Presidente da SNA defende legislação mais eficaz para evitar desperdício de alimentos

Antonio Alvarenga: "De um lado, há uma perda grande, e de outro, em torno de dez a doze milhões de subalimentados que poderiam estar consumindo esses alimentos que acabam indo para o lixo" Foto: Raul Moreira/Arquivo SNA
Antonio Alvarenga: “De um lado, há uma perda grande, e de outro, em torno de dez a doze milhões de subalimentados que poderiam estar consumindo esses alimentos que acabam indo para o lixo” Foto: Raul Moreira/Arquivo SNA

 

Um terço dos alimentos produzidos no mundo é perdido ou desperdiçado, segundo dados da Organização das Nações Unidas (ONU). A perda acontece não só durante o consumo, mas nas etapas anteriores: produção, transporte e distribuição.

O presidente da Sociedade Nacional de Agricultura (SNA), Antônio Alvarenga, em recente entrevista para o programa Rio em Foco, da TV Alerj, defendeu uma legislação mais eficaz para combater o desperdício.

“No Brasil, os restaurantes evitam doar o que sobra de comida com medo das responsabilidades, já que a lei não ampara esta prática. Na França, por exemplo, os supermercados não podem jogar nada fora no final do dia. São obrigados a doar”.

INCENTIVO À DOAÇÃO

Alvarenga acredita que “o País precisa ter uma legislação que incentive e não iniba a doação de alimentos”.

No caso brasileiro, há impedimentos jurídicos para que essa doação seja feita, não só por parte dos restaurantes como também pela indústria de alimentos. É o que observa Teresa Corção, presidente do Instituto Maniva. Ela explica que “existem projetos de lei tramitando há 20 anos para resolver essas questões jurídicas a fim de que se possa evitar a ilegalidade na tentativa de fazer uma coisa boa”.

PERDAS NO PROCESSO PRODUTIVO

Enquanto isso, o desperdício continua a crescer. Na avaliação do presidente da SNA, “o País perde cerca de 30% dos alimentos em toda a cadeia produtiva, desde a colheita até o consumidor”. Para ele, o problema pode ser atribuído a diversos fatores, entre eles, à falta de capacitação dos profissionais do setor agrícola e às deficiências na infraestrutura de transporte.

“Nossa safra é transportada em caminhões por estradas muitas vezes em estado absolutamente precário. Nesse processo, muitos alimentos são desperdiçados, também na fase de industrialização. Nosso prejuízo é muito superior ao que existe em todo o mundo”, destaca Alvarenga.

Segundo ele, deveria haver uma conscientização envolvendo desde o produtor até o consumidor em relação a essas perdas.

“Nos supermercados, as donas de casa quando vêem um hortigranjeiro um pouco amassado, de aspecto feio ou, por exemplo, um cacho faltando uma banana, elas não compram o produto, que acaba estragando. Então, o que se vê é o seguinte: de um lado, uma perda grande, e de outro, em torno de dez a doze milhões de subalimentados que poderiam estar consumindo esses alimentos”.

INVESTIMENTOS

Em relação à atividade agrícola, Alvarenga ressalta que, mesmo com a ajuda da tecnologia para evitar desperdícios, como no caso da mecanização, o importante é que os profissionais do setor sejam capacitados. “Para evitar perdas na produção precisamos ter mais investimentos em qualificação de pessoal, equipamentos, armazenagem e transporte”.

ALTERNATIVAS

Por outro lado, algumas iniciativas tentam combater o problema. É o caso do programa Banco de Alimentos das Centrais de Abastecimento do Estado do Rio de Janeiro (CEASA-RJ), que, somente em 2015, evitou o desperdício de 600 milhões de toneladas de alimentos, que foram doados para mais de 230 instituições, entre elas, hospitais, ONGs, creches e asilos.

Além das doações, outra saída para evitar o desperdício de alimentos (no caso de não poderem ser aproveitados) é a compostagem, ou seja, a transformação desses alimentos em adubo.

Porém, Alvarenga vê com reservas essa iniciativa. “Alguns supermercados realizam esse processo, mas só que não existe demanda para tanta compostagem. A solução seria mesmo o incentivo à doação de alimentos não padronizados. A agroindustrialização dos alimentos também é uma boa saída. Por exemplo, selecionar frutas que não estão dentro dos padrões de consumo e transformar em suco ou compota. Aí você abre um outro mercado, mas é preciso também conscientizar os consumidores sobre isso”.

Se a ordem é evitar o desperdício, o aproveitamento integral dos alimentos é outra alternativa. “Há determinados produtos, como a beterraba, que a dona de casa pode aproveitar as folhas. E é importante ressaltar que um alimento de aspecto feito tem o mesmo valor nutritivo que um alimento bonito”, afirma o presidente da SNA.

Seja qual for a forma de aproveitamento, para Alvarenga a higienização é um fator importante a ser considerado em qualquer alimento. “Tanto os alimentos que levam agrotóxicos quanto os orgânicos devem ser higienizados, naquele processo onde se utiliza água com duas colheres de água sanitária, deixando depois por 40 minutos, para eliminar qualquer espécie de resíduo”.

VALOR

Enfim, não importa se é feio, se não é padronizado ou “se passou um pouco do tempo”. Na visão do presidente da SNA, “alimento é um bem, é valor que não pode ser desperdiçado, e temos de nos conscientizar disso”.

 

Assista na íntegra a entrevista com Antonio Alvarenga:  Programa Rio em Foco

 

 

Por Equipe SNA, com informações da TV Alerj

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