Demanda estimula criação de frangos e galinhas caipiras

“A criação de aves caipiras é uma boa alternativa de renda para o agricultor familiar, especialmente com a tendência de os consumidores preferirem produtos mais naturais, como o frango caipira, que recebe uma alimentação alternativa, obtida na propriedade”, afirma Luiz Fernando Chaves Mendes, coordenador regional da Emater-MG. Foto: Divulgação

A procura por alimentos mais saudáveis está despertando o interesse pela criação de frangos e galinhas caipiras para a produção de carne e ovos. Na região Norte de Minas Gerais, por exemplo, a atividade já está atraindo produtores de outros ramos da agropecuária, como uma opção para diversificação e melhoria da renda.

“A criação de aves caipiras é uma boa alternativa de renda para o agricultor familiar, especialmente com a tendência de os consumidores preferirem produtos mais naturais, como o frango caipira, que recebe uma alimentação alternativa, obtida na propriedade”, afirma Luiz Fernando Chaves Mendes, coordenador regional da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado de Minas Gerais (Emater-MG) em Montes Claros.

Segundo ele, a criação do frango caipira é uma atividade presente em praticamente todas as propriedades do norte do Estado, principalmente da agricultura familiar, basicamente para a alimentação das famílias.

TECNOLOGIAS

Mendes afirma que a Emater-MG dispõe de tecnologias para melhorar a produtividade da avicultura familiar. O trabalho com os produtores é feito por meio de assistência técnica, com quatro focos principais: genética (raças e cruzamentos); nutrição, à base em ração balanceada e alimentos alternativos; manejo sanitário e preventivo; e instalações, o que inclui galpões e piquetes gramados.

Conforme explica, houve uma evolução na avicultura de pequeno porte, que agora conta com o frango caipira melhorado, cuja diferença principal, em relação ao caipira comum, é a utilização de raças e cruzamentos que proporcionam maior ganho de peso. “Para isso, são utilizados pintinhos melhorados no sistema semi-intensivo”, comenta.

O módulo para a produção comercial depende do potencial da propriedade e do interesse do produtor. Em escala familiar, Mendes recomenda começar a criação com um mínimo 100 frangos por mês, para adquirir experiência no processo produtivo e na comercialização e, aos poucos, aumentar a produção, de forma escalonada. “Vale lembrar que, quinzenalmente ou mensalmente, o criador deve fazer as aquisições de pintinhos para povoamento dos galpões de frangos para abate”, avisa.

O manejo adequado em todas as fases é essencial, principalmente nos primeiros 20 a 30 dias, quando os pintinhos ficam confinados em galpão. Depois, na etapa de crescimento e engorda, por 60 a 90 dias, são soltos em piquetes de grama estrela africana ou tifton, na densidade de três a quatro metros quadrados por ave. “Este tempo é fundamental para que a carne do frango caipira fique mais consistente e tenha maior aceitação por parte dos consumidores”, explica.

Nessa etapa, as aves recebem alimentação balanceada, o que inclui alimentos alternativos, disponíveis na propriedade, com o objetivo de reduzir o custo de produção. O frango criado no sistema semi-intensivo esta pronto para o abate a partir do 3º mês de idade, de acordo com Mendes. A postura começa por volta da 22ª semana de idade, desde que as frangas recebam os cuidados adequados.

Na região, o frango caipira, com média de dois quilos de peso vivo, é comercializado na faixa de 30 a 40 reais. Enquanto a dúzia de ovos de galinhas criadas no sistema semi-intensivo é vendida entre seis e sete reais. A produção é comercializada em mercados, feiras livres e restaurantes localizados no meio urbano e às margens de rodovias próximas das cidades do Norte de Minas, além das casas de carnes de frango.

TREINAMENTOS

Para atender ao aumento da demanda, a Emater-MG tem realizado treinamentos dos seus técnicos sobre as melhores práticas para a condução de uma criação comercial de aves caipiras.

