Volatilidade trava mercado de café

Em plena safra de café, e com a colheita quase encerrada, a comercialização está travada no mercado doméstico, de acordo com corretores e especialistas. Isso porque cafeicultores estão retendo as vendas à espera de novas altas de preços e a demanda por parte dos compradores internacionais está momentaneamente fraca.

A forte volatilidade no mercado internacional de café explica esse cenário, uma vez que a oscilação de preços acaba atrapalhando a tomada de decisão por parte de vendedores e compradores. No acumulado do ano, os contratos de café negociados na bolsa de Nova York registram alta de 64%, mas oscilaram muito até agora. A cotação chegou a subir 90% em 2014, em função da seca e do calor registrados nos primeiros meses do ano, fase de desenvolvimento dos grãos.

“Fazia muito tempo que não havia uma entrada de safra tão tranquila”, diz Eduardo Carvalhaes, do Escritório Carvalhaes, de Santos (SP), referindo-se à lentidão nos negócios neste ciclo 2014/15. Ele ressalva, porém, que sempre são fechados negócios em função dos compromissos do país nas exportações e no consumo interno. Embora não tenha estimativa do volume de transações fechadas atualmente, Carvalhaes afirma que estão abaixo do usual para o período.

Segundo ele, parte dos produtores fez caixa com a comercialização mais intensa dos grãos em alguns meses do primeiro semestre, quando os preços subiram significativamente. Além disso, prorrogaram o pagamento de financiamentos e acreditam que os preços do café vão subir ainda mais.

Os exportadores, por sua vez, estão ainda embarcando café adquirido anteriormente. Muitas das compras domésticas são feitas por exportadores. Já compradores do mercado externo estão comprando o produto da “mão para a boca” e ficam “com um pé atrás” diante de um mercado muito volátil, afirma Gil Barabach, analista da consultoria Safras & Mercado. A expectativa é que, com a proximidade do inverno no Hemisfério Norte, a demanda pelo café brasileiro volte com mais intensidade.

Tendo como base dados de cooperativas e exportadores, Cláudio Brito, da L&C Corretagem de Café, de Varginha (MG), estima que de julho até agora, a comercialização interna foi 15% menor que no mesmo período do ano passado.

A percepção de que as vendas travaram no país se deve à falta de comercialização de café novo atualmente. Isso ocorre porque na primeira metade deste ano foram realizadas mais vendas antecipadas da safra 2014/15, puxadas pelos preços mais altos do grão.

Nesse período, a saca do café de boa qualidade chegou a valer mais de R$ 500, ante os atuais R$ 430 a R$ 440. De acordo com levantamento da Safras & Mercado, a comercialização de café no país até 15 de julho, incluindo as vendas físicas e as antecipadas, atingiu 38% da safra 2014/15. No mesmo período do ano passado, esse percentual era de 21% – a média dos últimos cinco anos foi de 30%.

Barabach observa que a venda antecipada da safra foi mais forte em 2014 que em outros anos por conta das cotações mais altas do café. Segundo ele, entre 22% e 25% da safra 2014/15 foi negociada em maio deste ano, quando se iniciava a colheita, para entrega em agosto, setembro e outros meses, ante 13% em maio de 2012. Não há dados disponíveis sobre 2013, em função do baixo volume de vendas antecipadas.

Além disso, de acordo com o analista da Safras & Mercado, alguns produtores também aproveitaram os preços mais elevados para vender café da safra 2015/16 por até R$ 600 a saca.

O ritmo de comercialização tem acompanhado o comportamento dos preços do café. As vendas do grão no país foram mais intensas até abril e maio e perderam fôlego quando as cotações da commodity voltaram a se acomodar. “O produtor está escalonando as vendas e tentando aproveitar os momentos de alta para vender”, diz Barabach.

Nesse cenário, ficou ainda mais difícil encontrar grãos de maior qualidade no mercado, de acordo com Carvalhaes, do Escritório Carvalhaes. Na semana passada, por exemplo, compradores de café fino, cereja descascado da mais alta qualidade, ofereceram R$ 620 por saca, mas não encontraram vendedores, afirma Carvalhaes.

Thiago Cazarini, da Cazarini Trading Company, diz haver rumores de que alguns compradores pediram para atrasar o embarque de café brasileiro já contratado, em uma sinalização de que haveria nos estoques deles mais café que o necessário. Cazarini confirma que novas compras não estão sendo feitas. “É meio anormal. Pode ter mais estoque ou a demanda estar caindo”.

Archimedes Coli Neto, presidente do Centro de Comércio do Café de Minas Gerais, considera que as exportações brasileiras do grão em 2015 podem ser menores em decorrência da dificuldade de o exportador efetuar compras no país, já que parte dos produtores resiste a comercializar o café.

De qualquer maneira, as incertezas persistem no mercado de café. Uma incógnita é quais serão os efeitos do clima adverso na próxima colheita do grão no país.

 

Fonte: Valor Econômico

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