Visita de comitiva brasileira à Ásia rende frutos ao Agro

Delegação reunida em um dos vários encontros no Japão. Foto: Divulgação Governo Federal

 Japão

 Uma extensa comitiva brasileira esteve nos últimos dias 25 e 26 de março no Japão. Foi uma visita oficial de Estado, durante a qual a delegação presidencial, acompanhada por ministros, parlamentares e empresários avançou muito em negociações favoráveis ao agronegócio nacional.  Especificamente, o segmento da carne bovina, que tenta a abertura do mercado nipônico há mais de 20 anos, esperava voltar da viagem com um cronograma definido dos trâmites a serem cumpridos até que os embarques finalmente comecem.

Com efeito, a determinação do setor se revelou frutífera. O ministro da Agricultura, Florestas e Pesca do Japão, Taku Eto, confirmou o envio de uma missão técnica de especialistas japoneses em saúde animal para avaliar o sistema brasileiro de inspeção sanitária. Esse passo é considerado essencial para a abertura do mercado japonês à carne bovina, além da ampliação do acesso à carne suína, atualmente restrito ao estado de Santa Catarina.

Vitória importante e estratégica diante do cenário internacional

A sinalização de boa vontade dos japoneses animou a delegação brasileira, que considerava a missão difícil, nem tanto pelo objeto, mas pelo momento sensível do comércio mundial.  O Japão teme que a abertura do mercado de carne bovina para o Brasil afete as vendas dos Estados Unidos aos japoneses. Isso pode irritar o presidente Donald Trump, que defendeu a carne americana nos hambúrgueres comercializados no mercado japonês durante visita de Estado em 2019. Agora, com o republicano de volta ao poder e em meio a uma guerra tarifária com diversos países, o contexto fica ainda mais delicado.

O ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, lembrou que todas as condições atuais convergem para as exigências japonesas. Em suas palavras, “O Brasil vai receber, no mês de maio, o status da Organização Mundial de Saúde Animal de país livre de febre aftosa sem vacinação”. A avaliação é de que houve progresso em várias frentes, aproveitando o clima de homenagens mútuas do encontro e da viagem como um todo, que tem os 130 anos das relações diplomáticas entre os dois países como pano de fundo, no contexto do Ano de Intercâmbio e Amizade Brasil – Japão.

Papel determinante da Abiec

O presidente da Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (Abiec), Roberto Perosa, integrou o grupo e estendeu sua viagem à China, para além do percurso programado da comitiva, que incluiu o Vietnã. O Portal SNA o entrevistou em janeiro deste ano. Em comunicado divulgado à imprensa, ele disse que “foi uma reunião extremamente produtiva, marcada por um claro comprometimento do Presidente da República com o setor. O diálogo foi aberto, direto e conduzido com muito respeito. Estamos confiantes de que avançaremos na abertura do mercado japonês”.

Foto: Abiec através de seu presidente, Roberto Perosa, participa da reunião. Foto: Divulgação Governo Federal

Segundo dados da Abiec e do MAPA, mesmo o Brasil sendo líder mundial de exportações de carne bovina não consegue vender para o Japão, que importa US$ 4 bilhões por ano do produto. O país exportou 219 mil toneladas de carne bovina em fevereiro, o maior volume para o mês desde 1997. É o equivalente a cerca de um bilhão de dólares em faturamento. A valorização do dólar ajudou nesse aspecto. Os embarques levam em conta tanto a carne in natura quanto a processada.

Perosa também se disse otimista quanto à vinda da missão técnica japonesa. Em declaração ao Valor, ele disse que a visita deve ocorrer em até no máximo 60 dias. O governo, no entanto, ainda evita fixar um prazo.

Segunda etapa: Vietnã

No Vietnã, segunda e última escala da comitiva, o segmento também teve motivos para comemorar. O governo do país autorizou a abertura de seu mercado para compra de carne bovina do Brasil. Membros do setor de carnes tinham grande expectativa de que as negociações com as autoridades vietnamitas resultariam, de fato, na abertura do mercado. A Abiec  acredita que os primeiros frigoríficos serão habilitados para a exportação em um período de três a seis meses. O método de habilitação adotado pelos vietnamitas não exige visita in loco ao Brasil, apenas o envio de documentações para atender às exigências técnicas, o que pode acelerar o processo, segundo Roberto Perosa.

O mercado vietnamita, fechado para a carne bovina do Brasil desde 2017 por conta dos desdobramentos da Operação Carne Fraca, recebe US$ 4 bilhões em produtos agropecuários brasileiros, conforme dados do Ministério da Agricultura referentes a 2024 Agora, o país pode servir de plataforma para envio da carne a outros países asiáticos, já que consome por ano cerca de 300 mil toneladas do produto.

Consolidada a abertura do Vietnã, a expectativa do setor produtivo nacional é avançar com as autorizações de Japão e Turquia em 2025, afirmou Perosa. A Coreia do Sul é outro país fechado à proteína brasileira, cujas negociações devem demandar mais tempo. Atualmente, o Brasil exporta carne bovina para mais de 150 países.

O presidente Lula, em coletiva de imprensa em Hanói, afirmou ter presenciado a assinatura de um acordo entre o grupo JBS, gigante da proteína animal do Brasil, e as autoridades vietnamitas, visando à construção de uma fábrica no país. A empresa ainda não confirmou essa informação.

Por Marcelo Sá – jornalista/editor e produtor literário (MTb13.9290) marcelosa@sna.agr.br
Com informações complementares do Ministério da Agricultura, Abiec e Ministério das Relações Exteriores
 Agradecimento especial a Bruno Guzzo (Abiec)
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