Uma das ações para divulgar novas tecnologias para melhorar a produtividade e o rendimento da cadeia produtiva de frango no norte de Minas foi a realização do 1º Circuito do Frango, no fim de outubro, iniciativa e organização da Regional de Montes Claros, por meio da Coordenação do Projeto Pequenos Animais, e das equipes locais dos seis municípios participantes. “Estamos planejando a segunda etapa com maior abrangência”, conta  Mendes.

De acordo com levantamento da Emater-MG, em Montes Claros e municípios próximos, cerca de 17,6 mil agricultores familiares trabalham com avicultura no sistema caipira de corte e de postura. Ao todo, 455 mil aves de corte respondem, anualmente, por 760 toneladas de carne de frango, e 191,3 mil aves em postura, produzem 1,5 milhão de dúzias de ovos por ano.

SANIDADE

No Brasil existe o Programa Nacional de Sanidade Avícola (PNSA), que controla o estabelecimento dos negócios avícolas para redução dos riscos de introdução de doenças nas granjas comerciais já estabelecidas. O programa exige monitoramento, via análises laboratoriais periódicas das amostras (sangue, swabs), vacinação de aves, estabelecimentos de barreiras físicas (cercas de isolamento), vazio sanitário das instalações, controle de acesso de outras aves/roedores/outros animais, distâncias mínimas de isolamento entre galinheiros com aves de idades diferentes e também entre núcleos de reprodução, de produção, etc.

Segundo o pesquisador Elsio Figueiredo, da Embrapa Suínos e Aves, estas exigências limitam a ampliação dos negócios de galinha caipira, principalmente nos estados líderes na produção e exportação de carne e ovos.

“Para atender às regras do PNSA, a granja precisa ter tamanho suficiente para absorver os custos. Além disto, a Anvisa controla o risco de infecção tóxico alimentar (salmonela e escherichia) e determina outras tantas providências para que os entrepostos possam comercializar ovos”, informa.

ESCALA E LOGÍSTICA

O pesquisador afirma que a criação de frango caipira para carne ainda é pequena, por problemas de escala e de logística. “O abatedouros de frangos caipiras ou coloniais não têm se viabilizado devido ao pequeno volume de abate e também por causa das grandes distâncias para transportar as aves até o mercado consumidor. Apenas locais próximos aos grandes centros apresentam certa viabilidade”, justifica.

Em sua opinião, na medida em que as grandes empresas produtoras de frangos e de ovos comerciais se interessarem por esse negócio o potencial da criação de galinha caipira tende a aumentar, pois têm a logística resolvida e se enquadram nas normas do PNSA, Anvisa, etc.

Figueiredo conta que a Embrapa possui as informações necessárias para quem deseja criar galinha/frango caipira, mas quando são apresentadas aos produtores, enfatizando os aspectos da biossegurança dos plantéis, do controle de qualidade, normalmente estes desistem por não possuir escala nem logística suficientes que compensem o investimento.

Pequenas cooperativas estão tentando vencer esses desafios, principalmente visando ao comércio municipal (demandas dos programas sociais e da merenda escolar). “O abatedouro móvel para frangos veio para auxiliar na redução desse problema de escala e de logística”, enfatiza.

Pesquisador da Embrapa Suínos e Aves, Elsio Figueiredo afirma que a criação de frango caipira, para carne, ainda é muito pequena por problemas de escala e de logística. Foto: Lucas Scherer/Embrapa Suínos e Aves

OVOS COLONIAIS

Uma das alternativas desenvolvidas na Embrapa Suínos e Aves, para a produção de ovos coloniais, é a galinha da linhagem Embrapa 051. Trata-se de uma galinha híbrida, rústica, resultado do cruzamento da Rhode Island Red e a Plymouth Rock Branca, que produz ovos de casca marrom, também conhecidos como ovos vermelhos.

