Criação de minhocas pode ser um bom negócio

As minhocas desempenham papel importante no setor agrícola, por causa da elevada capacidade de produção de húmus, principal fonte regeneradora do solo, e por sua interferência física com a grande quantidade de terra movimentada em seus deslocamentos. Foto: Divulgação

A minhocultura tem desempenhado um papel muito importante para todo o setor agrícola. No Brasil, começou a despertar o interesse dos agricultores a partir da década de 80, por causa do baixo custo de produção e fácil integração com outras atividades rurais. De lá para cá, principalmente devido aos novos nichos de mercado em torno do setor agropecuário, a criação de minhocas volta ao cenário como um bom negócio, para quem mantém um minhocário tanto no campo quanto na cidade.

“Na agricultura, não só por sua grande capacidade de produção de húmus, principal fonte regeneradora do solo, as minhocas também se destacam pela sua interferência física com a grande quantidade de terra movimentada em seus deslocamentos. A minhoca é um verdadeiro arado vivo”, explica o técnico em Agropecuária e educador ambiental Claudio da Silva Teixeira, instrutor do curso de extensão (livre) “Minhocultura”, ministrado pela Sociedade Nacional de Agricultura (SNA), na Escola Wencesláo Bello. A unidade funciona no bairro da Penha, Rio de Janeiro.

Segundo Teixeira, na pecuária é estabelecida uma relação muito interessante com as demais criações já que, para sua alimentação, “podemos utilizar os estercos dos animais, gerando não só os adubos naturais citados, mas também a produção de uma rica fonte proteica”. “A carne da minhoca, por exemplo, apresenta cerca de 70% de proteína bruta”, comenta o  instrutor.

O crescimento da minhocultura no Brasil, na visão do educador ambiental, está ligado diretamente ao crescimento da agricultura orgânica. “Não podemos falar em uma forma sustentável de agricultura sem a preocupação com a redução de perdas de nutrientes e de outros elementos essenciais para a conservação do solo, principal responsável pela produção de alimentos e sobrevivência de toda a humanidade.”

 

ÍNDICES ZOOTÉCNICOS

Para explicar melhor a importância das minhocas para o setor agropecuário, o educador ambiental cita os principais índices zootécnicos das minhocas:

  1. Longevidade: dependendo da espécie pode atingir uma vida útil de até 20 anos; em média; elas vivem quatro anos;
  2. Reprodutivo: por ser um animal hermafrodita, apresenta os dois aparelhos reprodutivos em um mesmo indivíduo, conseguindo a procriação pela fecundação cruzada, pela qual, durante o acasalamento, um animal deposita o sêmen no receptáculo seminal do outro e os dois são fecundados com capacidade de gerar novos indivíduos. Uma minhoca pode gerar em torno de 1,5 mil descendentes por ano;
  3. Produção de húmus: uma minhoca pode ingerir por dia o equivalente ao seu peso e dejetar, na forma de húmus, 70% do material ingerido. Uma minhoca pode ser comparada a uma “micro usina viva de transformação (beneficiamento)”.

Teixeira conta ainda que as minhocas se alimentam não só de esterco, mas de toda matéria orgânica decomposta ou em estado de decomposição: “Por isto, elas vêm sendo utilizadas, com muito sucesso, no tratamento dos resíduos sólidos orgânicos oriundos das atividades agrícolas e urbanas, por meio de técnicas de compostagem e da vermicompostagem”.

Instrutor do curso de Minhocultura, da EWB/SNA, o educador ambiental e técnico em Agropecuária Cláudio da Silva Teixeira (à direita) orienta produtor de minhocas em ambiente doméstico. Foto: Arquivo pessoal

 

FACILIDADE DE CRIAÇÃO

O instrutor da EWB/SNA comenta que a minhocultura pode ser considerada uma atividade de fácil condução, quando comparada a outras atividades zootécnicas. “No Brasil, mesmo com a diversidade climática das regiões, o clima não é um fator limitante. Prova disto é que a atividade é desenvolvida com êxito do Norte ao Sul do País. O que vai diferenciar (entre o sucesso e o fracasso da produção) é o manejo, a forma como a criação vai ser conduzida.”

Outro diferencial, conforme Teixeira, poder ser determinado pelo objetivo da criação. “Quando é destinada para a produção de minhocas (vermicultura), visamos atender ao máximo às necessidades essenciais da espécie, para atingir um melhor índice reprodutivo. Quando objetivamos a produção de húmus (vermicompostagem), criamos as condições básicas para que as minhocas permaneçam nos criatórios e transformem os restos orgânicos tratados em húmus de minhoca.”

