Piscicultura é tratada como novo agronegócio de Rondônia ao crescer 300% em 3 anos

 A piscicultura de Rondônia tem atraído os olhares de novos investidores, garante o deputado federal Moreira Mendes (PSB-RO)
A piscicultura de Rondônia tem atraído os olhares de novos investidores, garante o deputado federal Moreira Mendes (PSB-RO)

 

O novo agronegócio de Rondônia. É assim que a piscicultura vem sendo tratada na região, dado o desempenho impressionante da atividade nos últimos três anos, que cresceu 300% no período.  A informação é do superintendente Giovan Damo, da Superintendência Federal de Aquicultura e Pesca no Estado.

“Há três anos, produzíamos em torno 16 mil toneladas. Em 2013, fechamos com aproximadamente 65 mil toneladas de peixes e, neste ano, pretendemos encerrar com 80 mil”, prevê.

“O resultado tem sido tão surpreendente que a piscicultura vem sendo tratada como o novo agronegócio de Rondônia”, salienta Damo.

Além da produção de peixes, o agronegócio da região é voltado para a cadeia leiteira, cafeicultura e bovinocultura, com destaque para a pecuária de corte.

Para o sucesso do setor, os piscicultores locais têm preferido os sistemas em cativeiro e tanques escavados, porque eles diminuem a pesca nos rios e ainda oferecem melhor manejo e controle da produção em quantidade e qualidade.

“Produzimos, principalmente, pirarucu e tambaqui, além de pintado e jatuarana”, especifica.

A maior parte da produção de tambaqui (cerca de 90%), por exemplo, é exportada para Manaus, no Amazonas, onde o consumo de peixes é de 40 quilos por pessoa ao ano.

“O governo vem incentivando o consumo de pescado no País, principalmente com a inclusão do item na merenda escolar. Hoje, o consumo médio do brasileiro é de quatro a cinco quilos por pessoa ao ano, mas a intenção é elevar para nove quilos.”

De acordo com o superintende federal, Rondônia possui dois frigoríficos com inspeção federal (SIF): um, no município de Ariquemes (Zaltana Pescados); e outro, na cidade de Vilhena (Santa Clara). A região ainda conta com três fábricas de rações extrusadas e 12 laboratórios para produzir alevinos (peixes recém saídos do ovo).

 

 Giovan Damo, da Superintendência Federal de Aquicultura e Pesca de RO: acesso ao crédito contribuiu para crescimento da atividade
Giovan Damo, da Superintendência Federal de Aquicultura e Pesca de RO: acesso ao crédito contribuiu para crescimento da atividade

 

“O apoio do governo estadual e do Ministério da Pesca e Aquicultura (MPA) têm sido fundamentais para o crescimento da piscicultura em Rondônia. Tanto que há três novos projetos em andamento para a construção de mais três frigoríficos no Estado. Além disso, os piscicultores têm tido mais acesso ao crédito, por meio do Plano Safra”, informa.

O superintendente de Aquicultura e Pesca lembra que, somente no ano passado, os produtores de peixes tiveram R$ 4,1 bilhões disponíveis para financiamento pelo Plano Safra 2013/2014. Para este ano, o programa deve disponibilizar praticamente a mesma quantia, segundo informações do MPA. Para o piscicultor se informar sobre o assunto, basta acessar www.mpa.gov.br/safra.

 

GARGALOS

Na opinião do deputado federal Moreira Mendes (PSD-RO), líder do partido na Câmara, apesar da burocracia do Plano Safra, principalmente no que diz respeito ao licenciamento ambiental, os piscicultores, aos poucos, estão conseguindo ter mais acesso ao crédito.

“Vemos o crescimento da piscicultura com grande entusiasmo, depois de a Amazônia ter sido a grande vítima do Código Florestal, por causa da redoma que se colocou em torno dela”, critica o parlamentar.

