Brasil deve diversificar a pauta de exportações para China, afirma embaixador

“As respostas chinesa e brasileira permitiram que a relação bilateral contrabalançasse a queda no comércio com os grandes países importadores”, diz o embaixador Clodoaldo Hugueney
“As respostas chinesa e brasileira permitiram que a relação bilateral contrabalançasse a queda no comércio com os grandes países importadores”, diz o embaixador Clodoaldo Hugueney

 

O Brasil deve diversificar a pauta de exportações para China, combinando qualidade e quantidade. A opinião é do embaixador brasileiro Clodoaldo Hugueney.

“A demanda chinesa por matérias primas é muito importante para um grande produtor como o Brasil”, ressalta ele, esclarecendo que as exportações nacionais estão concentradas em um pequeno número de produtos agrícolas e minerais, enquanto as chinesas têm grande diversificação em produtos manufaturados.

“Não há nada de errado em exportar matérias primas, mas podemos diversificar começando por produtos agropecuários industrializados.”

Hugueney  já atuou no Chile, Estados Unidos, Reino Unido. Foi embaixador na Venezuela, União Europeia, Venezuela, todos os postos junto aos organismos internacionais em Genebra e à Organização Mundial do Comércio, a OMC (2005-08). Também foi embaixador do Brasil em Pequim, de 2008 a 2013. Ele chegou à China exatamente quando o impacto da crise mundial estava se expandindo e os países começando a reconhecer sua dimensão e a tomar medidas.

“As respostas chinesa e brasileira permitiram que a relação bilateral contrabalançasse a queda no comércio com os grandes países importadores.”

Para o diplomata, é  necessário reformar para crescer nas duas economias e na relação bilateral. “As reformas na China são de amplitude gigantesca e estão sendo executadas com dificuldade, mas com determinação e dentro de um plano bem delineado.”

Conforme Hugueney, os chineses pretendem mudar  o modelo de crescimento. “Não faz mais sentido a China, como segunda economia do mundo, seguir crescendo 10% ao ano, com investimentos maciços  da ordem de 45 a 50% do PIB (Produto Interno Bruto) e com custos sociais e ambientais elevados.  A economia chinesa tem que se rebalancear, tem de passar do motor do investimento para o motor do consumo.”

Entre as reformas, ele destaca a aceleração da urbanização, “que vai transformar a China em um país que terá a maioria da população vivendo em cidades ao invés do campo, o que acarretará o aumento do consumo e melhor distribuição de renda”. Para ele, “haverá um espaço crescente para as exportações brasileiras, não só de produtos da agricultura e da pecuária, mas também na área de minérios, de florestais, entre outras”.

Na opinião do embaixador, “nós também temos de reformar para voltar a crescer, aumentando investimentos e produtividade. O Banco Mundial (BM) fez um estudo muito interessante, no qual mostra que as mudanças na China e no Brasil vão abrir uma nova fase nas relações econômicas entre os dois países”.

 

ÍNDIA

Hugueney cita como exemplo a Índia, que tem como um dos grandes programas desenvolvidos pelo primeiro ministro Narendra Modi, além do programa Made In India, para promover a indústria e o lançamento de novos produtos Hindus, o de modernização da infraestrutura.

“O mesmo está ocorrendo na Indonésia e em vários outros países onde há um déficit nessa área. E isso ocorre também aqui no Brasil. Uma colaboração com a China, tanto na área de investimentos como na área de comércio é muito positiva na área de infraestrutura. Há indicações de que essa complementaridade vai seguir dinamizando essa relação.”

 

ASPECTOS DA RELAÇÃO

Hugueney volta a chamar a atenção para o aspecto que desperta maior inquietação na relação com a China, em sua opinião. “O comércio brasileiro está crescentemente concentrado num número pequeno de produtos para as exportações para a China e as suas exportações para o Brasil tem uma diversificação imensa e estão concentradas em produtos manufaturados.”

Esse é um tema, afirma ele, “que temos de olhar com cuidado e ver como atuaremos para modificar esses aspectos da relação”. E volta a citar o último estudo do BM, no qual as implicações das reformas na China para o Brasil “são muito interessantes porque tratam-se de um estudo equilibrado e mostram que esse é um problema não só brasileiro, mas de praticamente todo mundo”.

“Ocorreu com a China, porque reflete o fato de ter se tornado o grande centro manufatureiro do mundo e de integrar uma grande rede de cadeias, sobretudo no leste da Ásia, que fazem com que as exportações chinesas envolvam importações de toda essa cadeia que produz para finalizar a sua manufatura na China.”

Para Hugueney, isto se refere a uma série de temas que precisam ser analisados com cuidado, para que essa relação siga crescendo e cada vez mais benéfica para o Brasil, além de promover, em território nacional, o desenvolvimento não só na área de agricultura, pecuária, minério, mas também da indústria, serviços, entre outras.

“É isso que o estudo do Banco Mundial mostra: que as mudanças na China vão permitir ao Brasil explorar novas oportunidades no mercado chinês.”

Por equipe SNA/SP

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