Vera Thorstensen: Mercosul não acrescenta nenhum ganho ao Brasil

15º aniversário do Centro Brasileiro de Relações Internacionais (Cebri)
“Mercosul é um entrave e isso precisa ser renegociado. Já que nossa prioridade é a América do Sul, que se pense em área de livre comércio para valer”, critica Vera Thorstensen. Foto: Fernando Frazão/ABr

 

“Hoje, o Mercosul é uma camisa de força e precisa ser repensado.” A opinião é da economista Vera Thorstensen, professora e pesquisadora da Escola de Economia da São Paulo, da Fundação Getúlio Vargas (FGV). De acordo com ela, o Centro de Comércio Global e do Investimento da EESP-FGV, órgão que coordena, está produzindo uma série de simulações mostrando que o bloco econômico não acrescenta nenhum ganho ao Brasil, pois existem restrições de tal ordem que engessam o grupo.

“Mercosul é um entrave  e isso precisa ser renegociado. Já que nossa prioridade é a América do Sul, que se pense em área de livre comércio para valer. Ou seja, o Brasil deve ficar livre para fazer os acordos que quiser”, afirma a especialista. “O problema é que o Brasil está se deixando usar pela falta de vontade da Argentina para caminhar. Ele precisa tomar a dianteira e negociar novos acordos e deixar a Argentina acompanhar se quiser. Os acordos modernos permitem um acordo-quadro e arranjos diferentes para cada parte.”

Vera ressalta que no governo Fernando Henrique Cardoso, além da Organização Mundial do Comércio (OMC), a estratégia era negociar acordos com os Estados Unidos e com a União Europeia. Salienta ainda que durante os últimos dez anos, desde o incio do governo Lula, a prioridade do Brasil foi alterada e passou a ser de negociação apenas no foro multilateral – somente na OMC -, deixando em segundo plano parceiros fora da sua região.

“Hoje, olhando para trás, considero que perdemos uma grande oportunidade. O Brasil devia ter dado os primeiros passos, feito um acordo menos ambicioso que liberalizasse o comércio aos poucos”, diz Vera. “Era difícil, mas devíamos ter tentado, inclusive, com a União Europeia. O Brasil não quis mais negociar com os EUA e a UE perdeu o interesse.”

Desde então, a opção foi negociar só de forma multilateral. “O que aconteceu? A Rodada de Doha estava funcionando e todos os grandes temas que interessavam ao Brasil estavam lá. Mas, em 2008, veio o impasse da Rodada, a OMC entrou em crise e o Brasil ficou isolado, sem acordos com os grandes blocos”, esclarece.

 

PÓS-CRISE

De acordo com a pesquisadora da FGV, logo após a crise, ao contrário do país, diversas nações países partiram para uma estratégia de fazer acordos preferenciais bilaterais e regionais. Hoje, segundo ela, fala-se em mais de 500 acordos notificados à OMC e cerca de 400 em funcionamento.

“A Europa foi a que mais fez acordos, assim como os EUA. A China e a Índia fazem acordos no seu entorno. Agora, faltam no quadro internacional os grandes acordos envolvendo os Brics (Brasil, Rússia, Índia, e China, além da África do Sul), entre eles mesmos, ou com os grandes parceiros como EUA, UE ou Japão”, cita.

De acordo com ela, isto significa que os Brics ainda não fizeram acordos com grandes parceiros. “Todos os países partiram para acordos preferenciais e o Brasil ficou isolado. O Mercosul tem acordos com o Egito, Israel e a Palestina, troca alguns produtos com a Índia e África do Sul: são 400 produtos de cada lado”, informa Vera. “O Brasil escolheu uma estratégia de se centrar na América do Sul e, hoje, também fala de cooperação com a África. Só que isso não dá dinamismo ao comércio”, critica a economista, reforçando  que o Brasil não ganha negociando em conjunto com o Mercosul e que “precisamos negociar sozinhos”.

 

Por equipe SNA/SP

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