Embrapa atesta benefícios econômico e ambiental do sistema plantio direto após 30 anos de pesquisa

“O sistema convencional comprometia - e ainda compromete - a sustentabilidade da agricultura, além de contaminar os rios com fertilizantes e defensivos agrícolas”, explica o pesquisador da Embrapa Soja Henrique Debiasi
‘O sistema convencional comprometia – e ainda compromete – a sustentabilidade da agricultura, além de contaminar os rios com fertilizantes e defensivos agrícolas’, explica o pesquisador da Embrapa Soja Henrique Debiasi

 

Um estudo da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) comprova os benefícios econômicos e ambientais do sistema plantio direto nas lavouras de grãos em relação ao convencional. A publicação “Sistemas de preparo do solo: trinta anos de pesquisas na Embrapa Soja” é resultado de três décadas de levantamento sobre os dois sistemas de manejo utilizados no País.

Pesquisador e um dos responsáveis pelo estudo, Henrique Debiasi ressalta que, nos anos de 1970 e 1980, o sistema convencional de preparo do solo era o mais aplicado pelos agricultores no Brasil, o que causou sérios problemas.

“Naquela época, havia uma perda média de 20 toneladas por hectare de grãos, causada pela erosão do solo. O sistema convencional comprometia – e ainda compromete – a sustentabilidade da agricultura, além de contaminar os rios com fertilizantes e defensivos agrícolas. Fora isso, o prejuízo financeiro do produtor rural era muito alto”, destaca.

O sistema convencional consiste em usar o método de aração e/ou gradação, que, segundo ele, provoca dois efeitos.

“Primeiramente, o solo fica exposto ao impacto da gota de chuva, que bate nele formando uma crosta por onde a água não consegue infiltrar. O líquido escoa, criando uma enxurrada, carregando a terra que vai parar nos rios. O dano ambiental é grave, porque este tipo de manejo provoca o assoreamento da camada mais fértil do solo”, ressalta.

“O segundo problema observado por nossas pesquisas é que o preparo convencional causa perdas de matéria orgânica do solo não somente pela erosão, mas pela mineralização. Ela oferece condições aos microorganismos de transformarem essa matéria orgânica – principal fator do solo tropical – em gás carbônico, que vai parar na atmosfera, contribuindo para o efeito estufa.”

Debiasi informa que o sistema convencional pode ser aplicado de duas maneiras: em uma delas, o tratamento da terra é feito após a colheita da cultura, em áreas menores; a outra (mais comum) é aplicada em áreas mais extensas.

“Na primeira forma de manejo, o agricultor faz a aração, lavra o solo, mobilizando-o em 20 centímetros de profundidade, sem cobertura de palha. Depois ele faz a gradagem (geralmente duas), que consiste em quebrar os torrões de terra, que vira um pó, nivelando a superfície. Nesta fase, ainda remove mais cinco centímetros de solo com a gradagem leve. No segundo caso, sai a aração e entra somente a gradação mais pesada (com máquinas mais potentes), que escava o solo em uma profundidade de 12 centímetros. Este método tem maior capacidade operacional, no entanto é pior que a aração.”

MANEJO ADEQUADO

Ao longo de 30 anos, foi observado que, com o sistema plantio direto, as perdas foram reduzidas em 95%.

“Mas é bom entender que tais perdas são possíveis somente se houver um manejo adequado do solo”, alerta Debiasi.

O pesquisador explica que neste sistema é utilizada apenas uma máquina semeadora, diretamente sobre a palhada que é colocada após a colheita da cultura anterior. O solo é removido somente na linha do plantio (sem profundidade e sem quebra de torrões de terra).

De acordo com ele, atualmente o plantio direto é aplicado em torno de 75% das lavouras de grãos do Brasil.

“Não sabemos ao certo o motivo de 25% dos agricultores ainda não optarem pelo sistema considerado mais adequado. Pode ser pelo fato de algumas regiões não terem muitas opções de palhada, por terem períodos de chuva mais curtos ou porque os produtores optam pelo sistema convencional na tentativa de controlar o surgimento de ervas daninhas e de algumas pragas.”

Conforme Debiasi, o plantio direto ainda tem a capacidade de “sequestrar” gás carbono.

“Diante de todos os dados e por meio dos experimentos realizados nas áreas da Embrapa, podemos comprovar que a produtividade de grãos pelo sistema plantio direto é 60% maior que o convencional. Outra vantagem é a economia de combustível, porque é usado menos óleo diesel na agricultura, daí seu impacto no meio ambiente ser mais positivo.”

O pesquisador da Embrapa Soja defende o sistema como o mais adequado para a realidade do Brasil e do mundo.

“Resumindo, com o plantio direto há um mínimo de revolvimento do solo, desde que o agricultor mantenha o mesmo sistema (não pode passar para o convencional) e faça o manejo de forma correta; tem uma cobertura permanente do solo com palha ou plantas vivas; e utiliza sistemas diversificados com a rotação de culturas, o que torna o processo mais sustentável para o bolso do agricultor e para o meio ambiente.”

Por equipe SNA/RJ

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