“Não conseguimos reduzir os 80% da reserva legal da Amazônia. Hoje, temos 18% de extensão de área de propriedades privadas e imaginem ter ainda de trabalhar 80% em cima disso. Sobra muito pouco, mas o momento nos leva à reflexão de que precisamos produzir com mais qualidade, já que não temos como expandir nossa área, e ainda racionalizar o uso da terra. É uma tarefa de que certamente esta e as próximas gerações vão dar conta do recado”, salienta Mendes.

Para o deputado, o grande gargalo da piscicultura ainda é a infraestrutura.

“Comercializamos peixes para Manaus, por exemplo, ainda in natura, ou seja, no gelo. Um dos frigoríficos de Rondônia vem trabalhando em três turnos para atender a demanda. Por isso, precisamos de novos frigoríficos, pois temos observado um interesse maior de outras regiões brasileiras pelo nosso pescado, principalmente do Sudeste”, ressalta.

A boa notícia, continua Mendes, é o que os investimentos não param.

“Apesar de termos fechado 2013 com a produção de cerca de 65 mil toneladas de peixes, o produto foi vendido por um preço ruim, mas agora reagiu. Isto, associado a outros fatores, tem atraído novos investidores para Rondônia”, informa.

 

ESTADO TEM MAIS DE 4 MIL PISCICULTORES LICENCIADOS 

Com aproximadamente 238 mil quilômetros quadrados de área e uma população de quase 1,7 milhões de habitantes, Rondônia conta atualmente com mais de 4 mil piscicultores licenciados pela Secretaria Estadual de Desenvolvimento Ambiental (Sedam). Dados do órgão também mostram que são 3.250 propriedades licenciadas, sendo que 80% se dedicam à produção de pintado, pirarucu, jatuarana e tambaqui.

“O Ministério da Pesca e Aquicultura vem trabalhando para igualar o número de licenças registradas pela Sedam. Ou seja, está incentivando para que os produtores de peixes retirem o licenciamento também no órgão federal, até para tornar seu negócio regularizado e competitivo”, ressalta.

Ao sucesso do agronegócio local, Damo atribui, especialmente, ao clima de Rondônia, que favorece a criação de peixes.

“Temos dois ou três dias de frio por ano, com temperaturas de 13º C, 14º C. Ou seja, o clima equatorial com seis meses de seca e seis de chuva nos favorece.”

Para melhorar o agronegócio em Rondônia, assim como em todo o País, na opinião de Damo “só falta atrair novos investidores e tornar a excelente quantidade e qualidade do pescado em maior valor agregado do peixe para o bolso do produtor”.

 

EXPORTAÇÃO

Ainda em pequena escala, ele informa que peixes do tipo pirarucu já começam a ser exportados para os Estados Unidos, Suíça e Japão.

“Um frigorífico do Mato Grosso do Sul está processando e exportando o pescado, porém ainda está em fase de teste. Eles estão observando se haverá boa aceitação e demanda do mercado externo ao peixe de Rondônia.”

De acordo com o superintendente, todo mês são processadas 30 toneladas de pirarucu nessa empresa, localizada no município de Itaporã (MS). Entre janeiro de 2013 e novembro do mesmo ano, foram 292,5 toneladas da espécie.

“Somente para os EUA, no ano passado, foram comercializadas 22,4 toneladas de filé de lombo de pirarucu, em 2013.”

 

TANQUE ECOLÓGICO É NOVIDADE PARA SETOR

De olho no crescimento da piscicultura no Brasil, empresas do setor têm comercializado novas tecnologias. É o caso da Escama Forte, de São Paulo com representação em Rondônia. Durante a feira Rondônia Rural Show, realizada de 21 a 24 de maio passados, a empresa expôs dois tanques ecológicos (de 12 mil e 20 mil litros) capazes de criar até 600 quilos de peixes.

O tanque conta com compressores e filtros de limpeza biológica da água. Rica em matéria orgânica, o líquido é reaproveitado em hortas, pastagens (principalmente da bovinocultura) e nas plantações de açaí e cacau, por exemplo.

