Conselho de Economia debate cenário político, questão fiscal e perspectivas globais

Marcílio Marques Moreira, ex-ministro da Fazenda, e Antonio Alvarenga, presidente da Sociedade Nacional de Agricultura. Foto: SNA

 

O Conselho de Economia da Sociedade Nacional de Agricultura (SNA), em reunião realizada em 7 de fevereiro na sede da instituição, debateu as perspectivas para o cenário político brasileiro, além de questões relacionadas ao setor fiscal e ao contexto econômico internacional.

“Estou muito preocupado com a situação política do Brasil. Acho também que, no momento, a melhoria da situação econômica é, sem dúvida, muito importante. Pena que o país perde muitas oportunidades”, declarou o ex-ministro da Fazenda Marcílio Marques Moreira.

Segundo ele, o atual ciclo em que o Brasil vive deverá continuar por até dois anos. “Economicamente o Brasil está num momento muito privilegiado. Esse ano o país deve crescer de 2,5% a 3%. Está se recuperando”, afirmou, acrescentando que o cenário internacional é favorável.

 

ELEIÇÕES

Quanto às perspectivas para as eleições presidenciais, Moreira aposta na escolha de um candidato de centro. “O eleitor precisa ir por esse caminho”, disse.

Já o economista Paulo Guedes falou sobre a probabilidade de um embate final, em segundo turno, entre Ciro Gomes, candidato de esquerda, e Jair Bolsonaro, “um legítimo herdeiro da direita”.

 

CONTAS PÚBLICAS

A questão fiscal também foi um dos temas em destaque na reunião do Conselho de Economia. “É nosso maior problema, e isso é consenso entre os economistas”, disse Rubem Novaes, coordenador do encontro.

“Nossa economia vai se recuperando devagar, mas não resolvemos o imbróglio fiscal. Temos perspectivas para desrespeitar tanto o mandamento constitucional que impõe limites de verbas para as despesas públicas quanto a regra de ouro (que determina que as operações de crédito da União não podem ser maiores que as despesas de capital). Como sair disso é a grande questão”.

Para Rubens Penha Cysne, no âmbito da Emenda Constitucional 95 (do teto de gastos), as despesas correntes diminuem em função do crescimento do Produto Interno Bruto (PIB), mas, ao mesmo tempo, as despesas com a Previdência crescem.

 

Rubem Novaes, coordenador do Conselho de Economia, e Roberto Castello Branco. Foto: SNA

 

SEM CONFORMIDADE

“Existe uma incongruência básica nesse texto. A recuperação do ciclo econômico esbarra nessa dificuldade, e as perspectivas de cumprirmos essa emenda se reduz a cada minuto”, afirmou Cysne.

Ele explica que cerca de 98% das despesas federais (exceto as transferências para estados e municípios) estão sujeitos ao controle da Emenda 95. “Se não conseguirmos admitir reajustes apenas com base na inflação, e não pelo PIB, será muito difícil passar para o controle 98% das despesas segundo essa regra”, alertou o economista.

“Apenas com algum tempo poderá haver convergência nesse sistema”, admitiu Cysne, acrescentando que “se algo em torno de 80% a 100% das despesas forem objeto de controle em termos reais, daria para estabilizar, em um espaço de seis a 20 anos, essa relação entre dívida líquida sobre o PIB”.

Para isso, concluiu o economista, “precisamos aprovar uma reforma da Previdência que permita à emenda sobreviver”.

 

PACOTE FISCAL

Ao analisar o atual cenário internacional, o Conselho analisou os possíveis efeitos da recente reforma fiscal dos EUA. “Ao mesmo tempo em que estimula o país, promove um fechamento da economia americana para importações, sobretudo da China”, afirmou Rubem Novaes.

“Com isso, criou-se uma perspectiva de alta da inflação, superaquecimento da economia e subida de juros que assustou os mercados”.

O economista Roberto Castello Branco associou parte do crescimento da economia mundial ao pacote americano. “O cenário internacional está muito bom. Desde 2010, a economia global cresce cerca de 3% ao ano. Em 2018 deve crescer próximo a 4%, devendo continuar nesse ritmo nos próximos dois anos”.

“No entanto, existem riscos”, disse. “À medida em que as expectativas de inflação se aceleram mais que o previsto, há muita volatilidade. Será preciso muita perícia dos bancos centrais para que não haja uma nova crise financeira. O ambiente de taxas de juros muito baixos leva o mercado a ignorar os riscos”.

 

RECUPERAÇÃO

“Puxado por uma conjuntura favorável na economia mundial, o Brasil está em recuperação cíclica, que começou com o agribusiness”, avaliou Carlos Von Doellinger.

“No curto prazo, há pequenas melhorias. A tendência é de redução significativa da taxa de juros real. As reservas internacionais entre 2016 e 2017 subiram de US$ 372 bilhões para US$ 382 bilhões. Porém, nossa taxa de investimento, nesse mesmo período, continua muito baixa, com 15% do PIB, segundo o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea)”.

Também estiveram presentes à reunião do Conselho de Economia o presidente da SNA, Antonio Alvarenga; o vice-presidente da instituição, Hélio Sirimarco; os diretores Paulo Protásio, Francisco Villela, Rony Oliveira, Marcio Sette Fortes, Sérgio Malta e Tulio Arvelo Duran; e os economistas Arnim Lore, Antonio Meirelles, Claudio Contador, Helio Portocarrero, Ney Brito, Paulo de Tarso Medeiros, Roberto Fendt, Sérgio Gabizo e Thomas Tosta de Sá.

 

 

Por Equipe SNA-RJ

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