Fabricantes apostam agora no uso de drones na lavoura

A chinesa SZ DJI Technology, maior fabricante mundial de drones para o consumidor, está mirando o setor agrícola com o lançamento de um pulverizador de lavouras que irá testar se a agricultura pode ser um terreno fértil para a tecnologia de aeronaves não tripuladas.

A DJI, que ajudou a deflagrar a febre global por drones com modelos de US$ 1.000,00 que são fáceis de operar, lançou um drone de oito rotores concebido para pulverizar inseticidas em campos agrícolas, disse um porta-voz. A um preço em torno de US$ 15.000,00, o drone tem um tanque de pulverização de 10 litros, peso médio de decolagem de 22 quilos e autonomia de vôo de 12 minutos, segundo a empresa.

O drone pode pulverizar uma área plantada de 2,8 a 4 hectares por hora, dependendo do quanto precisar subir, descer ou fazer curvas para sobrevoar o terreno.

O DJI Agras MG-1, que é movido à bateria, chegará primeiro aos mercados da China e da Coreia do Sul, embora a empresa não tenha especificado exatamente quando ele começará a ser vendido. A DJI afirmou que já está aceitando encomendas na China e deve disponibilizar o drone em outros mercados mais adiante.

A empresa sediada em Shenzhen vem sendo bem-sucedida na venda de drones para consumidores e cineastas desde 2013, com a receita devendo superar US$ 1 bilhão neste ano.

A DJI, que foi avaliada em cerca de US$ 8 bilhões em sua rodada de captação mais recente, agora aposta que poderá estender esse sucesso para a agricultura.

A tentativa da DJI pode abrir o setor para outros fabricantes de drones — ou provar que a agricultura não é o paraíso das aeronaves não tripuladas, como alguns acreditavam.

A Associação Internacional de Sistemas de Veículos Não Tripulados, a maior organização comercial do setor, tem promovido a agricultura como o mercado com maior potencial para esses aparelhos — de longe. Num relatório de 2013, a associação, que é sediada em Arlington, no Estado americano de Virgínia, previu que a agricultura vai representar 92% do estimado impacto econômico de US$ 82 bilhões que drones comerciais devem provocar nos Estados Unidos entre 2015 e 2025.

Mas, mesmo com a decolagem do uso comercial de drones em todo o mundo, a agricultura está longe de absorver uma fatia tão grande do mercado. Um número menor de empresas está requisitando a aprovação da Agência Federal de Aviação dos EUA (FAA, na sigla em inglês) para o uso de drones na agricultura do que em outras atividades, como cinema, mapeamento e inspeção industrial, de acordo com estudos recentes.

A FAA começou a aprovar drones regularmente para uso comercial em setembro de 2014. Apenas 90 das primeiras 1.355 aprovações concedidas pela FAA foram para a agricultura, segundo a Piper Jaffray Investment Research, braço de pesquisa do banco de investimento Piper Jaffray. O número fica bem atrás das 650 aprovações para filmagens aéreas. A FAA aprova a maioria dos pedidos que recebe.

Grande parte da expectativa em torno dos drones agrícolas está em sua capacidade de coletar dados aéreos em larga escala nas lavouras. A informação ajuda os agricultores a cuidar de forma mais precisa de seus campos, aumentando ou reduzindo a irrigação ou a aplicação de pesticidas conforme o necessário.

Até o momento, os drones agrícolas não atingiram as expectativas porque fornecer dados que permitam aos agricultores gerenciar melhor suas lavouras é bem mais complexo que fazer um mapa ou um filme, dizem analistas.
A fabricante californiana de drones comerciais Kespry afirma que pretendia, inicialmente, concentrar-se na agricultura como seu mercado principal, mas acabou optando pela construção.

“Para atender a esse mercado, nós precisamos uma especialização real — agrônomos capazes de combinar dados com informações sobre o clima e pragas locais e fornecer recomendações verdadeiras”, disse o diretor-presidente e fundador da Kespry, Paul Doersch. “Para nós, ter essa escala não faz sentido.”

Apesar da complexidade, a DJI não é a única fabricante de drones que aposta na agricultura para diversificar suas fontes de receita. Henri Seydoux, diretor-presidente da Parrot, fabricante de drones sediada em Paris que conquistou rapidamente o nicho de modelos mais baratos, informou que irá coletar dados de mais de 81.000 hectares para agricultores da França neste ano.

Ainda assim, a Parrot faturou apenas 5.6 milhões de euros (US$ 6 milhões) com drones comerciais no terceiro trimestre, contra 44.4 milhões de euros com drones para consumidores.

Os drones agrícolas “estão em uma fase inicial”, disse Seydoux. “É o caso de todos os espaços comerciais. Há muita expectativa, mas nenhum grande resultado ainda.”

A DJI está fazendo uma aposta diferente na agricultura: pulverizar as lavouras, em vez de inspecioná-las. Na China, os produtos químicos são frequentemente aplicados por trabalhadores que levam galões de inseticidas nas costas. Os drones melhorariam a aplicação desses químicos em regiões montanhosas ou pantanosas, que são difíceis de acessar, e reduziria a exposição dos trabalhadores aos químicos, disse a Even Pay, uma consultora agrícola de Pequim que estudou as técnicas agrícolas da China.

Desde o início da década de 90, agricultores japoneses pulverizam seus campos com grandes helicópteros não tripulados feitos pela Yamaha. A Yamaha começou em 2005 a vender esses drones a gasolina para produtores da Coreia do Sul.

Em maio, a FAA aprovou o drone para uso limitado nos EUA e a empresa está analisando se irá lançá-lo no país.
Analistas dizem que o drone de pulverização da DJI terá dificuldades em conquistar agricultores de países ocidentais, que tradicionalmente cultivam áreas maiores. As grandes fazendas americanas há décadas usam pequenos aviões pulverizadores que podem carregar centenas de litros de pesticidas. Os aviões são eficazes para cobrir grandes áreas e custa relativamente pouco alugá-los.

Robert Blair, agricultor de Idaho e diretor de agricultura da empresa de drones comerciais Measure, disse que está otimista em relação à drones que coletam dados da lavoura, mas cético sobre drones pulverizadores como o da DJI, que podem levar apenas alguns litros de pesticidas. “É um mercado de nicho”, disse ele.

 

Fonte: The Wall Street Journal

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