 

Carlindo Pinto Filho
Carlindo Pinto Filho:  uso do tanque ecológico é vantajoso para a criação de pirarucu

 

Idealizado e coordenado pelo médico veterinário Carlindo Pinto Filho, com a parceria do engenheiro florestal Marcos Carvalho, da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado de Rondônia (Emater-RO), o projeto de piscicultura de pirarucu em tanques ecológicos de lona, com reaproveitamento dos resíduos para fertirrigação de outras culturas, foi criado inicialmente para atender aos assentados de Santa Rita.

Retirados de uma área onde, mais tarde, foi construída a Hidrelétrica Santo Antônio, os piscicultores da agricultura familiar vivem atualmente em um local a 54 quilômetros da capital Porto Velho (RO), em área de 11 hectares, às margens da BR-364 no sentido Acre.

“O tanque ecológico foi criado, a princípio, para atender a aproximadamente 150 famílias remanescentes do Assentamento Joana D’arc”, informa Carlindo.

“O modelo proposto para pequenos produtores/agricultores familiares é composto de dois tanques de lona-vinil com 50 mil litros cada, com produção de 50 quilos por metro cúbico”, informa o médico veterinário. Mas a criação se estendeu para outras localidades, inclusive privadas.

 

Tanque
Tanque ecológico foi criado para atender a cerca de 150 famílias remanescentes do Assentamento Joana D’arc

 

“Atualmente, estão instalados projetos (do tanque ecológico) no assentamento de Santa Rita, para a fertirrigação de açaí; em uma propriedade privada produtora de leite, com fertirrigação de pastagens para vacas leiteiras, visando o aumento de produção na mesma área de pastagem; e em uma unidade chamada Fazendinha, em Ouro Preto do Oeste (RO), com fertirrigação do cacau, já com resultados positivos atestados pelo proprietário”, exemplifica.

 

CRIAÇÃO DE PIRARUCU

Carlindo informa que, para a criação de pirarucu, o uso do tanque ecológico é vantajoso por aceitar facilmente ração comercial, possuir rápido crescimento (até 10 kg/ano), suportar o adensamento, tolerar situações críticas de qualidade de água, e reproduzir naturalmente em viveiros e barragens.

“Também não há necessidade de se ter sistemas de aeração nos tanques, já que o pirarucu respira fora d’água”, ressalta.

Agora, o projeto idealizado por Carlindo está sendo comercializado para outros Estados. Diretor da Escama Forte, André Camargo reforça que, recentemente, a empresa onde trabalha em parceria com a Eccos da Amazônia de Porto Velho (sua representante em Rondônia), expôs duas unidades dos tanques ecológicos (de 12 mil e 20 mil litros), durante a Rondônia Rural Show.

“Ambas as empresas querem trazer ajustes tecnológicos aos projetos iniciais, visando a melhoria no rendimento da produção, por acreditarem fortemente no potencial de Rondônia para a produção de peixes, principalmente no potencial do pirarucu. Além disso, estamos exportando a novidade para outros Estados brasileiros”, afirma Camargo.

 

SAIBA MAIS

Na piscicultura, existem sistemas de criação de peixes que valem a pena serem citados. É o caso do escavado – o mais tradicional de todos e que conta com uma produtividade de até 2,5 quilos por metro quadrados, conforme a tecnologia utilizada, a exemplo do aerador.

Já o sistema em tanques-rede foi criado para aproveitar as águas de grandes lagos e represas. São mais modernos por serem construídos com armações metálicas e boias para flutuação, ou estruturas flutuantes de polietileno. O método propicia a criação de até 120 quilos por metro quadrado de peixe, de acordo com a espécie e tipo de cultivo.

Por fim, o sistema raceway, que ainda é menos conhecido, é composto por tanques revestidos por concreto, geomembrana, entre outros materiais similares. A maior dificuldade dele seria a alta renovação de água para atingir uma produção de até 150 quilos por metro cúbico.

Por equipe SNA/RJ

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