Oleaginosas de inverno para rotação de culturas são opção econômica e sustentável

 

Todas as culturas de inverno dão maior renda líquida que o pousio invernal, diz o pesquisador Cesar José da Silva, da Embrapa
“Todas as culturas de inverno dão maior renda líquida que o pousio invernal”, diz o pesquisador Cesar José da Silva, da Embrapa

 

Trigo, aveia, crambe, nabo forrageiro e canola são boas opções para fazer a diversificação de culturas, segundo o pesquisador da Embrapa Agropecuária Oeste, Cesar José da Silva. “O produtor pode optar pelas oleaginosas de inverno para fazer rotação de culturas com soja e milho safrinha, especialmente nas áreas onde não foi possível fazer o plantio do milho segunda safra até a data limite estabelecido pelo zoneamento de risco climático, em função da colheita tardia da soja, planejamento da propriedade ou dificuldades na semeadura do milho”, explica.

Silva diz que, mesmo nos estados do Paraná, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso e Goiás, onde a cultura do milho safrinha já é consolidada, muitas áreas são plantadas fora de época ou ficam em pousio porque o produtor não quer ariscar com o milho.

“Nestas áreas, o produtor pode optar por oleaginosas de inverno, fazendo rotação de culturas e garantindo renda através da comercialização dos grãos.”

Um dos benefícios da adoção dessas culturas de inverno é a possibilidade de utilizar a mesma estrutura de máquinas, equipamentos e pessoal que as culturas de soja, “reduzindo o impacto dos custos fixos e de oportunidade sobre a cultura de verão”.

“Outra vantagem é que, se bem posicionadas tecnicamente, todas as culturas de inverno dão maior renda líquida que o pousio invernal ou milho safrinha plantado após o período de plantio recomendado pelo zoneamento de risco climático”, complementa o especialista.

Mas os benefícios vão além da rentabilidade.

“A rotação de culturas, no longo prazo, reduz o estresse sobre o sistema solo/planta/microorganismos, resultando em maior estabilidade e dinâmica de nutrientes no solo; reduz a seleção de plantas daninhas resistentes a herbicidas; beneficia os inimigos naturais; reduz a pressão de pragas e doenças e, como consequência, a utilização de defensivos agrícolas (inseticidas, herbicidas e fungicidas)”, enumera.

O menor estresse e a maior estabilidade dos sistemas de produção resultantes da realização da rotação de culturas, continua o pesquisador da Embrapa, promove reduções nas emissões de gases de efeito estufa em função do aumento e maior estabilidade da matéria orgânica no solo.

 

ENTRAVES

Apesar das vantagens econômicas e ambientais, que, segundo Silva, vão refletir no aumento da rentabilidade das culturas tradicionais (soja e milho) no médio prazo, existem obstáculos ao aumento da adesão dos produtores às culturas de inverno.
“A dificuldade na adoção das culturas de inverno está, principamente, na falta de uma cadeia de comercialização mais bem estruturada, o que o produtor à desconfiança da garantia de comercialização e de preços competitivos na hora da venda.

De acordo com o especialista, a falta de domínio tecnológico dessas culturas também é um fator limitante, que muitas vezes leva ao fracasso na adoção de sistemas de rotação devido às baixas produtividades. Neste ponto, no entanto, ele prevê mudanças.

“Com o advento do Programa Nacional de Produção e Uso de Biodiesel (PNPB) , do governo federal, este cenário tem mudado, levando ao maior desenvolvimento de tecnologias de produção das culturas oleaginosas de inverno, bem como melhor organização da cadeia de comercialização, o que tem garantido a certeza da compra e preços atraentes para estas culturas.”

 

OLEAGINOSAS MAIS UTILIZADAS

Cada oleaginosa de inverno possui particularidades que devem ser levadas em conta em sua adoção para a rotação de culturas. Silva elenca as principais:

Canola

Os grãos de canola produzidos no Brasil possuem em torno de 24 a 27% de proteína e de 34 a 40% de óleo, sendo que o farelo de canola possui de 34 a 38% de proteínas. Por isso é uma excelente opção como suplemento protéico na formulação de rações, tanto para bovinos, como suínos, ovinos e aves. O ciclo da cultura varia de 110 a 150 dias, dependendo do cultivar e época de semeadura, e pode ser utilizado como opção em sistemas de rotação com as culturas em sistema de plantio direto.

Nabo-forrageiro
Pode ser utilizada como adubação verde, pois suas raízes auxiliam na descompactação do solo, contribuindo para melhoria de sua qualidade física. Além disso, apresenta uma elevada capacidade de reciclar nutrientes como nitrogênio e fósforo. Essa característica torna o nabo-forrageiro uma opção interessante nos sistemas de rotação das culturas do algodão, feijão milho e soja. Além disso, o nabo forrageiro também é uma opção de alimentação animal e para a produção de óleo, destinado a produção de biodiesel. O ciclo da cultura é de 130 a 180 dias, dependendo da cultivar e época de semeadura e os principais cuidados com a cultura refere-se a regulagem das colhedouras para evitar perdas de grãos e síliquas na colheita.

Crambe

Trata-se de uma planta rústica, com fácil adaptação ao plantio e de produção rápida. Seu ciclo varia de 90 a 1120 dias, dependendo da época de semeadura. A produção de óleo é uma das principais características, que varia de 36 a 38%. Como opção para alimentação animal, deve-se ter cuidado. Embora o farelo seja rico em nutrientes, é tóxico para suínos e aves. No entanto, para bovinos, cerca de 5% de farelo pode ser adicionado à ração, sem prejuízos aos animais..

Girassol

É uma cultura amplamente conhecida pela utilização dos grãos principalmente para a extração de óleo destinado para as indústrias de alimentos ou para a produção de biodiesel. A utilização da torta ou farelo obtido após o processo de extração pode ser um componente importante na fabricação de ração animal, já que possui um alto valor proteico. A recomendação de plantio é entre segunda quinzena de fevereiro a primeira quinzena de abril e o ciclo varia de 110 a 130 dias, dependendo do cultivar e da época de semeadura.

Trigo

É a segunda cultura de inverno de maior importância econômica e embora sofra com a sazonalidade de preços praticados aos produtores em função da concorrência com o trigo importado de outros países vem ganhando espaço especialmente na região sul e Centro Oeste do Brasil com o desenvolvimento de cultivares adaptados a estas regiões. É uma cultura que tem muito a contribuir para os sistemas de produção diversificados em função da boa cobertura do solo, palhada de longa persistência e grande supressão de plantas daninhas de difícil controle no sistema de plantio direto na palha.

Aveia-branca

A cultura da aveia-branca tem ganhado importância nos sistemas de produção com a criação de arranjos de produção alavancados por algumas indústrias que usam o grão para fabricação de diversos produtos alimentícios com alto teor de fibra. É uma gramínea de fácil cultivo e que juntamente com a aveia-preta (utilizada para produção de forragem ou palhada), já faz parte do portfólio de culturas conhecidas e utilizadas pelos produtores da região Centro Sul do Brasil. Adotando tecnologias adequadas e posicionamento correto dos cultivares adaptados para as diferentes regiões é possível obter boas produtividades de grãos, além de diversos benefícios para os sistemas de produção diversificados em função da boa produção e persistência da palhada.

 

Por equipe SNA/RJ

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