Falta de orçamento e vontade política impacta no desempenho do seguro rural

“É importante salientar que a maioria dos produtores teria interesse em contratar o seguro, desde que a cobertura fosse compatível com a sua produtividade histórica, além dos prêmios e franquias aplicáveis com valores razoáveis”, diz o diretor da SNA Fernando Pimentel. Foto: Arquivo A Lavoura/SNA
“É importante salientar que a maioria dos produtores teria interesse em contratar o seguro, desde que a cobertura fosse compatível com a sua produtividade histórica, além dos prêmios e franquias aplicáveis com valores razoáveis”, diz o diretor da SNA Fernando Pimentel. Foto: Arquivo A Lavoura/SNA

A área agrícola brasileira coberta pelo seguro rural é de quase cinco milhões, de um total de 71 milhões de hectares, ou seja, não chega nem a oito por cento. A informação consta em um dos capítulos do estudo “O seguro na sociedade e na economia do Brasil”, elaborado pela Fundación Mapfre, vinculada ao grupo da BB Mapfre.

Segundo o diretor da Sociedade Nacional de Agricultura (SNA) Fernando Pimentel, “a baixa cobertura do seguro agrícola no País se deve, primordialmente, às limitações orçamentárias do Estado brasileiro e à falta de vontade política de propor uma mudança radical no modelo de financiamento e planejamento agrícola brasileiro”.

Ele relata que, nos Estados Unidos e na Europa, a subvenção estatal ao seguro é parte dos planos públicos agropecuários. “Sem este aporte, é muito difícil atrair os produtores. Em muitos municípios brasileiros, inclusive, o agropecuarista só contrata o seguro porque é obrigado a dar a reciprocidade bancária. Como não poderá mais ser exigida esta reciprocidade, é possível que o interesse caia para algumas culturas e regiões”.

Para Pimentel, “é importante salientar que a maioria dos produtores teria interesse em contratar o seguro, desde que a cobertura fosse compatível com a sua produtividade histórica, além dos prêmios e franquias aplicáveis com valores razoáveis”. “O problema é que a nossa estatística de produtividade é de baixa qualidade e isto distorce todo o cálculo atuarial, tornando o serviço caro e com pouca concorrência.”

 

MERCADO

De acordo com o BB Mapfre, criado a partir da fusão entre as seguradoras do Banco do Brasil e Mapfre Seguros, o grupo detém 70% do mercado nacional de seguro agrícola. Sobre este cenário, o diretor da SNA diz que, hoje, o seguro rural é visto, pela maioria das seguradoras, como um mercado de nicho.

“Sem dúvida, a sinergia com a atividade bancária favorece a associação BB e Mapfre, enviando se tratar de um serviço financeiro que depende de escala, até porque o custo operacional é elevado e o risco de fraude também.”

Em sua opinião, “ao eliminar a obrigatoriedade da contração para fazer o seguro rural – medida que faz parte da Lei nº 13.195, publicada no último dia dois de junho, no Diário Oficial da União (DOU) –, pode provocar uma queda da operação desta parceria BB Mapfre, enfraquecendo um mercado ainda incipiente no Brasil”.

 

ADVERSIDADES CLIMÁTICAS

 

Nos últimos meses, o Brasil tem passado por adversidades climáticas, muitas delas imprevisíveis para o agropecuarista que, na maioria dos casos, não contratou o seguro. “Hoje, tanto o financiador quanto o produtor estão relegados à própria sorte. Enquanto nos EUA a adversidade climática não afeta as contas do produtor, nem a relação com seus financiadores, no Brasil, só nesta safra, já evidenciamos uma crescente inadimplência patrocinada pela seca no Centro-Oeste e na região do Matopiba (formada por alguns municípios dos Estados de Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia)”, comenta Pimentel.

Em sua análise, “são traumas recorrentes que geram estresse na cadeia agropecuária e, eventualmente, a exclusão de produtores e financiadores do mercado”. “Isto tudo seria minimizado no País se tivéssemos uma cobertura abrangente do seguro rural. Além disto, sem dúvida, atrairia mais bancos para o financiamento agrícola de forma voluntária, sem a necessidade de penalizações sobre o percentual de depósitos à vista, como ocorrem hoje.”

 

PERITOS NO CAMPO

O estudo “O seguro na sociedade e na economia do Brasil”, elaborado pela Fundación Mapfre, ainda aponta que o crescimento do seguro agrícola no País ainda é muito dependente da subvenção, ainda que parcial do prêmio, concedida pelo governo federal e também por alguns Estados. Outro gargalo é a falta de disponibilidade de peritos em campo para realizar vistorias e relatórios técnicos.

“Muitos dos escritórios de assistência técnica estão menos interessados em prestar este serviço que, muitas vezes, geram conflitos de interesse locais. Estes escritórios preferem envolver-se com assistência técnica, elaboração de projetos de financiamento, cadastramentos no Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária), CAR (Cadastro Ambiental Rural), etc. Eles se envolvem com ações mais positivas e remuneradoras. A regulação de sinistro, para muitos, não é uma atividade interessante”, relata o diretor da SNA.

 

MELHORIAS

Para Pimentel, para o Brasil ter um seguro agrícola acessível, que atenda às necessidades e às condições financeiras do produtor é preciso promover uma mudança profunda: “O seguro rural precisa ser repensado no País e isto deve ser feito de forma integrada, com uma nova legislação de crédito rural”.

Em sua visão, a participação do Estado, como provedor de subvenção para um seguro com padrão técnico elevado para 100% da área cultivada, seria a saída. “A subvenção de taxa de juros seria substituída pela subvenção do seguro, de forma que o mercado financeiro seria atraído para o setor, porque a mitigação de risco e a redução da assimetria da informação é tudo que os bancos precisariam para tratar o agricultor como um empresário.”

Para download gratuito do estudo “O seguro na sociedade e na economia do Brasil”, elaborado pela Fundación Mapfre,  acesse http://ow.ly/TsRQ301OqkS (link encurtado).

 

Por equipe SNA/RJ

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