A busca brasileira pela sustentabilidade agropecuária

O ano de 2009 foi um marco para o Brasil diante dos compromissos assumidos pelo País durante a COP 15 (15ª Conferência das Partes da Convenção das Nações Unidas sobre Mudança do Clima), em Copenhague, Dinamarca. O maior deles, certamente, foi instituir, no mesmo ano, a Política Nacional sobre Mudança do Clima (PNMC), que definiu o compromisso nacional e voluntário de adoção de ações mitigadoras para reduzir as emissões de gases de efeito estufa (GEE).

O contexto e suas correlações, entretanto, já eram uma preocupação brasileira, antes de 2009, e foram relatadas durante o 2º Simpósio Internacional sobre Gases de Efeito Estufa na Agropecuária (SIGEE), realizado pela Embrapa e Sistema Famasul, que termina nesta quinta-feira, 9 de junho, em Mato Grosso do Sul.

Entre as iniciativas está o cumprimento de apresentar inventários nacionais de gases de efeito estufa estabelecido na Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (UNFCCC), elaborada na Rio 92. O 1º Inventário Brasileiro, lançado em 2004, contém informações sobre as emissões brasileiras para os anos de 1990 e 1994. O segundo, apresentado em 2010, de 1990 a 2005, e o 3º Inventário Nacional de Emissões, divulgado em maio deste ano, após a Conferência do Clima em Paris, considerou 1990 a 2010.

“De 2005 para 2010 houve um aumento nas emissões da pecuária, mas comparando a produção com a produtividade, o aumento da produtividade foi maior que as emissões e isso mostra um sistema cada vez mais sustentável, que produz mais do que emite”, demonstra o pesquisador da Embrapa Renato Aragão Rodrigues.

Economia, agropecuária, uso da terra e florestas, processos industriais e tratamento de resíduos são os setores da economia considerados no documento. A Embrapa é responsável pela agropecuária, desde o primeiro Inventário, e Rodrigues o atual coordenador. Ele explica que apesar de a obrigatoriedade e de não ter o objetivo de propor soluções, reportar as emissões de GEE é fundamental para subsidiar políticas públicas, mais ainda, considerando que, “provavelmente em alguns anos, a quantidade de emissões controlará o mercado, pois consumidores conscientes buscarão produtos que gerem menos emissões, com impactos visíveis na economia nacional”.

A construção do Inventário envolve, diretamente, 40 pesquisadores da Empresa e 15 unidades de pesquisa.

 

COMUNIDADE CIENTÍFICA

O envolvimento da comunidade científica demonstra uma relação fundamental para Rodrigues, no qual a pesquisa alimenta o inventário, com dados de campo e laboratórios e o inventário, por sua vez, alimenta e fomenta políticas públicas. Prova disso é o Programa ABC, uma linha de crédito federal do Plano Setorial de Mitigação e de Adaptação às Mudanças Climáticas para a Consolidação de uma Economia de Baixa Emissão de Carbono na Agricultura (Plano ABC).

O Plano, vigente de 2010 a 2020, incorpora ações e metas, sugeridas por instituições e especialistas. No caso da Embrapa, há um gerenciamento macro dos estudos em mudanças climáticas, com a missão de reunir e sintetizar os resultados das pesquisas e nortear futuras propostas e com o grande desafio de “fazer com que estes resultados não parem na Empresa, mas que cheguem, efetivamente, aos produtores rurais, na forma de ações mitigadoras”, destaca Giampaolo Queiroz Pellegrino, gestor do portfólio de mudanças climáticas da empresa.

Atualmente, há 146 projetos em diversos estágios de desenvolvimento e com relação integral ou parcial com o tema.

 

EMISSÃO DE GEE

Giampaolo também ressalta a iniciativa brasileira de analisar documentos científicos que tratavam a pecuária como a maior emissora de GEE. As inconsistências encontradas pelos cientistas foram entregues à Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), o que resultou em “uma clara mudança de postura no cenário internacional da pecuária brasileira e suas emissões. Ficou evidente o quanto o País encara, séria e cientificamente, o assunto”.

Os pesquisadores acreditam que a adoção de medidas conservacionistas por parte dos produtores é eficaz e eficiente quando há um compromisso em viabilizar e estimular isso, por meio, principalmente, de políticas públicas.

 

PARCERIA 

A cooperação entre instituições é outro caminho que incrementa a busca por soluções cada vez mais sustentáveis. Professor na Universidade de Pisa, na Itália, Marcello Mele, conduz estudos que sugerem, fortemente, ser possível adotar uma seleção genética para reduzir as emissões de metano em ruminantes e “também há evidências que a seleção para características indiretas, como longevidade e fertilidade, pode produzir resultados valiosos”. PhD em Ciência Animal, Mele está ao lado de pesquisadores da Embrapa, em busca de biomarcadores em carnes com baixa emissão de metano.

 

Fonte: Embrapa Gado de Corte

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