Arroz: à espera dos leilões de Pep e Pepro, mercado segue sem referências

Na expectativa para os leilões de Pep e Pepro que acontecerão nesta quinta-feira, 22 de fevereiro, pela manhã, o mercado de arroz em casca do Rio Grande do Sul permanece sem referências de preços. As cotações no mercado livre oscilam entre R$ 32,00 e R$ 34,00 dependendo da região, da variedade, da qualidade, percentual de inteiros, prazo de pagamento, impacto do frete e relação à empresa compradora (financiamento, etc…).

O indicador de preços do arroz em casca, em sacas de 50 quilos (58 x 10) no Rio Grande do Sul Esalq/Senar-RS registrou nesta terça-feira (20/2) média de R$ 34,74 para o grão gaúcho. Em fevereiro apresenta queda acumulada de 3,1%. Pela cotação do dólar, o valor bate em US$ 10,68. O dólar comercial fechou na terça-feira (20/2) a R$ 3,256.

Cenário

O cenário pré-leilão frustra um pouco os produtores mais otimistas, mas reflete o conservadorismo desta cadeia produtiva e a lógica de mercado. Afinal, haverá oferta de quase nove milhões de toneladas nos dois estados sulistas em curto prazo para uma ação que busca retirar 300.000 toneladas (3,3%) de circulação. O sucesso da primeira oferta dos mecanismos será fundamental para sinalizar o comportamento dos preços neste período de intervenção governista.

Um segundo leilão é esperado para o dia 8 de março, com mais 250.000 toneladas e eventuais sobras da oferta desta quinta. Espera-se que a cada 20/25 dias aconteça nova oferta com a meta de esterilizar 1.2 milhão de toneladas do mercado em Prêmio de Escoamento de Produto (Pep) e Prêmio Equalizador Pago ao Produtor (Pepro) para o extremo Norte, ou para o Nordeste ou, de preferência, ao exterior.

O volume total de produto a ser retirado da pressão de oferta na colheita representará pouco mais de 13% da nova safra do Rio Grande do Sul e Santa Catarina. Nesta terça-feira (20/2), a Companhia Nacional de Abastecimento anunciou o valor dos prêmios de Pep e Pepro.

Para a Região 1 gaúcha (Fronteira-Oeste, parte da Campanha e parte da Depressão Central), o valor é de R$ 0,0924 por quilo, ou R$ 4,62 por saca de 50 quilos em casca. A Região 2, que inclui os municípios arrozeiros do Sul, litoral, planícies e parte da Depressão Central, o valor é de R$ 0,0646 por quilo, ou R$ 3,23 por saca. O mesmo valor vale para a Região 3, ou seja, as 30.000 toneladas ofertadas para Santa Catarina. Os valores ficaram levemente abaixo do que vinha sendo buscado pelo setor.

Barco

A recomendação das entidades é de que os produtores que têm contratos de financiamento direto com as indústrias busquem as empresas e apresentem argumentos que as façam participar do leilão de Pep.

Isso porque, no lugar de forçar o produtor a entregar o arroz a R$ 30,00/R$ 33,00, poderá, mediante o compromisso, buscar o subsídio e pagar o referencial da Política de Garantia de Preços Mínimos (PGPM) que é de R$ 33,68 para produto com 50/56 de grãos inteiros; R$ 36,01 (58/59); R$ 37,40 (60/62) e R$ 39,50 para o cereal com mais de 63% de rendimento.

Para as entidades, esta será a hora da verdade, ou seja, o momento da cadeia produtiva realmente mostrar se está no mesmo barco. O argumento central é de que o conjunto da cadeia produtiva está indo na mesma direção, e que este é um momento crucial para a defesa dos interesses coletivos. Havia demanda por recursos, as entidades arrancaram R$ 100 milhões a fórceps do governo federal e o valor está disponibilizado.

Agora é a vez de indústrias e produtores darem as mãos para saírem juntos da crise, ao menos da parte mais crítica, e tirar o melhor aproveitamento possível destes mecanismos. No caso do Pepro, as entidades entendem que a situação é “menos dramática” por envolver diretamente aqueles arrozeiros que têm autonomia para venda de seu produto e a safra ou que têm estoques não comprometidos com financiamentos privados, cujos contratos estão por vencer a curtíssimo prazo.

Mais que nada

Se por um lado R$ 36,01 de referência não cobre o custo total de produção, apontado pelo Instituto Rio Grandense do Arroz (Irga) em R$ 45,21/50kg (R$ 6.816,69 por hectare), pelo menos é melhor que os R$ 30,00 a R$ 33,00 hoje indicados para o mercado livre. É também um valor que cobre o desembolso (custo variável). A expectativa é de que entre os dias 7 e 8 de março aconteça nova oferta de mecanismos para o equivalente a 250.000 toneladas, incluindo eventuais sobras deste primeiro leilão.

Para as entidades, a leitura é de que a retirada de 1.2 milhão de toneladas via ferramentas governamentais permitirá uma equalização do mercado em níveis capazes de alavancar uma recuperação gradual dos preços a partir do final do semestre. Alcançada a meta dos leilões, o piso referencial no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina evoluirá de R$ 30,00 para R$ 36,00.

Outros fatores

Além disso, há dois outros fatores importantes que devem ser observados. Em primeiro lugar, com os preços atuais, o Rio Grande do Sul tem conseguido competir no mercado externo e deve confirmar mais de 150.000 toneladas embarcadas em fevereiro. Pep, Pepro e exportações são fatores que podem enxugar drasticamente o estoque de passagem do Brasil, inicialmente apontado em torno de 1.5 milhão de toneladas.

Como a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) está projetando aumento do consumo, as perdas no Rio Grande do Sul estão sendo maiores do que o previsto, agravadas pelo frio pós-Carnaval. Ainda existe a expectativa de mais 200.000 toneladas serem adquiridas de pequenos e médios produtores por meio das Aquisições do Governo Federal (AGFs). Tudo indica que a relação oferta e demanda será muito ajustada ao longo do ano.

Aspecto negativo

O lado negativo, porém, é que com o preço mínimo acima de US$ 11,00 e o produto interno com cotações em alta a partir do final do semestre, o mercado brasileiro se manterá altamente atrativo para o arroz do Mercosul, com a tendência de voltar a importar perto de um milhão de toneladas ao longo de 2018/19.

Se for confirmada a recuperação de preços no mercado interno, o Brasil também deixa de ser competitivo no comércio exterior. A menos que consiga mais recursos para tais mecanismos.

Alguns analistas estão preocupados com a inclusão de estados brasileiros, em especial o Nordeste, no Pep e Pepro. Preferiam que os mecanismos fossem todos direcionados à exportação. Agora, o jeito é esperar o final desta semana e ver o resultado dos leilões e a leitura que o mercado fará destas operações.

A partir desta quarta-feira, a cadeia produtiva gaúcha estará reunida em Cachoeirinha (RS) para a abertura da colheita. A comercialização da safra e dos estoques e o impacto da oferta do Mercosul serão temas centrais dos debates.

Mercado

Sem referências, com a ressaca do Carnaval e em compasso de espera para os leilões, as cotações não sofreram alterações na última semana. Toda e qualquer projeção dependerá do resultado da operação desta quinta-feira e da reação da Conab/Ministério da Agricultura.

 

Fonte: Planeta Arroz

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