Manejo Integrado reduz em 50% uso de agrotóxicos

Diminuir a aplicação de defensivos agrícolas nas lavouras, principalmente dos inseticidas usados no controle de pragas da soja, é possível com a adoção do MIP pelos produtores. Foto: Massey Fergusson
Diminuir a aplicação de defensivos agrícolas nas lavouras, principalmente dos inseticidas usados no controle de pragas da soja, é possível com a adoção do MIP pelos produtores. Foto: Massey Fergusson

Os produtores brasileiros gastaram, na safra 2013/2014, aproximadamente 2,5 bilhões de dólares apenas com o controle de pragas nas lavouras de soja. Este custo poderia ter sido reduzido pela metade se tivessem adotado um conjunto de tecnologias sustentáveis, como é o caso do Manejo Integrado de Pragas da Soja. Para atestar seus benefícios a Embrapa Soja (PR), em parceria com o Instituto Emater do mesmo Estado, instalou áreas experimentais em lavouras locais, comprovando na prática as vantagens do MIP.

Na safra 2013/2014, cerca de 50 unidades de referência foram instaladas em propriedades do Norte e Oeste paranaense para avaliar a eficiência do Manejo Integrado. Nestas áreas, com dimensões entre 4 e 270 hectares, as pulverizações foram reduzidas de 4,9 (média do Estado) para 2,6 aplicações de defensivos agrícolas.

“Os resultados revelavam que é possível diminuir bastante o uso de agrotóxicos no controle de pragas da soja, propiciando melhorias na renda do produtor e minimizando o impacto no ambiente”, garante o extensionista Nelson Harger, da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater), que também coordena a campanha “Plante Seu Futuro” na área de manejos integrados de pragas e de doenças.

 

TOMADA DE DECISÃO

Decidir pela implantação do MIP na sojicultura, na opinião de Samuel Roggia, pesquisador da Área de Entomologia da Embrapa Soja, pode ser a melhor prática sustentável no campo, porque o método oferece menor risco para o ser humano, animais e para o meio ambiente, além de diminuir o uso de defensivos agrícolas, o que colabora para a conservação de agentes de controle biológico presentes, naturalmente, nas lavouras.

Para optar pelo MIP Soja, ele explica que a amostragem será a base, pois possibilitará ao agricultor identificar quais insetos-praga estão presentes em sua lavoura e ainda acompanhar a densidade populacional deles ao longo do tempo. “Assim, a amostragem orienta sobre o momento mais adequado para realizar o controle da praga (nível de ação), possibilitando a adequada proteção da lavoura com o uso racional de produtos. Para este controle, devem ser utilizados preferencialmente inseticidas seletivos, a fim de conservar os agentes de controle biológico presentes na lavoura”, orienta Roggia.

 

BAIXO CUSTO

Qualquer mudança de manejo no campo sempre traz aquela velha preocupação: quanto isto vai custar? De acordo com o pesquisador Osmar Conte, da Área de Transferência de Tecnologias da Embrapa Soja, o custo de produção diminui com o Manejo Integrado de Pragas.

“Além de reduzir em 50% as aplicações de inseticidas, ficou comprovado, com os experimentos da Embrapa, que o desembolso do controle de pragas é bastante baixo em relação à estabilidade na produtividade alcançada. Com o MIP, evitamos o desperdício do inseticida e também a operação de pulverização necessária para aplicá-lo”, explica.

Segundo Conte, cada aplicação de inseticida — considerando o produto mais a operação —, em média, fica próximo de um saco e meio de soja por hectare (valor referência de 60 reais). “Se o produtor fizer três aplicações de inseticida a menos com a adoção do MIP são quase cinco sacos de soja de economia que, no preço atual, corresponde a 300 reais por hectare (valor de abril de 2015). Ou seja, nas áreas de MIP, o investimento é reduzido pela metade”, garante.

