Brasil inicia embarques de carne bovina in natura para os Estados Unidos

Divisão Beef da Marfrig Global Foods enviou para os EUA o primeiro contêiner com 25 toneladas de carne bovina in natura, provenientes da produção dos dias 14 e 15 de setembro, da unidade de Bataguassu
Funcionário fecha primeiro contêiner da Divisão Beef da Marfrig Global Foods, que seguiu para os EUA. As primeiras 25 toneladas de carne bovina in natura vêm da produção dos dias 14 e 15 de setembro, da unidade de Bataguassu (MS). Foto: Divulgação Marfrig

Dois primeiros contêineres de carne bovina brasileira in natura partiram de Mato Grosso do Sul em direção aos Estados Unidos. A remessa da Marfrig Global Foods saiu no domingo, 18 de setembro, da unidade de Bataguassu, e na segunda (19), da planta da JBS de Campo Grande, com destino ao Porto de Itapoá (SC), de onde seguirá viagem no fim de semana para o país norte-americano.

“Finalmente, o Brasil conseguiu superar as restrições sanitárias impostas pelos Estados Unidos”, comemora o diretor técnico da Sociedade Nacional de Agricultura (SNA) José Milton Dallari.

Ele, no entanto, faz uma ressalva: “Muito provavelmente, isso ocorreu sob pressão dos produtores americanos, que têm uma organização muito forte, principalmente em Chicago, Illinois e Kansas, e contam com representantes no congresso que sempre bloquearam a possibilidade de o Brasil exportar carne bovina in natura para os EUA, com receio de nosso País ampliar as vendas para aquele mercado”.

 

Diretor técnico da SNA, José Milton Dallari acredita que, “com a abertura do comércio de carne in natura para os Estados Unidos, provavelmente outros países que seguem a legislação sanitária norte-americana poderão ir pelo mesmo caminho”. Foto: Arquivo SNA
Diretor técnico da SNA, José Milton Dallari acredita que, “com a abertura do comércio de carne in natura para os Estados Unidos, provavelmente outros países que seguem a legislação sanitária norte-americana poderão ir pelo mesmo caminho”. Foto: Arquivo SNA

Na opinião de Dallari, as expectativas futuras para a carne brasileira são muito boas. “Com a abertura do comércio de carne in natura para os EUA, provavelmente outros países que seguem a legislação sanitária norte-americana poderão ir pelo mesmo caminho”, acredita.

“O início dos embarques para os EUA representam um importante avanço, não apenas pelo mercado relevante que se abre para a carne bovina in natura, mas também porque o aval de um dos países mais exigentes e rigorosos do mundo é dado ao produto brasileiro”, afirma José Vicente Ferraz, diretor técnico do Informa Economics Group – Consultoria e Informações em Agronegócios (IEG/FNP).

Na opinião dele, paulatinamente, na medida em que os canais de comércio se estabelecerem e se consolidarem, a tendência é de crescimento do volume exportado, ainda limitado por cotas. “No futuro, inclusive, não se descarta a expansão destas cotas”, prevê.

 

Diretor técnico do IEG/FNP, José Vicente Ferraz afirma que, paulatinamente, na medida em que os canais de comércio se estabelecerem e se consolidarem, a tendência é de crescimento do volume exportado. Foto: Divulgação
Diretor técnico do IEG/FNP, José Vicente Ferraz afirma que, paulatinamente, na medida em que os canais de comércio se estabelecerem e se consolidarem, a tendência é de crescimento do volume exportado. Foto: Divulgação

MARFRIG

A Divisão Beef da Marfrig Global Foods enviou para os EUA o primeiro contêiner com 25 toneladas de carne bovina in natura, provenientes da produção dos dias 14 e 15 de setembro, da unidade de Bataguassu. Segundo nota da empresa, com a abertura do mercado norte-americano, a indústria brasileira terá a oportunidade para ocupar parte significativa da cota, sem taxas, de 64 mil toneladas destinadas ao Brasil e a outros países da América Latina, uma vez que este volume nunca foi totalmente atingido.

