Greve dos caminhoneiros vai prejudicar setor agropecuário

Motoristas protestaram e bloquearam a BR-040 nesta segunda-feira, 8 de novembro. Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil
Motoristas protestaram e bloquearam a BR-040 nesta segunda-feira, 8 de novembro. Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

A greve dos caminhoneiros em vários Estados brasileiros, que começou na segunda-feira (9), vai prejudicar o transporte de produtos agropecuários, principalmente de carnes em geral, alertam especialistas. De acordo com a Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), a maior preocupação é que a paralisação de agora se assemelhe à de fevereiro passado, quando cargas não puderam ser entregues, os portos pausaram suas atividades, as agroindústrias suspenderam abates e os estoques ficaram lotados. Resultado disto foi um prejuízo estimado em R$ 700 milhões somente para este setor.

“Passamos por um período estratégico para o nosso setor, quando países – como a Rússia, por exemplo – aumentam o volume exportado para a formação de seus estoques. Por este motivo, é fundamental uma rápida ação por parte do governo junto ao movimento grevista, evitando prejuízos de dimensões enormes, como os que ocorreram durante a última paralisação, em fevereiro”, alerta o presidente da ABPA, Francisco Turra.

Todos os dias, segundo a Associação, os exportadores de carne de frango embarcam em torno de 15 mil toneladas de frango, gerando uma receita de US$ 24,8 milhões; e 2,7 mil toneladas de carne suína (US$ 5,5 milhões).

O governo federal já reagiu à greve dos caminhoneiros, que não conta com o apoio de algumas entidades representativas da categoria – como a Confederação Nacional dos Transportes Autônomos (CNTA) e a Confederação Nacional dos Trabalhadores em Transportes e Logística da Central Única dos Trabalhadores (CNTTL/CUT). Para desestimular o movimento, as multas e sanções a motoristas serão mais duras, conforme determina uma Medida Provisória (MP) publicada no Diário Oficial da União, nesta quarta-feira, 11 de novembro.

 

Francisco Turra, presidente da Ubabef (Foto: Alf Ribeiro)
“É fundamental uma rápida ação por parte do governo junto ao movimento grevista, evitando prejuízos de dimensões enormes, como os que ocorreram durante a última paralisação, em fevereiro”, alerta o presidente da ABPA, Francisco Turra. Foto: Alf Ribeiro/Arquivo SNA

PUNIÇÃO

De acordo com o Código Nacional de Trânsito, quem obstrui a passagem de veículos na malha rodoviária brasileira por quaisquer motivos, sem a autorização de órgãos competentes, pode pagar uma multa de R$ 1,915,00.

A atual punição continua, mas a nova MP determina que, se houver obstrução deliberada com o uso de veículo, o condutor será enquadrado em uma infração gravíssima, podendo pagar, se multado, R$ 5.746,00, com valor dobrado se for registrada reincidência.

O motorista também poderá ter seu direito de dirigir suspenso por 12 meses, ter seu veículo apreendido, a carteira de habilitação recolhida e ser proibido de receber, por dez anos, incentivos creditícios para comprar de novos veículos automotores.

“O governo quer frisar que estas manifestações não têm uma pauta de reivindicações e são claramente políticas. Quando eu obstruo as rodovias, estou praticando atos ilícitos. Não se trata de ação governamental para calar opositores. Trata-se aqui de defender o interesse público porque essas manifestações prejudicam a população, o abastecimento e os serviços essenciais. É fundamental que o Estado tenha uma atitude bastante firme”, disse o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, durante entrevista coletiva concedida na terça-feira (10), em Brasília, quando anunciou a publicação da medida provisória do governo.

O ministro ainda determinou que a Força Nacional de Segurança Pública reforçasse a segurança das rodovias afetadas pelas manifestações com a ajuda da Polícia Rodoviária Federal (PRF), segundo informações da Agência Brasil.

MOTIVAÇÕES

“Na última greve dos caminhoneiros, o setor agropecuário mineiro sofreu com as paralisações e atrasos no escoamento da produção, principalmente de grãos e de frutas, legumes e verduras. Naquela época, o volume de produtos na Ceasa de Contagem diminuiu, o produtor perdeu parte de sua produção e os preços ao consumidor foram elevados”, lembra Roberto Simões, presidente da Federação de Agricultura do Estado de Minas Gerais (Faemg).

Ele alerta que o momento de instabilidade política (a maioria dos grevistas protesta contra o governo Dilma Rousseff e contra o Partido dos Trabalhadores – PT) e o alto custo do frete, principalmente após o aumento do diesel, são os motivos alegados pelos motoristas para efetuar os bloqueios nas estradas e deflagrar a greve.

“Na última greve dos caminhoneiros, o setor agropecuário mineiro sofreu com as paralisações e atrasos no escoamento da produção, principalmente de grãos e de frutas, legumes e verduras", lembra o presidente da Faemg, Roberto Simões. Foto: Evandro Fiuza/Divulgação Faemg
“Na última greve dos caminhoneiros, o setor agropecuário mineiro sofreu com as paralisações e atrasos no escoamento da produção, principalmente de grãos e de frutas, legumes e verduras”, lembra o presidente da Faemg, Roberto Simões. Foto: Evandro Fiuza/Divulgação Faemg

“Em um ano tão delicado economicamente, o agronegócio é que vem sustentando saldos positivos. Mas o produtor não suporta mais aumento de custo e perda de produção, em função de adversidades climáticas ou por dificuldades na logística. Estamos monitorando os trechos rodoviários em Minas e alertamos que o avanço da greve pode causar ainda mais prejuízos para o setor”, avisa Simões.

Em sua opinião, se a vazão de distribuição de alimentos for afetada, o fluxo de abate de animais e o armazenamento também poderão ser atingidos. “Além disto, a população poderá sofrer com desabastecimento neste fim de ano, época também importante para o setor varejista.”

SAFRA DE GRÃOS

Vice-presidente da Sociedade Nacional de Agricultura, Hélio Sirimarco diz que, em relação ao escoamento de grãos, o impacto da atual greve não será grande, “já que estamos em pleno plantio das safras de soja e milho”.

Vice-presidente da Sociedade Nacional de Agricultura, Hélio Sirimarco diz que, em relação ao escoamento de grãos, o impacto da atual greve não será grande, “já que estamos em pleno plantio das safras de soja e milho”, ressalta Hélio Sirimarco, vice-presidente da Sociedade Nacional de Agricultura. Foto: Arquivo SNA
Vice-presidente da Sociedade Nacional de Agricultura, Hélio Sirimarco diz que, em relação ao escoamento de grãos, o impacto da atual greve não será grande, “já que estamos em pleno plantio das safras de soja e milho”, ressalta Hélio Sirimarco, vice-presidente da Sociedade Nacional de Agricultura. Foto: Arquivo SNA

“No momento, o volume de soja para exportação é residual. A safra já foi praticamente toda exportada. Estamos agora embarcando milho, mas os volumes são bem menores que os da soja. Pode haver algum impacto no plantio, se a greve causar uma interrupção no fornecimento de combustíveis”, comenta Sirimarco.

Ele reforça que o setor agropecuário mais afetado pela greve é o de carnes, pois são alimentos perecíveis que não podem ter seus fluxos de embarques interrompidos. “Além disso, importadores do Hemisfério Norte, como a Rússia, vão começar a ser afetados pelo inverno. E, nessa época, os embarques têm de ocorrer antes que os portos comecem a congelar.”

 

Por equipe SNA/RJ

 

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