O pesquisador da Embrapa Soja acrescenta que a produtividade entre as duas áreas foi bastante similar, com pequena vantagem produtiva nas áreas em que se praticou o MIP.

 

EQUILÍBRIO

Nas unidades participantes do experimento do MIP Soja, houve também um prolongamento do tempo até a necessidade de fazer a primeira aplicação de inseticida. Isto ocorreu após 50 dias da semeadura do grão, enquanto que a média paranaense em áreas com manejo convencional foi de 25 dias para a primeira aplicação.

“É muito importante conseguir retardar a primeira aplicação, porque se mantém por mais tempo o equilíbrio entre as populações de insetos benéficos e insetos-praga, resultando em menor número de intervenções”, informa Conte.

Os bons resultados deste primeiro ano da parceria Embrapa – Instituto Emater, fizeram com que mais produtores aderissem à iniciativa. Na safra 2014/2015 foram conduzidas mais de 220 unidades de referência em todas as regiões sojícolas do Paraná.

“A ampliação é muito positiva, porque a tecnologia da Embrapa está atingindo cada vez mais produtores. Estas unidades de referência são uma grande vitrine, pois conseguimos fazer com que a informação técnica, de fato, chegue ao campo. É a oportunidade de demonstrar o quanto e como a pesquisa científica pode ajudar o agricultor a produzir cada vez mais e melhor”, salienta o técnico da Emater Fernando Teixeira de Oliveira.

 

EXPERIÊNCIA QUE VEM DO CAMPO

Um destes exemplos de sucesso com a implantação do MIP em uma propriedade, vem do produtor rural Daniel Rosenthal, que cultiva soja, milho e trigo em 270 hectares de terras, no município de Rolândia, norte do Paraná. Ele já entende a importância da agricultura sustentável e, por isto, o Manejo Integrado de Pragas faz parte das suas ações, como forma de garantir menor custo de produção e preservação dos inimigos naturais.

Há dois anos, Rosenthal decidiu fazer também o manejo das doenças, obtendo resultados positivos. Sua tática consiste em realizar vistorias a cada cinco dias na fazenda, com a utilização de um pano de batida, que mostra a quantidade de insetos presentes na lavoura, revelando se eles estão em nível populacional capaz de provocar redução na produtividade. “Acho muito importante, porque tomo a decisão de aplicar ou não o inseticida, a partir deste monitoramento”, conta o produtor.

Segundo Rosenthal, ao utilizar produtos químicos somente quando for necessário, é possível reduzir os custos de produção e ainda preservar os inimigos naturais. “Temos de ser criteriosos na utilização de inseticidas, caso contrário, podemos favorecer a resistência de pragas e doenças aos agrotóxicos”, afirma.

 

PERCEVEJOS E LARVAS

Durante o período de experiência, as pragas que atacam a soja, os percevejos sugadores de vagens e grãos apresentaram uma importância cada vez maior. De acordo com o pesquisador Samuel Roggia, da Embrapa Soja, a ocorrência de elevadas densidades populacionais de percevejos, a resistência desta praga a inseticidas, o reduzido número de grupos químicos disponíveis no mercado, as falhas de controle e o desequilíbrio ambiental são fatores que potencializam o ataque destes insetos.

Apesar de existirem várias marcas comerciais de inseticidas para controle de percevejos na soja, ainda é pequeno o número de grupos químicos acessíveis para este controle, o que dificulta a rotação de produtos, evitando que os insetos se tornem resistentes. “Por isto, o uso racional de inseticidas, como estratégia de manejo de resistência, se tornou uma necessidade e uma exigência crescente para a produção brasileira de soja”, destaca o pesquisador.

 

Assine e receba os exemplares da Revista A Lavoura em sua casa. Entre em contato com: assinealavoura@sna.agr.br

 

Fonte: Revista A Lavoura edição nº 710/2015

 

Facebook
Twitter
LinkedIn
WhatsApp