 

IMPLANTAÇÃO

O instrutor da EWB/SNA informa que o custo de implantação de um minhocário está ligado diretamente à sua capacidade de produção e ao objetivo da criação (comercial ou doméstica). “Para fins comerciais, utilizamos como modelo uma unidade de produção que desenvolvi, para ser replicada em pequenas propriedades rurais do município de Magé (RJ).”

Nesta região, ele atua como extensionista rural, por meio da Emater-RJ (Empresa de Assistência Técnica Rural do Estado do Rio de Janeiro): “Com baixo custo e de fácil montagem, esta unidade pode ser adequada conforme a necessidade de produção.”

Teixeira comenta também que “não podemos desconsiderar o interesse que a minhocultura vem despertando para a criação doméstica”. “Graças ao incentivo da agricultura urbana, a criação de minhocas em pequenos espaços ganha, a cada dia, novos adeptos. O uso de caixas plásticas, como instalações, permite inclusive o reaproveitamento de embalagens.”

 

VIABILIDADE

O que determina a viabilidade da construção de um minhocário, diz o instrutor da EWB/SNA, é a disponibilidade de matérias orgânicas de origem animal e/ou vegetal que, mesmo encontradas em grandes quantidades, tanto nas áreas rurais como nas urbanas, são descartadas de forma inadequada pela falta de uma coleta seletiva, o que inviabiliza sua utilização.

“As instalações permitem a utilização de canteiros feitos em alvenaria, placas de cimento armado, madeira, bambu, caixas plásticas, entre outros.  As ferramentas, basicamente, são as mesmas utilizadas em outras atividades agrícolas. Só devemos restringir o uso, no interior dos canteiros, de ferramentas com partes cortantes, para evitar machucar as minhocas.”

A utilização de alguns equipamentos podem facilitar a vida do minhocultor, como termômetros, medidores de umidade e medidores de pH. “Trituradores de resíduos orgânicos aceleram o processo de tratamento dos resíduos orgânicos.  E o mais importante: o futuro minhocultor deve ter vocação para desenvolver uma atividade agrícola, que demandará tempo e dedicação do interessado.”

 

HÚMUS

O húmus é o resultado do processo de decomposição da matéria orgânica, que ocorre naturalmente, gerando um rico fertilizante. Teixeira explica que, no processo de decomposição, são consideradas algumas etapas muito importantes. A primeira delas é quando o material passa por uma ação de micro-organismos (química e biológica), caracterizada pela presença de fermentação. Nesta fase, quando está estabilizada, cria-se um ambiente propício para a atuação de uma série de macro-organismos (gongolos, formigas, tesourinha, tatuzinho, minhocas, etc.), que participarão do processo final de humificação.

“Destacamos neste processo o trabalho das minhocas, maiores e melhores produtoras biológicas de húmus. Podemos entender, então, o grande interesse na criação em cativeiro destes animais”, analisa Teixeira.

Para a implantação do minhocário, é necessário ter material orgânico tratado (animal ou vegetal), ou seja, com o processo fermentativo inicial estabilizado, as instalações devem permitir o controle da umidade (de 50 a 70%), temperatura (de 18 a 30° C) e do acesso de possíveis predadores (formigas, lacraias, sanguessugas, pássaros em geral).

“O húmus produzido será utilizado na manutenção da fertilidade dos solos e regeneração dos solos degradados. As minhocas serão usadas na alimentação de outros animais, in natura ou na forma de pasta ou farinha geralmente adicionada as rações”, relata o educador ambiental.

 

COMERCIALIZAÇÃO

O húmus pode ser comercializado a granel, em grandes quantidades destinadas à agricultura em geral e/ou ensacado, em pequenas quantidades geralmente destinadas a jardinagem e paisagismo.

“As minhocas despertam o interesse de um mercado muito interessante, que vai desde os criadores de pequenos animais, como pássaros e peixes ornamentais e até mesmo os criadores de grandes animais para enriquecimento das rações balanceadas. Outro filão é o da pesca recreativa, pesque-pagues e grupos de pesca formam um grupo de interesse em pleno crescimento. As minhocas também podem ser comercializadas como matrizes para futuros criadores”, comenta Teixeira.

 

CURSOS DA SNA

A SNA oferece mais de 50 cursos de extensão livre e presenciais, incluindo o de Minhocultura, na Escola Wencesláo Bello, no bairro da Penha, Rio de Janeiro. Para mais informações, acesse sna.agr.br/extensao.

 

Por equipe SNA/RJ

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