a Associação Goiana de Avicultura (AGA), confirmou que as granjas que atendem a BRF estão operando dentro da normalidade. “Já estão esclarecendo o erro de interpretação em relação ao papelão aqui no frigorífico, então acreditamos que os abates possam voltar em breve”, disse o presidente da entidade, Cláudio Faria.

Enquanto a unidade em Mineiros não retoma suas atividades, os avicultores seguem com os animais alocados nas granjas, sem previsão de novos alojamentos e, mais grave, não sabendo quando poderão entregar essa produção. Por dia, 25.000 aves deveriam seguir para a unidade de processamento da BRF, mas estão em cativeiro, e continuam a engordar.

Ao permanecerem nas granjas, as aves ultrapassam o peso máximo e não prejudicam a linha de produção por conta da configuração técnica da fábrica. Além de não atenderam as exigências de alguns compradores internacionais.

O mesmo vale aos suinocultores integrados que atendem os frigoríficos paralisados. Em entrevista ao Notícias Agrícolas, o sócio da Agrosolution Consultoria em Defesa Agropecuária, Ênio Marques, afirmou que a cadeia de granjeiros será a mais afetada com os transtornos da operação, especialmente os que fazem parte da rede de fornecimento aos estabelecimentos investigados.

“Não se tem o abate, mas os animais não podem passar mais do que um período nas granjas. E quem vai pagar essa conta? São esses produtores que terão grande prejuízo, em um momento sensível”, disse Marques.

De acordo com o presidente da APA (Associação Paulista de Avicultura), Érico Pozzer, nesses casos que os animais não saem para o abate, há um custo adicional de ração em um período onde a conversão alimentar é reduzida. Além disso, caso a situação venha a se normalizar nos próximos dias, essas aves serão abatidas com peso superior, aumentando a disponibilidade de carne do mercado interno.

E mesmo que os custos de manutenção nas granjas sejam bancados pelas integradoras, a situação é complicada aos produtores. Segundo Pozzer, uma demora na solução dos problemas obrigaria as empresas reduzirem de 10% a 15% a produção, ou seja, o volume de animais alojados e consequentemente a renda do produtor.

No último ano a cadeia de proteína animal, com ênfase nos granjeiros, acumulou sérios prejuízos em função do alto custo com a nutrição animal. Os preços do milho chegaram a superar R$ 50,00 a saca em algumas regiões, forçando a redução na produção.

Para Marques, será preciso alongar dívidas, criar linhas de crédito especial, que garantam os produtores na atividade, após mais esse caso que deverá onerar a rentabilidade dos granjeiros.

No Paraná, o diretor e presidente da LAR Cooperativa Agroindustrial, Irineo da Costa Rodrigues, informou que contêineres com destino a China estão proibidos de desembarcar.

São ao todo 217 contêineres, dos quais 45 já estão em portos chineses, outros 127 em trânsito e mais 45 carregados em Paranaguá. Os embarques totalizam 6.000 toneladas de carne de frango, no valor de US$ 12 milhões.

 

Fonte: Notícias Agrícolas

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