Alguns dos países que, atualmente, usam a maior parte da cota terão acesso ilimitado ao mercado norte-americano, a partir de 2020, como consequência da implementação do Cafta (traduzindo em português: Tratado de Livre Comércio entre EUA, América Central e República Dominicana), liberando ainda mais espaço para a carne brasileira.

Ainda de acordo com o comunicado da Marfrig, a exportação de carne in natura brasileira para os EUA é resultado do empenho do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa). “Com agilidade e desburocratização do sistema, o Ministério conseguiu, em tempo recorde, efetivar a abertura do mercado norte-americano. Em apenas 45 dias após a assinatura do acordo, o Brasil embarcou o primeiro contêiner de carne in natura para os EUA”, destaca a nota.

 

CORTES DIANTEIROS

Também em comunicado à imprensa, o diretor de Relações com Investidores da JBS, Jerry O’Callaghan, informou que as 25 toneladas de cortes dianteiros embarcadas pela empresa foram negociadas como um “prêmio em relação a outros mercados abertos ao Brasil”. O preço, no entanto, não foi revelado.

Para O’Callaghan, o reconhecimento das condições sanitárias no Brasil reflete o esforço conjunto do setor produtivo e do governo. “Com a abertura do mercado norte-americano, atualmente um dos maiores importadores de carne bovina do mundo, abre-se uma nova fronteira para as exportações de carne bovina in natura brasileira, não apenas para os EUA, mas também para outros mercados que seguem os mesmos padrões em relação às exigências sanitárias”, comenta o executivo da JBS.

“Rompemos um paradigma de décadas, enfrentado pelo Brasil, em relação a um de seus principais produtos de exportação”, declara ele, em nota.

 

“Rompemos um paradigma de décadas enfrentado pelo Brasil em relação a um dos seus principais produtos de exportação”, declarou diretor de relações com investidores da JBS, Jerry O’Callaghan. Foto: Divulgação/Celso Doni/Cordel
“Rompemos um paradigma de décadas enfrentado pelo Brasil em relação a um dos seus principais produtos de exportação”, declarou diretor de relações com investidores da JBS, Jerry O’Callaghan. Foto: Divulgação/Celso Doni/Cordel

HABILITAÇÃO

O acordo comercial entre Brasil e EUA foi firmado em primeiro de agosto de 2016, após uma negociação que durou 17 anos. O processo de habilitação dos frigoríficos foi concluído em tempo recorde pelo Ministério da Agricultur.

Além da unidade da Marfrig, em Bataguassu (MS), o Departamento de Agricultura dos EUA (USDA) anunciou a habilitação de quatro plantas da JBS para as exportações: de Naviraí (MS), Campo Grande II (MS), Andradina (SP) e Lins (SP). Dois frigoríficos da Minerva – um, em Barretos (SP) e outro, em Palmeiras de Goiás (GO) – também foram autorizados a exportar para o mercado norte-americano.

 

NOVOS MERCADOS

O ministro da Agricultura, Blairo Maggi, que está desde o dia primeiro de setembro em uma missão na Ásia, informou, na segunda-feira (19), que o Brasil fechou um acordo comercial para exportar carnes bovina, suína e de aves para a Malásia.

Ele já havia anunciado a abertura do mercado do Vietnã, para carnes e derivados de leite, também condicionado a visitas técnicas de emissários daquele país. Para Myanmar, a expectativa de Maggi é exportar carne, além de abrir as portas daquele país para as empresas brasileiras instalarem frigoríficos de carnes bovina, suína e aves. O objetivo é vender no mercado interno de Myanmar e até exportar, a exemplo do que ocorre na Tailândia, Coreia, Emirados Árabes e China.

 

EXPORTAÇÕES

Segundo a Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne (Abiec), as exportações de carne bovina brasileira (in natura e processada) encerraram o mês de agosto com aumento de 10% no faturamento, em comparação a julho. A receita do período totalizou US$ 468 milhões e o embarque alcançou 114,3 mil toneladas de carne, resultando em um crescimento de 4% sobre o mês anterior.

No acumulado de janeiro a agosto, as exportações brasileiras de carne bovina tiveram alta de 9% no volume embarcado, atingindo 960,2 mil toneladas e gerando uma receita de US$ 3,701 bilhões (queda de 2% em relação a igual período de 2015).

 

Por equipe SNA/SP

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