O pesquisador afirma que existem opções de módulos básicos, para a criação da galinha Embrapa 051, mas a dimensão do projeto depende do objetivo do projeto. Se for apenas para agregar valor aos ingredientes produzidos no sítio, ele diz que não importa o tamanho do plantel, desde que a mão de obra do produtor esteja ociosa. Porém, se o objetivo for lucro equivalente a, pelo menos, um salário mínimo mensal, com a venda de ovos, Figueiredo afirma que o módulo mínimo fica em torno de 450 galinhas (30 dúzias de ovos por dia e lucro de um real por dúzia comercializada).

A criação compreende três fases: cria (zero a seis semanas), recria (7 a 19 semanas) e produção (20 a 80 semanas de idade). Na fase de cria, as aves devem ficar alojadas em instalação com temperatura inicial de 32º C, decrescendo um grau por dia até a temperatura ambiente, além de receber ração de cria e água à vontade. Na recria, devem ter o peso e o consumo controlados a cada semana de vida. Na 17ª e 18ª semana de vida, as frangas necessitam de ração pré-postura, com maior teor de cálcio e fósforo.

Na fase de produção, as frangas devem ser alojadas em instalação com ninhos, e receber ração de postura na quantidade diária recomendada. “Também é necessário um programa de iluminação suplementar, da 19ª até a 30ª semana, com incrementos semanais de 30 minutos até alcançar o máximo de 17 horas de diárias de iluminação total (natural + artificial), porém, nunca aumentar a luminosidade entre a 10ª e 19ª semanas de idade, nem reduzir a iluminação durante a fase de postura, pois descontrola o ciclo de postura”, orienta.

“Todas essas fases podem ocorrer na mesma instalação, apenas providenciando o aquecimento dos pintos, no início da criação, e, na fase de produção, seguir a recomendação de arraçoamento e controle de ganho de peso, assim como instalar ninhos suficientes, na proporção de uma boca de ninho para cada quatro galinhas”, recomenda.

De acordo com o pesquisador, os ninhos devem ser limpos todos os dias e colocada uma cama nova sempre que a mesma estiver suja ou rala. Caspas poedeiras tenham acesso aos piquetes, Mendes recomenda somente liberá-las depois da postura, ou seja, após as 15h00. “Não permitir poças ou lama nos piquetes onde as poedeiras serão soltas, pois contaminará os ovos e os mesmos serão condenados pela vigilância sanitária”, alerta.

Figueiredo afirma que a produção de ovos da galinha Embrapa 051 é superior às aves caipiras rústicas. Durante o período de produção, uma galinha caipira comum põe cerca de 80 ovos, enquanto a Embrapa 051, atinge de 280 a 300 ovos. “A postura começa por volta de 20 semanas de idade e, após 80 semanas, as galinhas reduzem a postura para níveis antieconômicos. Em geral, depois de o lote ter produzido o suficiente para pagar os custos, o que ocorre em 60 semanas, normalmente, é feito o planejamento do descarte e do abate para épocas de procura pela carne ou de baixa no preço do ovo”, diz.

A Embrapa possui parceiros multiplicadores da galinha poedeira colonial Embrapa 051, que percorrem pontos de venda de pintos do Brasil, que são listados a seguir:

* Agroavícola Candelária, Candelária (RS) – Telefone: 51 3743-1218

* Fazenda Aves do Paraíso (www.frangocaipira.com.br), Itatiba (SP) – Telefone: 11 4524-0057

* Ferraz Avícola, Belo Jardim (PE) – Telefone: 81 3726-1183

* Gramado Avicultura (www.gramadoavicultura.com.br), Caxias do Sul (RS) – Telefone: 54 3287-1248

* Granja Capixaba (www.granjacaipixaba.com.br), Marechal Floriano (ES) – Telefone: 27 3288-1907

* Granja Elba (www.granjaelba.com.br), Santa Fé de Goiás (GO) – Telefones: 62 3385-1401 e 62 3531-2900.

* ZK Aves Raras, Guareí (SP) – Telefone: 15 3258-8000

 

Por equipe SNA/SP

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