Cisternas garantem água para o Semiárido

Apesar de toda a abundância de água no Brasil, há um bioma no País onde ela é extremamente escassa e qualquer brasileiro sabe identificá-lo no mapa: o Semiárido nordestino. Nessa região, são inúmeras as localidades que não contam com fontes permanentes de água doce, como rios, lagos, açudes e poços. Nesses casos, a pouca água que existe vem do céu.

A busca por alternativas para tornar possível a vida e a produção no Semiárido brasileiro passa, necessariamente, pelo aproveitamento das poucas e mal distribuídas chuvas que caem na região. Para coletá-las, uma das mais difundidas tecnologias é a cisterna, que armazena a água captada através dos telhados das casas para ser utilizada ao longo do ano.

Essas construções já fazem parte da paisagem rural da região, presente em grande número de domicílios. Com capacidade de armazenamento de 16 mil litros, ela garante às famílias água potável para beber e cozinhar. Já uma cisterna maior, de 52 mil litros, pode ser utilizada para a produção de alimentos como frutas e hortaliças, ou para consumo animal.

“As famílias precisam ter consciência de que cada cisterna tem um uso específico, e estes não podem ficar misturados”, ressalta a pesquisadora Luiza Brito, da Embrapa Semiárido. Por isso é que, para ter uma cisterna de produção, elas precisam, já ter uma de consumo. Essa é a premissa das políticas públicas do Governo Federal voltadas para a captação de água de chuva: o Programa Um Milhão de Cisternas, que desde 2003 já construiu mais de 500 mil delas, beneficiando cerca de 2,5 milhões de pessoas com água para consumo; e o Programa Uma Terra e Duas Águas (P1+2), que garante a água para a produção.

“A concepção do P1+2 teve o objetivo de melhorar a dieta das famílias rurais do Semiárido, inserindo as vitaminas e os sais minerais presentes nas frutas e hortaliças, além das proteínas, por meio das cisternas utilizadas para produção animal”, explica Luiza Brito.

Os benefícios podem ser confirmados pelos produtores que adotaram a ideia. A agricultora Alaíde Ferreira, de Petrolina (PE), conta que melhorou muito a alimentação da família, e até dos vizinhos, com o cultivo de um pomar doméstico. E se alegra com a possibilidade de ter um suco natural todos os dias, sem precisar comprar.

Benedita Santana, do mesmo município, se orgulha da variedade de frutas que agora tem em seu quintal: “É caju, manga, acerola, graviola, romã, todas sem agrotóxico”, destaca.

Diante de tamanha escassez de água que se verifica na região, o que se consegue com o auxílio das cisternas é um verdadeiro milagre. Estudos realizados pela Embrapa Semiárido mostram que é possível conseguir uma produção de 165 quilos de manga em um ano utilizando apenas 471 litros de água. Em comparação, a produção irrigada da fruta na mesma região requer a aplicação de, aproximadamente, 200 litros por dia. “A proposta aqui é suprir somente o mínimo necessário para a planta sobreviver”, explica a pesquisadora.

Em um ano típico de chuva foi possível obter 929 quilos de frutas, sendo 233 de manga, 148 de acerola, 130 de pinha, 293 de limão e 123 de mamão. Isso significa uma média de 2,5 quilos de frutas por dia. “É mais do que uma família média de cinco pessoas consegue consumir no dia a dia, o que significa que ainda pode gerar excedente para ser comercializado e complementar a renda dos produtores”, afirma Luiza.

Esses dados foram coletados em 2011, quando o índice de chuva no local foi de 590 milímetros. Já em 2012, um ano caracteristicamente de seca, foi registrado menos de um terço desse volume, apenas 149 milímetros. Ainda assim, e utilizando parte da água armazenada na cisterna desde o ano anterior, conseguiu-se obter um total de 550 quilos de frutas para consumo da família.

Se bem manejada, a água armazenada em uma cisterna de 52 mil litros é suficiente para manter um pequeno pomar, com cerca de 20 fruteiras, além de dois a quatro canteiros de hortaliças. Já no caso de a opção ser para o consumo animal, a mesma quantidade pode atender um rebanho em torno de 40 a 50 cabeças de caprinos ou ovinos durante o ano inteiro. Só com água vinda do céu.

Publicado na revista XXI Ciência para a vida

 

Fernanda Birolo –Embrapa Semiárido

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