Barragens: Cidade goiana ganha destaque pelo uso correto da água na irrigação

Na cidade de Cristalina (GO), 165 barragens com três a quatro pivôs cada abastecem os quase 680 pivôs centrais, que levam água captada da chuva para o campo. Fotos: Divulgação
Na cidade de Cristalina (GO), 165 barragens com três a quatro pivôs cada abastecem os quase 680 pivôs centrais, que levam água captada da chuva para o campo. Fotos: Divulgação

Uma cidade do interior de Goiás, com pouco mais de 52 mil habitantes, vem ganhando notoriedade no cenário do agronegócio nacional pelo uso sustentável da água para irrigação agrícola, por meio da construção de barragens individuais e coletivas.

Localizada a 288 quilômetros de Goiânia, capital do Estado,  e 131 de Brasílai (DF), Cristalina tem sido exemplo para o Brasil e para a América Latina, principalmente porque há tempos seus produtores rurais despertaram para a possibilidade de, um dia, faltar água. E isso foi por volta do ano de 1986, quando nem se falava em crise hídrica no País.

Quase três décadas se passaram e hoje cerca de 140 agricultores da região comemoram o fato de terem passado praticamente ilesos pelo problema da falta de água, que atingiu principalmente a região Sudeste do Brasil. E as ações foram simples, conforme relata o produtor e presidente do Sindicato Rural de Cristalina, Alécio Maróstica.

“Há muitos anos, passávamos por períodos preocupantes de seca, entre maio e setembro, que obviamente antecediam as chuvas, de outubro a abril. Sempre nos perguntávamos sobre o que fazer com aquilo que escorria na terra e não era aproveitado. A partir disso, fomos pesquisar, pedir assistência técnica e, em seguida, iniciamos as construções de barragens nas propriedades rurais, que servem para acumular água das chuvas”, relata.

“Hoje temos mais ou menos 52 mil hectares irrigados desta maneira, com algo em torno de 680 pivôs centrais em pleno funcionamento”, informa.

Maróstica explica que as barragens mantêm os pivôs funcionando, o que garante o fluxo de água no sistema, que vai direto para o campo, favorecendo a pecuária e as mais de 40 culturas agrícolas do município, entre soja, milho, algodão, frutas, legumes e verduras variadas.

O SISTEMA

Diante da indisponibilidade para aumentar a área plantada, a irrigação tem se tornado o melhor método para manter a produção agrícola em alta. Também é importante ressaltar que, segundo especialistas em agronegócio, os gastos com ela representam de 15% a 25% do custo total da produção, em média.

“Atualmente, Cristalina conta com 165 barragens, com três a quatro pivôs cada, algumas individuais e outras compartilhadas. Os resultados são fantásticos, pois, pelas informações que tenho, nossa cidade é a única do País a ter esse tipo de trabalho contínuo e em maior escala. Outras começaram a adotar este sistema de barragens recentemente, como Formosa (GO) e Unaí (MG)”, informa o presidente do Sindicato Rural.

“O problema da falta de água no Brasil não é do recurso em si, mas de gestão, de uso correto, de armazenamento. Só que o agricultor que pretende adotar práticas sustentáveis no campo nem sempre conta com o financiamento necessário para investir", comenta o produtor rural e presidente do Sindicato Rural de Cristalina, Alécio Maróstica. Foto: Divulgação
“O problema da falta de água no Brasil não é do recurso em si, mas de gestão, de uso correto, de armazenamento. Só que o agricultor que pretende adotar práticas sustentáveis no campo nem sempre conta com o financiamento necessário para investir”, comenta o produtor rural e presidente do Sindicato Rural de Cristalina, Alécio Maróstica. Foto: Divulgação

CUSTOS

A intenção dos produtores rurais cristalinenses, segundo Maróstica, é elevar o espaço ocupado pela irrigação de 52 mil para 100 mil hectares. Mas para isso é necessário estender a rede de energia elétrica, por parte da Celg, companhia de abastecimento de Goiás. Além disso, ele ressalta que, sem crédito para o financiamento deste tipo de trabalho, o produtor rural precisa tirar o investimento do próprio bolso, se quiser construir as barragens, que não são nada baratas.

“O problema da falta de água no Brasil não é do recurso em si, mas de gestão, de uso correto, de armazenamentos e de investimentos. Só que o agricultor que pretende adotar práticas sustentáveis no campo nem sempre conta com a verba necessária. Uma barragem que reserva cinco milhões de metros cúbicos de água, por exemplo, se for construída individualmente, custará algo entre R$ 800 mil e R$ 1,2 milhão”, ressalta.

A este valor, ainda há um acréscimo de R$ 5 mil a R$ 12 mil para a implantação de um projeto de pivôs centrais. “Até hoje, só conheço um produtor, da cidade mineira de Unaí, que conseguiu financiamento para construir a própria barragem”, comenta.

CAPTAÇÃO

“Sabemos que há produtores rurais que, sem recursos para construir as barragens em suas propriedades, ainda captam água direto dos rios. Mas isto é um prejuízo para todos nós, pois um dia essa água vai secar, se o uso for feito de forma indiscriminada”, alerta.

Como alternativa para aqueles agricultores que não têm dinheiro para construir a própria barragem, Maróstica sugere o sistema de compartilhamento com propriedades vizinhas.

“Hoje, em nossa região, 30% das barragens são compartilhadas, que contam com 10 a 15 irrigantes.”

A cidade de Cristalina é banhada pela Bacia de São Marcos, que abastece o Rio Paranaíba, assim como o Corumbá, além do Rio Preto, que abastece o Rio São Francisco.

Maróstica ainda informa que a região é cercada por 266 rios e veredas e, mesmo assim, persiste a preocupação contínua com o abastecimento de água hoje e no futuro.

“Passamos ilesos pela crise hídrica, mas não podemos descuidar, pois a água é, sim, um bem esgotável.”

Por equipe SNA/RJ

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